É certo que das motivações que levantavam as vozes e moviam as convicções naquele 17 de abril de 1969, no apogeu da Crise Académica, pouco podemos apontar como similar aos desafios com que nos deparamos hoje. Mas à semelhança daquele dia, cresce em nós a necessidade – senão mesmo a urgência – em pedir a palavra e, atrevo-me ainda a dizer, que ao invés de a pedirmos, devemos mesmo exigi-la.

Muito se diz sobre nós estudantes. Que abandonámos as nossas convicções. Que nos deixamos consumir pela inércia. Que mesmo sendo a geração mais qualificada de todas, nos deixamos acalentar e que abandonámos a irreverência que sempre nos caracterizou e as revindicações pelas quais sempre nos demos a conhecer. Mas não. Continuamos munidos da orgulhosa insubordinação – se me permitem – que sempre alicerçou o Movimento Estudantil, das bandeiras que sempre fizemos por erguer e da voz, essa que creem enrouquecida, pela qual sempre nos fizemos ouvir.

Estamos descontentes. Por vermos que tantos como nós veem entraves postos aos seus sonhos. Por encontrarmos complacência na resolução de problemáticas como a Habitação Jovem e as Residências Universitárias. Por testemunharmos carência no que aos apoios concernentes à Saúde Mental diz respeito. Por acompanharmos realidades que para muitos parecem tão distantes, mas que para vários de nós foi viver, na primeira pessoa, a despedida de um amigo que se viu obrigado a desistir porque os pais não tinham como assegurar a sua subsistência. A sua subsistência numa cidade que devia ser para tantos, mas que, a passos largos, caminha para ser de tão poucos.

Estudar em Lisboa não tem de ser, nem pode ser, um privilégio só de alguns. Estudar em Lisboa deve ser a ponto de partida para os nossos sonhos e ambições, deve ser a força motriz que fará da geração mais qualificada de sempre a geração mais realizada de sempre. Mas é apenas com concertação de vontades e com união de esforços que estaremos um passo mais próximos de colmatar todas estas adversidades.

E para isso, continuaremos a insurgir-nos até que nos ouçam e, se necessário for, pediremos a palavra, como fizeram antes de nós. E caso não chegue, cá estaremos para a exigir.

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