O anúncio, a semana passada, do novo programa de Governo para combater o problema da habitação pode ter chocado uma grande parte da população portuguesa, mas não pode, em consciência, ter surpreendido ninguém. Esta versão marxista de António Costa é um formato bastante presente na governação desta maioria desde o dia da sua eleição. Parece-me claro que Costa não queria este mandato e não queria governar em crise. No entanto, um partido em busca de um sucessor e com divisões internas marcadas e profundas, bem como a necessidade de alimentar uma esquerda fragilizada, levou a um agudizar de uma estratégia que já lhe tinha valido a vitória nas últimas eleições.

O Medo – esse aliado perfeito

Quem estuda o fenómeno de controlo de massas, chegará à conclusão, histórica e científica, que o medo é o melhor instrumento de manipulação do Mundo. Maquiavel escreveu na sua famosa obra O Príncipe que “os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha. “

O teste foi feito durante a pandemia, onde países inteiros foram controlados pelo medo, aceitando regras e imposições que lhes castravam a liberdade, sem questionar as bases científicas ou outras. Não está em causa a gravidade da pandemia, a necessidade de salvar vidas e a angústia de ter de tomar decisões sem conhecimento ou um histórico que pudesse servir de guião. Milhões de pessoas estavam a morrer e era preciso conter essa tragédia. Isso não invalida que a base fosse o medo e isso viu-se na comunicação dos governos, na forma como telejornais eram alinhados e como as decisões eram impostas.

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O resultado foi uma enorme lição para os políticos que tinham em Maquiavel a teoria e nestes dois anos um excelente caso prático: o medo torna as pessoas irracionais. Essa irracionalidade leva alguns a um extremar da sua religião e crenças, mas, acima de tudo, faz algo que a Esquerda deseja desde a revolução soviética de há mais de 100 anos: o desejo inconsciente de uma dependência do Estado.

Quando há um ano António Costa ganhou a maioria absoluta ganho-a em coligação com o Medo. Costa tinha uma estratégia na campanha: o fantasma do Chega. A estratégia foi usada até à exaustão e permitiu a um governo fragilizado, e a uma esquerda enfraquecida por uma geringonça que não soube lidar com a crise energética, inflação e guerra, ganhar a uma direita retalhada. O primeiro ministro demonstrou a todos que era impossível uma coligação de direita sem o Chega e que isso significaria o regresso do fascismo. Os fantasmas de Abril foram recuperados, aumentados e difundidos e de repente parecia que a solução era entre os salvadores do Partido Socialista e os fascistas do Chega. Mais uma vez, os humanos não defraudaram e o medo fez o resto.

Governar em crise – não obrigado!

A estratégia seria quase perfeita não fosse o facto de o país e o Mundo estarem efetivamente numa crise profunda. E se o PS não gosta (e não sabe) governar sem dinheiro, ainda pior ficou porque sem geringonça teria de passar a governar com contestação nas ruas. Tudo parece estar em greve em Portugal, incluindo o bom senso, e Costa, na sua melhor versão de animal político, viu-se forçado a voltar à estratégia que lhe deu a maioria.

Antes de vermos em detalhe como se concretizou esta nova vida do nosso Primeiro Ministro, permitam-me fazer um resumo rápido deste percurso desde as eleições. A crise energética e inflacionista iniciada em 2021, e que só foi reconhecida pelos nossos governantes já a meio de 2022, agravou-se e arrasou a capacidade financeira dos portugueses. Se primeiro se sentiu nos combustíveis e nos preços da energia, rapidamente se sentiu nos preços alimentares. Curiosamente, ou não, o consumo não abrandou e Portugal continuava “em festa”. Os socialistas gabavam-se de crescimentos extraordinários e os portugueses acreditavam e continuavam “a jantar fora às sextas-feiras” como se não houvesse amanhã – e infelizmente para alguns, provavelmente, não vai haver. Com os combustíveis aos níveis de 2021, as famílias anunciaram que não estavam a conseguir pagar os alimentos e lá se inventaram uns apoios extraordinários, mas sem nunca se assumir que o tema não terminava naquele mês. Foram importantes? Claro. Resolveram alguma coisa? Claro que não. E, finalmente, veio a inflação – a tal que já todos estávamos a ver desde Agosto de 2021 e que António Costa e Medina só viram agora porque até ontem era conjuntural e ia rapidamente desaparecer.

Com a inflação vieram as expectáveis subidas dos juros e a corda rebentou. De repente, os portugueses perceberam que o crescimento económico (o tal milagre do Costa) era só no Excel do Governo e que as suas contas estavam vazias. As idas aos supermercados e a renda da casa paga ao banco fizeram soar os alarmes e as máscaras caíram. E assim, o flagelo da habitação, que durante sete anos (seis em governação de uma “grande esquerda unida”) não teve qualquer importância, nem medidas de apoio relevante, torna-se o grande desígnio nacional de salvação e ao mesmo tempo a porta de saída que Costa deseja há mais de um ano.

