Com o final do ano letivo a chegar e a altura de fazer aquela que será uma das mais impactantes das escolhas na vida de um futuro universitário, recai sobre cada um a dúvida premente de onde se irá escrever a sua história nos próximos anos. Uma coisa é certa, a escolha acaba por se concentrar em torno das grandes áreas urbanas como Lisboa e Porto ou passando, no máximo, por rumar à renomada cidade dos estudantes.

O que acontece é que os estudantes vão em busca dos seus sonhos e com eles parte o que dá vida a aldeias e vilas por esse país fora. Aldeias e vilas estas que caminham a passos largos para a desertificação porque muitos saem, poucos ficam e nenhuns voltam.

Basta uma análise dos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística com base nos resultados obtidos através dos Censos 2021 para perceber que na última década, entre 2011 e 2021, Portugal registou um decréscimo populacional de 2%, o que resultou num indiscutível acentuar do padrão de litoralização e, consequentemente, num aumento da desertificação do interior do país.

Mas o país não se cinge – nem pode cingir – a meia dúzia de cidades.

É urgente combater a narrativa de que o interior não tem nada para nos oferecer ou que a qualidade de vida caminha de mãos dadas com as metrópoles. É urgente providenciar a estes territórios, que parecem ter sido esquecidos, a prosperidade e nova vitalidade de que necessitam – e que merecem. É urgente investir em projetos que façam por valorizar o que de melhor existe no nosso país e isto passa, inevitavelmente, por combater a realidade com que hoje nos deparamos, a realidade de um interior abandonado.

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Assistir impávidos e serenos a uma desertificação progressiva dos territórios é compactuar com esta realidade. O interior precisa de nós e todos nós precisamos de um país coeso, colaborativo e precisamos, acima de tudo, de um país que esteja conectado.

Precisamos de apostar na construção de sistemas que promovam a inclusão social e a equidade no acesso a bens e serviços de primeira necessidade, porque viver no interior não tem de ser sinónimo de estar, constantemente, sujeito à incerteza no que ao acesso a cuidados básicos de saúde diz respeito. Viver no interior não deveria ser justificação para que um idoso, uma grávida ou um recém-nascido vejam os seus cuidados de saúde primários limitados por residirem a 70km da unidade hospitalar mais próxima. Optar por viver no interior não deveria condenar os seus habitantes a ser alvo da inflação, por parte de redes de comércio local, apenas porque não existe facilidade para muitos deles de se dirigirem a localidades nas quais tenham acesso a uma rede de supermercados.

Precisamos de reconhecer e desenvolver as potencialidades do interior, de forma a valorizar os seus recursos, e proporcionar a todos os que vivem nestes territórios um nível de vida condigno.

Precisamos de reforçar o acesso às telecomunicações de norte a sul do País porque é impensável que existam, num país que se diz desenvolvido, aldeias às quais a rede telefónica não chega. Precisamos de uma prova mais evidente de que estamos a condenar partes do território à solidão e ao profundo abandono do que a prova de que lhe estamos a retirar as forma de comunicar?

Não podemos deixar que se perpetue a desconsideração que existe para com o interior nem podemos permitir que exista um Portugal esquecido.

No fundo, não podemos deixar que exista uma parte de Portugal abandonada porque, por mais profundo que seja o território, os portugueses não se esquecem de nós e Portugal não se pode esquecer deles.