Estamos cansados de ouvir falar em saúde mental, mas mais cansados ainda de não ver quaisquer alterações. Estamos cansados de ouvir falar da importância da sua preservação e na premência da sua consciencialização, mas de vermos estagnadas todas as possibilidades de mudança. Somos a geração mais qualificada de sempre mas a que custo?

Arrisco-me a dizer que esta geração, que é a mais qualificada de sempre, caminha a passos largos para ser a geração menos realizada. A geração mais cansada. A geração que mais sofre com perturbações no foro psicológico, muitas delas provocadas ou acentuadas pela progressão de estudos no ensino superior.

É inadmissível que perpetuemos um ambiente académico onde a saúde mental é deixada para segundo plano. É vergonhoso que a saúde mental de um estudante valha menos do que qualquer elemento de avaliação. É alarmante, e diria mesmo que é uma grave denúncia do nosso sistema de ensino retrógrado e em nada preparado para os desafios do futuro, que 55% dos estudantes tenha reportado um declínio da sua saúde mental.

A pandemia, essa a que tanto gostamos de fazer referência quando argumentos nos faltam, veio pôr a nu a dura realidade que tantos estudantes encaram, todos os dias. Mas e que realidade é esta? Perguntam os menos atentos.

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É uma realidade pautada por uma desumanidade tremenda. Uma realidade onde estudantes hipotecam a sua vitalidade, que lhes é tão característica e inerente – e, consequentemente, todo o seu bem-estar –, em detrimento de um diploma. Uma realidade onde estudantes dia após dia se encontram desamparados nas mais diversas instituições do país, sem que docentes nem reitores se preocupem com as questões que realmente importam.

A saúde mental é um problema urgente. A preocupação com a saúde mental não pode ficar presa nos cartazes de sensibilização nem nas publicações que fazemos em datas especiais ou quando tragédias têm lugar. A saúde mental merece e exige tanto da nossa atenção quanto qualquer outra patologia.

Há que deixar o repto e abrir a discussão! A Saúde Mental importa mas importa também abrir caminho para uma reforma pedagógica. Uma reforma que permita aos estudante verem supridas as suas necessidades e as suas lacunas preenchidas no que às aprendizagens diz respeito. De que vale continuar a insistir num método de ensino que, indiretamente, nos faz adotar uma postura em tudo semelhante à que adoptavam os monges copistas? De que serve insistir num sistema de ensino que sistematicamente dá provas das suas falhas e que não nos prepara para o mercado de trabalho?

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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