Há, na política, uma eterna discussão sobre a Esquerda e a Direita. Muitos vão elencar listas infindáveis de dogmas, teorias políticas e ideologias, que permitem classificar os dois lados e distingui-los. Outros simplificam ao exagero e definem como uma luta entre os bons e os maus. E outros ainda, absurdamente, definem o tema através de supostas classes sociais estanques, colocando os “burgueses” à direita e os “trabalhadores” à esquerda, sendo impensável um empresário de esquerda ou um trabalhador fabril de direita.
No entanto, há uma realidade que é imutável: a forma como se olha o Homem. Para uma Esquerda tradicionalista, o Homem é bom na sua essência e apenas precisa de ser orientado para que em conjunto se construa a sociedade perfeita; e para a Direita dogmática o Homem merece ser olhado com desconfiança e serem aplicadas regras e controlos que garantam que a sociedade tenha harmonia e crescimento.
Olhando para esta base, concluo algo que me incomoda: não se pensa verdadeiramente no Homem. A Esquerda, defensora da inexistência de elites, cria a sua própria elite para poder decidir quais as melhores opções para todos; e a Direita assume uma superioridade moral sem base real, onde a já existente “elite” garante o melhor rumo para todos. Ou seja, na prática, Esquerda e Direita preocupam-se com as suas elites e não com o Homem, podendo mesmo arriscar que o que deveria ser um fim e um objetivo maior, não passa de um instrumento usado e manipulado para manter o poder nas tais elites morais e ideológicas.
A verdadeira Igualdade
Se nos sentarmos à mesa com dois ideólogos de ambos os lados, vamos ter uma visão diferente do ser humano. De um lado todos os Homens são iguais e, do outro lado, todos os Homens tem direitos iguais, mas bases diferentes. Curioso pensar, que ambos pensam na igualdade, assumindo uma premissa que sermos todos iguais não invalida existirem uns mais iguais que outros – as tais elites. Não obstante esta incoerência prática, prefiro focar-me na base: O Homem.
Acredito na igualdade na nossa essência. Todos nascemos, todos somos humanos, todos respiramos e todos morremos. Não me interessa, na essência, a cor de pele, o género, a genética ou a origem. Esta essência deveria garantir-nos direitos iguais aos olhos do Estado e da Sociedade. O direito à liberdade, à dignidade, à justiça, ao ensino, à saúde e à segurança, são irrefutáveis e não deverão ter discussão.
Podemos debater se alcançámos todas estas igualdades. Na minha opinião, perante o Estado e a Sociedade não temos sucesso quanto à dignidade humana, mas sobre isso falarei adiante. O que me importa, nesta parte é analisar o conceito de igualdade. Porque se por um lado, deveria ser transversal, a base da igualdade, por outro, é indesmentível que não temos todos as mesmas oportunidades, e se existe algum entrave ao alcançar da igualdade é exatamente essa falha no acesso aos mesmos caminhos e elevadores.
Assim, não me revejo na diabolização dos dois lados políticos, e na conclusão, absurda, que só um dos lados quer o bem do individuo. Qualquer democrata e humanista quer trabalhar para a construção de uma sociedade mais justa, mais inclusiva e mais igualitária, tendo para isso caminhos diferentes e visões de Estado distintas.
Como conclusão, quero afirmar que somos todos iguais na essência, mas muito diferentes nas oportunidades e é essa base que me leva à última parte deste artigo e que, acredito, deveria ser a base das preocupações de quem nos governa. A verdadeira igualdade não é nascermos todos iguais, mas sim vivermos todos com as mesmas oportunidades.
Elevador Social através da Educação para o Empreendorismo
Esqueçam as ideologias, os dogmas, as palavras proibidas ou todos aqueles disparates sectários onde quem empreende é um explorador e quem não o faz é explorado. Esqueçam tudo isso e olhem para as pessoas como um objetivo e não como um instrumento. Como afirmei anteriormente, a verdadeira igualdade vive-se através do benefício das mesmas oportunidades e dando ferramentas que permitam a todos ser livres, autónomos, dignos e capazes de construir um mundo verdadeiramente inclusivo, igualitário e sem barreiras sociais.
Os protestos dos professores, que atualmente nos invadem (e nos sensibilizam) diariamente, são o reflexo de um sistema podre e destruído e, permitam-me que escreva sem rodeios, esse mesmo sistema é a base da igualdade social. Não há nada que seja mais importante que a educação para criar Homens livres e mais iguais. E se a educação é o verdadeiro elevador social, o empreendorismo são os botões que, nesse elevador, permitem a todos ascender a outros pisos diferentes daqueles que a lotaria do nascimento inicialmente lhes atribuía.
