Os nossos olhos, aparentemente frágeis, são um dos órgãos mais resistentes do nosso corpo. Na verdade, na ausência de doença ou traumatismo, é possível manter uma boa visão após os 90 anos, permitindo-nos ler, conduzir, viajar de forma independente ou desfrutar de uma bela paisagem. É, no entanto, importante ter cuidados especiais para chegar a esta idade com uma boa saúde ocular.
São várias as alterações que surgem inevitavelmente ao longo da vida e que estão associadas ao processo de envelhecimento. Algumas começam cedo, como por exemplo a presbiopia ou “vista cansada”. Depois dos 40 anos é normal haver uma dificuldade em focar objetos próximos. Quem sempre viu bem até aí sem necessitar de óculos começa a notar que necessita progressivamente de mais luz e depois que “o braço é curto”. Tem que afastar mais os objetos para os ver com mais detalhe. É uma condição normal e que se corrige facilmente, por exemplo com uns óculos para ler.
Mas é também depois dos 40 anos que algumas doenças oculares se tornam mais prevalentes e que se não forem prevenidas, diagnosticadas e tratadas a tempo podem impedir que cheguemos aos 90 com boa visão. Não é, pois, muito sensato que nos limitemos a corrigir a presbiopia sem fazer uma avaliação com o médico oftalmologista.
O glaucoma é uma delas. Passa despercebido até fases muito avançadas da doença. É também chamado “o ladrão silencioso da visão”. Pode levar a uma perda irreversível do campo visual e por fim à cegueira. É importante fazer exames regulares para deteção precoce e seguir depois rigorosamente o tratamento prescrito pelo médico Oftalmologista.
A catarata, uma opacificação progressiva do cristalino, surge também associada ao envelhecimento. Quando se torna responsável por uma incapacidade significativa para as atividades diárias está indicado o tratamento cirúrgico que permite uma excelente recuperação da visão, na ausência de outras doenças.
A degenerescência macular da idade surge em regra depois dos 50 anos, é mais frequente e potencialmente mais grave cada década que passa. Pode levar a uma perda irreversível da visão central impedindo a leitura, condução ou por exemplo visualizar o rosto de uma pessoa. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento atempado feitos pelo médico oftalmologista, são essenciais para evitar a perda significativa de visão e cegueira de leitura.
Mas há também doenças do nosso organismo que podem afetar os nossos olhos de forma muito grave. São, elas também, mais frequentes com a idade. A diabetes é talvez a mais importante. Pode provocar retinopatia diabética, a primeira causa de cegueira em Portugal na idade produtiva. É necessário prevenir a diabetes, diagnosticá-la precocemente e tratá-la adequadamente de forma a evitar as complicações oculares. O diagnóstico precoce da retinopatia diabética (feito na consulta pelo médico oftalmologista ou no rastreio centrado no médico de família) e o tratamento adequado permitem que se consiga preservar uma boa visão em mais de 90% dos doentes. A hipertensão e a hipercolesterolemia surgem também a associadas a oclusões vasculares oculares com perda grave de visão, muitas vezes irreversível. Quando as estamos a tratar não estamos apenas a fazer a prevenção do enfarte do miocárdio ou do AVC mas também a prevenir um potencial acidente vascular ocular.
Um envelhecimento saudável com uma boa visão após os 90 anos depende pois de um conjunto de atitudes e comportamentos que devemos adotar ao longo da vida, e que incluem: realizar exames oftalmológicos periódicos conforme recomendado pelo médico oftalmologista; consumir alimentos ricos em antioxidantes e vitaminas; não fumar; manter sob controle a tensão arterial, a glicemia e o colesterol; manter um estilo de vida ativo para promover a circulação sanguínea e a saúde geral; diagnosticar precocemente e tratar adequada e atempadamente as doenças que possam surgir ao longo da vida. Ao adotar estes cuidados e ao estar ciente das mudanças e doenças oculares que surgem com a idade, é possível “envelhecer de forma saudável” preservando a saúde ocular e mantendo uma boa visão depois dos 90 anos.
