O que quer dizer a sigla “ESG”?
A letra “E” é de “Environmental”. Dentro do setor empresarial, é necessário pensar no planeta. Temas como aquecimento global, pegada de carbono, poluição do ar e da água, gestão hídrica são enquadrados neste tópico.
A letra “S” é de “Social”. Agora já não falamos do setor empresarial no sentido de empresa, mas sim das pessoas. E neste caso será desde os colaboradores até à população que rodeia a empresa. Perguntas como “A empresa trata bem os seus funcionários?”, “Respeita os direitos humanos?” entram no parâmetro “Social”.
A letra “G” é de ” Governance”. Desta vez teremos de ver a maneira como as empresas são geridas. Se são transparentes e honestas, se são corruptas.
Agora que já sabemos o que quer dizer a sigla, vamos abordar o seu contexto histórico desde a sua criação à sua maior relevância dentro do setor empresarial.
O termo ESG foi introduzido em 2004 num relatório intitulado “Who Cares Wins”, que foi resultado de uma iniciativa liderada pelo Pacto Global da ONU em conjunto com o Banco Mundial. O termo surgiu de um desafio do secretário-geral (da altura) Kofi Annan a 50 CEO’s de grandes organizações financeiras. Kofi Annan pedia soluções sobre como integrar os princípios de ESG ao mercado de capitais.
Embora tenha surgido apenas em 2004, e tendo ganho um maior destaque nos últimos anos, a preocupação de “environmental, social and governance,” não é de hoje. Em 1972 realizou-se na Suécia a Conferência de Estocolmo. Esta Conferência foi a primeira grande reunião organizada pela ONU para resolver e abordar as questões relacionadas à degradação do meio ambiente.
Passados 20 anos, surgiu a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, Brasil. O objetivo principal foi debater os problemas ambientais no mundo. A grande diferença para a Conferência de Estocolmo foi a forte presença de Chefes de Estado, contando com 179 países. Os principais temas abordados foram a mudança do clima, o transporte alternativo, a redução de chuva ácida, entre outros de menor relevância. Como resultado da Conferência, saíram a Carta da Terra e três convenções.
Já depois de ter surgido o termo ESG, ocorreram mais alguns eventos importantes de referir. Em 2006, é lançada a PRI (Principles for Responsible Investment). Estes seis princípios foram desenvolvidos por um grupo internacional de investidores institucionais, refletindo a crescente relevância das questões ambientais, sociais e de governança corporativa para as práticas de investimento. O processo foi convocado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas.
Em 2007, ocorreram dois eventos bastante importante para as ESG, os ODS e o Acordo de Paris. Em Nova Iorque foram aprovados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que abordam várias dimensões do desenvolvimento sustentável e que promovem a paz, a justiça e instituições eficazes. Ainda nesse ano, a União Europeia e os Estados-Membros assinam o Acordo de Paris. O Acordo teve como principais objetivos manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2 ºC em relação aos níveis pré-industriais e empenhar esforços para limitar o aumento a 1,5 ºC.
Em 2019, já mais recente, surge o o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal) sendo uma iniciativa da Comissão Europeia para colocar a União Europeia na vanguarda da luta contra as alterações climáticas e tornar a Europa no primeiro continente neutro em termos de carbono até 2050. Destacar apenas que uma das ideias-chave era o conceito de Sustainable Finance (Finanças Sustentáveis) que implica a integração de indicadores ESG no desenvolvimento de estratégias financeiras e nas decisões de investimento. Curiosamente, nos dias de hoje, o ISG (Instituo Superior de Gestão) tem uma pós-graduação com esse nome. Como podemos observar foi uma das ideias-chave levada mais a cabo e com bastante sucesso no setor empresarial.
Em 2020, o mundo para com a pandemia do Covid-19. O isolamento e o trabalho remoto só vêm enfatizar alguns problemas ESG, nomeadamente a segurança dos trabalhadores, o burnout e o papel da mulher no mundo do trabalho.
Agora que já foi abordado o que é ESG e o seu percurso até aos dias de hoje, podemos perguntar a utilidade desta sigla, no duplo sentido, de que, por um lado o que as empresas ganham a adotar estas medidas, e por outro lado, o que acontece se não cumprirem estas medidas. Em relação aos ganhos, a verdade é que são imensos. Uma delas e das mais importantes, mesmo a nível de publicidade e marketing, é a reputação e imagem para o exterior. As empresas que se dedicam à sustentabilidade e responsabilidade social são percebidas como mais éticas e transparentes. Dessa forma, a adoção de práticas ESG fortalece a reputação e imagem de uma organização perante seus stakeholders, como clientes, investidores e a população. Esse impacto positivo na reputação leva a uma maior fidelização de clientes e colaboradores tal como na atração de novos parceiros e clientes. Outra das vantagens é o acesso ao capital. Nos dias de hoje, um investidor está cada vez mais interessado em investir em empresas sustentáveis que gerem valor a longo prazo. As empresas que implementam as ESG também têm uma maior facilidade para obter financiamento de instituições financeiras.
E existem penalizações para quem não cumpre as medidas ESG? Sim, existem. O caso mais falado foi o da WisdomTree que foi multada pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários) num valor de 4 milhões de dólares por práticas enganosas de fundos ESG. Como podemos observar, o cumprimento das medidas ESG não é apenas uma moda, mas sim algo fulcral para uma empresa que atue nos dias de hoje.
Em Portugal, a implementação destas medidas existe. 8 em cada 10 empresas já têm estas medidas aplicadas. Nas grandes e médias empresas são raras aquelas em que no website não seja abordada as práticas de sustentabilidade e boa governança. As medidas ESG vieram para ficar e serem mais um elemento importantíssimo na criação ou manutenção de uma empresa.