A Educação para o Empreendorismo é, habitualmente, reduzida ideologicamente a uma forma de ensinar a construir empresas. Isto é algo que dá imenso jeito à tal Esquerda que cola os empresários e empreendedores a uma franja que é inimiga dos trabalhadores e como alvo a abater por quem, por infortúnio da vida ou causas claras, mas nunca assumidas, não conseguiu alcançar os sonhos que criou para si mesmo. No entanto, a Educação para o Empreendorismo é muito mais que isso e não se esgota nas competências para criação de negócios.
Convido-os a olhar para o empreendorismo como a base para a autonomia do individuo, um conjunto de valências que permite ao Homem ser verdadeiramente livre, capaz e conhecedor, adquirindo uma série de competências sociais e conhecimentos financeiros cruciais para todo o seu desenvolvimento e crescimento. Começando por Cidadania Ativa, passando pela Inovação, Sustentabilidade, Modernização, Cultura Digital e terminando na Literacia Financeira, a Educação para o Empreendorismo cria uma igualdade entre Homens criando primus inter pares onde existia um fosso social e cultural.
A censura ideológica e uma solução para o País
Permitam-me começar esta última parte com uma questão, partilhando primeiro duas premissas. Existe uma crítica permanente (e em parte verdadeira) que os nossos empresários não têm conhecimentos técnicos para dirigir as empresas. Adicionalmente, o empreendorismo é reconhecido como importante para o desenvolvimento individual e coletivo pelas universidades, instituições públicas internacionais e instâncias políticas. Olhando para estas premissas, como é possível que não existam políticas públicas que promovam a implementação de programas de educação para o empreendorismo na escolaridade obrigatória?
Os conteúdos da Educação para o Empreendorismo estão incluídos na disciplina de Cidadania como facultativos, levando a que num universo de 71.823 professores inscritos em ações de formação contínua, apenas 185 participaram em ações no domínio do Empreendorismo. Isto representa 0,26% dos professores. Adicionalmente, o Referencial de Educação para o Empreendorismo continua na gaveta agradando à Esquerda, mas hipotecando o futuro do país.
Não deixa de ser hipócrita ver o Governo a apoiar hubs de start ups, projetos de unicórnios e incubadoras, mas depois não ver na Educação uma base para tudo isto. Estamos a apoiar o que? Das duas uma, ou estamos a apoiar pseudo empreendedores mal preparados ou a fazer toda uma estratégia à medida de estrangeiros, que são muito bem-vindos, mas que num enquadramento destes ajudam a aumentar ainda mais as desigualdades.
Olhando para autores como Francisco Banha, o pai dos Business Angels em Portugal e estudioso desta área, podemos constatar que os reduzidos números de estudantes expostos à Educação para o Empreendorismo apresenta-se como uma barreira concreta ao desenvolvimento do ecossistema empreendedor em Portugal. E se isto me preocupa, confesso que a minha preocupação maior se prende com a ausência de capacidades que permitam aos jovens portugueses viver em verdadeira igualdade.
Termino com uma alusão a algo que muitas vezes oiço. É natural um filho de advogados ser advogado porque cresce numa casa de livros, estímulos e cultura. Porque devemos condenar o filho de um pedreiro amputando-lhe o acesso a esses livros, estímulos e cultura? Porque será que interessa tanto aos lados da política manter esta ilusão de estarem a fazer realmente algo, enquanto continuam a dividir os jovens e a fomentar guetos sociais e culturais? Tenhamos a coragem de rasgar a censura ideológica, tenhamos a coragem de colocar o Homem no centro das nossas preocupações e de assumir de uma vez por todas que uma sociedade com desigualdade é uma sociedade falhada e que esse valor não é de Esquerda nem de Direita, é Humano.
Uma verdadeira sociedade inclusiva e igualitária não é uma sociedade de pronomes ou de atropelos ao português, porque se mudarmos apenas as palavras continuaremos uma sociedade onde passamos a escrever “todes” mas o “todes” continuará a ser pobre e descriminado no acesso à sua dignidade humana. Tenhamos a coragem de lutar para que TODOS sejam dignos, livres e capazes, e olhemos para o futuro a pensar nos outros e não no usar os outros. Essa seria uma verdadeira revolução, a educação é a verdadeira revolução, a Educação para o Empreendorismo é o caminho para a verdadeira igualdade.