Um projeto (vazio) para a Habitação

O pacote legislativo que foi colocado em discussão pública por António Costa, devia ofender quem realmente sofre com este problema e preocupar quem olha para Portugal com a consciência que, apenas com crescimento económico e captação de recursos se consegue superar uma crise e devolver aos portugueses a vida que anos de erros acumulados lhes retiraram.

Começando pela base de tudo: a oferta. Acredito que todos concordamos que o grande problema resulta de uma oferta insuficiente para as necessidades das pessoas. Durante os últimos dez anos Portugal tem vindo a assistir a uma diminuição assustadora no número de fogos habitacionais novos construídos. Não se constroem casas novas e isso resulta de um conjunto de fatores, aos quais câmaras municipais e governo central não são alheios. O que faz António Costa perante isto? Resolve os constrangimentos burocráticos à construção? Cria oferta pública, investindo em construção social? Não! Decide aprovar a conversão de imóveis de comércio e serviços para uso habitacional, algo que terá um impacto residual, ou mesmo nulo.

Ainda com o objetivo de aumentar a oferta, o Estado socialista decide avançar ideologicamente para um Estado que, não só intervém na economia como se torna um ator principal, numa versão moderna de comunismo “pseudo-social”. O Estado passa a arrendar para depois subarrendar, algo que, com a quantidade de imóveis que o próprio Estado detém não precisa de fazer. Bastaria arrendar os que já estão na sua carteira de “investimento”. Esta medida apenas pode beneficiar os “amigos” do Partido Socialista que precisam de arrendar uns imóveis sem risco e escolhem o governo como inquilino. E já que estamos numa lógica de agência imobiliária pública, porque não colocar em cima da mesa a isenção de mais valias nas vendas ao Estado? Não cheira a negociata?

Chegamos, finalmente, à parte em que António Costa decide atacar as liberdades individuais e o crescimento económico, porque um país de pobres sem liberdade é controlável pelo medo e dependência. Como cresce uma economia limitada como a portuguesa? Através de investimento estrangeiro. E como se consegue isso? Com estabilidade fiscal, estabilidade política e, acima de tudo, com estabilidade legislativa. Ora, que tal atacarmos quem alavanca a nossa economia, criando, através dos seus investimentos, postos de trabalho, produção nacional e crescimento económico. É, de forma muito eficiente, um passo enorme no empobrecimento do país e dos portugueses. E ficamos por aqui? Não! Porque não avançarmos com expropriações e um ataque à propriedade privada? Funcionou tão bem na Venezuela, onde os “donos do regime” enriqueceram e o povo, o tal que o socialismo tenta ajudar, ficou ainda mais pobre, mais dependente e mais enfraquecido.

Claro que podemos concluir que estas medidas nunca irão ver a luz do dia porque são inconstitucionais, porque tem impacto zero ou simplesmente porque são absurdas, mas há algo que ficou demonstrado sem reservas: o caminho da destruição da nossa sociedade está em curso e quem não achou relevante até agora deve mesmo estar atento. O medo do cancelamento, do politicamente correto ou, simplesmente, dos históricos papões não pode continuar a condicionar um povo com mais de novecentos anos de história e que vive na liberdade a sua maior conquista. O problema da habitação resolve-se com oferta pública, com incentivos à oferta privada social e com crescimento económico e não com ataques às liberdades e inconstitucionalidades.

Termino com algo que deveria ser o princípio de todas as discussões políticas: o problema principal em Portugal são os baixos salários. É preciso dar capacidade às pessoas, criar uma geração de profissionais capazes, ambiciosos e geradores de riqueza. De Portugueses que olhem para o Estado como um regulador e não como um Pai a quem recorrem para pedir a mesada para irem beber copos para o Príncipe Real. Este é o momento de Portugal mudar o seu rumo e de uma vez por todas libertar-se do medo e tomar as rédeas do seu futuro.

Afirmei no início que António Costa tem uma coligação com o Chega. Usou essa coligação para ganhar a maioria absoluta. Usa essa coligação para impor medo a uma sociedade que quer controlada. E agora usa essa coligação para alimentar o crescimento do extremismo, destruindo dessa forma a direita democrática e tradicional. Esse medo do fascismo alimenta um PS dividido e um Chega que cresce pelo descontentamento cada vez maior das pessoas. Costa é o maior impulsionador da força do Chega porque sabe que isso destrói a direita democrática.

Se querem ter medo de alguma coisa, tenham medo da pobreza, tenham medo da mediocridade, de se tornarem dependentes e vulneráveis, numa palavra: tenha medo da ditadura!

Napoleão III perdeu a coroa de Imperador quando Paris deixou de ser acessível aos franceses, tal como Costa vai perder o lugar porque Portugal deixou de ser acessível aos portugueses. Esperemos que triunfe a esperança e não o medo. Portugal não precisa de políticos de esquerda a liderar a direita; Portugal não precisa de racismos e xenofobia; os Portugueses não precisam de um Estado do qual dependam; os Portugueses não precisam de viver com medo do passado. Portugal precisa de uma Direita Social, democrática e consciente do presente, orgulhosa do seu passado e com uma visão de futuro. Demos Mundos ao Mundo, está na hora de darmos um futuro aos portugueses.