Os setores da moda e do luxo parecem ser particularmente tradicionais, baseados em trabalho manual e intensivo. Ao mesmo tempo, se olharmos para trás, podemos ver que a tecnologia tem estado no coração da inovação na moda e no luxo há décadas. No século XX, e especificamente desde meados da década de 1960, a moda evoluiu do feito à medida para o pronto a vestir.

Este movimento de industrialização foi possível pelo desenvolvimento de máquinas e tecnologias e pela evolução dos modelos de negócio, que tornaram a moda num caso exemplar de inspiração para as melhores práticas de inovação. A Benetton foi a primeira a implementar um processo de diferenciação retardada, possível devido aos métodos tecnológicos sofisticados de fabrico. O modelo único da Zara também se baseia no uso intensivo da tecnologia para monitorizar vendas de produtos e rapidamente fabricar produtos para reabastecimento.

No século XXI, ocorreram desenvolvimentos tecnológicos adicionais em fases diferentes da cadeia de valor. Em termos de criação, as tecnologias de design simplificaram o processo e reduziram os prazos de entrega. Por exemplo, o design 3D permite uma melhor visualização, prazos de entrega mais curtos e menores custos de elaboração de protótipos. Estas tecnologias também permitiram que o cliente final seja envolvido na personalização dos seus próprios produtos (na Nike e na Adidas existe agora a personalização em massa do calçado). Em relação às tecnologias de fabrico, a impressão 3D está a ser usada por Iris van Herpen (em colaboração com o MIT Media Lab) para fazer vestidos com um visual futurista!

Por último, o comércio a retalho de moda e artigos de luxo evoluiu drasticamente, com novos modelos de negócio e intervenientes apenas possíveis por causa das tecnologias digitais. O Stitchfix é um serviço de styling que envia aos clientes caixas cheias de produtos recomendados que eles podem comprar ou devolver. Através de grandes volumes de dados e algoritmos, o Stitchfix melhora os produtos recomendados… e está agora a desenvolver os seus próprios produtos. A plataforma Farfetch dá às lojas uma janela para o mundo que não seria possível sem tecnologia! Outro exemplo notável é a Chic by Choice, que disponibiliza o aluguer de vestidos de noite, um novo modelo de negócio de artigos de luxo que abre novos mercados e clientes para os produtos de luxo.

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Finalmente, atores totalmente novos estão a entrar no mercado, como é o caso da The Blonde Salad, da blogger Chiara Ferragni, que começou como influenciadora e hoje em dia está a ganhar um papel importante no retalho, com receitas superiores a 8 milhões de euros.

A moda e o luxo são uma inspiração para outras indústrias que ilustram que é possível mobilizar tecnologias para preservar e fortalecer a tradição, ao nível da criação e do design, do fabrico ou do retalho. Os outros setores devem olhar para estes desenvolvimentos fascinantes do mundo da moda e do luxo!

Professora Associada da Católica Lisbon School of Business & Economics