A Cimeira da Acção Climática, convocada pelo Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, arrancou no sábado com eventos dedicados à participação jovem e culminou na segunda-feira, em Nova York, com uma reunião onde se encontraram os líderes políticos de todo o mundo. Até ao dia 30 de Setembro, decorre seguidamente a Assembleia Geral da ONU, no âmbito da qual estão previstas 630 reuniões oficiais, bem como inúmeros outros eventos à margem e reuniões bilaterais, tendo em vista o encontro de soluções concretas e compromissos relativamente àqueles que são os maiores desafios que o mundo enfrenta.

Por cá, dá-se o acaso de tal ocorrer em vésperas de eleições legislativas – o que deveria reforçar a necessidade de colocar o Clima na agenda e forçar os partidos, da direita à esquerda, a apresentar propostas sérias, ainda que diversas e em consonância com o seu espectro político.

Infelizmente, esta coincidência, que seria feliz se bem aproveitada, tem antes servido para reduzir o tempo de antena dedicado à actualidade internacional, no geral, e à emergência climática, em particular. Infelizmente, também, porque no palco nacional, à parte de declarações vagas e pretensamente sentidas sobre a já denominada “batalha das nossas vidas”, não se tem visto na campanha qualquer enfoque em propostas, nem a generalidade dos programas transmite um real compromisso político com a mesma (a começar, já agora, pela reflorestação do nosso próprio país).

Até certo ponto, é natural. Será natural enquanto os jornais estiverem mais preocupados em noticiar maiorias, em fazer previsões sobre o número de assentos parlamentares e em conjecturar quanto às dinâmicas que daí poderão resultar, do que em comparar programas. E enquanto nos debates a questão climática continuar a ser colocada em tom de remate, sem perguntas concretas quanto às estratégias dos candidatos.

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É natural, também, porque os líderes na verdade não lideram, são liderados: pelas preocupações de quem vota, por aquilo que lhes traz votos, pela pressão pública. Sendo que as alterações climáticas continuam a ser, por cá, uma preocupação da minoria. Uma minoria crescente, é certo. Mas ainda assim, bem aquém da mobilização geral que o tema exige. Porque não basta responder para fins estatísticos que nos preocupamos. É preciso perceber em que é que mudamos, de que é que estamos dispostos a abdicar. Até que ponto nos informamos. E até que ponto exigimos: mais e melhor.

Os pais, que tanto se preocupam (e bem) com a educação dos filhos e em garantir o seu lugar no Mundo, continuam insuficientemente preocupados em assegurar que esse mesmo Mundo subsiste. Talvez por verem essa como uma questão importante, mas não urgente. O pior é que é urgente sim: 2030 é apontado pelos cientistas como o ano em que se atinge um ponto de não retorno, caso nos mantenhamos nesta trajetória. À escala do Planeta e perante a exigência dos compromissos políticos necessários, 2030 é amanhã. Felizmente, os filhos, a quem deixamos essa trágica herança, compreendem-no e começam a indignar-se. A eles se devem protestos à escala mundial e o tom de emergência que o tema, já tarde, adquiriu. E só por isso ainda nos resta esperança.

Acabo como comecei: arrancou a 21 de Setembro a Cimeira da Acção Climática e por isso, por todo o Mundo, ocorrem greves, marchas e manifestações naquele que é o maior protesto contra as alterações jamais organizado – a decorrer de 20 a 27 de Setembro. No dia 20, em que 4 milhões de jovens saíram à rua em mais de 5 mil cidades de 163 países do planeta — vi-me grega em Portugal, para encontrar on-line algo que se assemelhasse a um evento. Mais difícil ainda foi encontrar o evento em si, apesar de ter escolhido aquele que, em Lisboa, me parecia óbvio.

É verdade que os portugueses são pouco de se manifestar (basta olhar para o país vizinho para notar o contraste). Os nossos brandos costumes têm aspetos bons, mas outros em que andam rés-vés a roçar a apatia. Porém, é também verdade que se manifestam quando sentem e que, nessas alturas, saem de casa e são solidários como poucos. Só que para sentir têm que estar informados — e aqui volta o papel fundamental do jornalismo na tomada de consciência da sociedade civil.

Os portugueses saem à rua, se souberem que outros os acompanham. Que a sua ida terá significado, que manifestarem-se fará diferença. Se uma manifestação for fomentada por muitos e falada por todos – mesmo por aqueles que, tipicamente, não são dados a estas coisas.

Numa altura em que o Mundo está em greve pelo clima, pergunto-me onde estão as nossas instituições? Onde estão as mais relevantes ligas e organizações de protecção da natureza, as associações florestais e agrícolas, os partidos políticos, as escolas, as grandes empresas e, finalmente, onde estão as universidades? Onde estão aqueles que têm meios de divulgação e a quem cabe contribuir para que Portugal faça parte de um movimento à escala global?

Este é um assunto de adultos, mas são os mais novos que lhe têm dado voz, organizando-se através das redes sociais. Dia 27, no Mundo mas também por cá, é dia de Greve Climática. Tenhamos coragem de fazer parte: temos responsabilidade, façamos-lhes companhia.

Arquitecta. Urbanista. Especialista em Mobilidade Urbana