Quando se debate, na Assembleia da República, o Estado da Nação importa, por que não se negligencie a análise da juventude e da educação, duas áreas frequentemente subestimadas, mas cruciais para o futuro do país.

A Educação e o Ensino Superior, que deveriam ser motores de mobilidade social, parecem cada vez mais reprodutores das desigualdades pré-existentes. O abandono escolar após o primeiro ano de licenciatura nas instituições de Ensino Superior públicas voltou a aumentar, fixando-se, agora, nos 11,73%, de acordo com os dados divulgados pelo Portal Infocursos. Estes números confirmam a preocupante tendência de aumento do abandono neste setor.

Para além disso, a Direção-Geral do Ensino Superior revela que apenas 44,4% dos alunos carenciados conseguiram ingressar no Ensino Superior no ano letivo 2021/2022. Infelizmente, estes factos só demonstram que o meio socioeconómico em que cada criança nasce, e em que cada jovem cresce, ainda é um fator altamente determinante no acesso ao Ensino Superior, com apenas 6% dos alunos em cursos de excelência a serem bolseiros.

Durante a passagem pelo Ensino Superior, as grandes desigualdades são particularmente evidentes no alojamento estudantil, que continua a ser o principal problema dos estudantes deslocados. No Porto, um quarto pode atingir facilmente os 500€, mas só o aumento considerável da oferta de camas fará reduzir a pressão da procura e estabilizar os preços. Em 2018, o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior prometeu 18 mil camas, mas estamos em 2024, a menos de 18 meses do prazo de execução, e apenas 1000 foram concluídas.

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No que toca à juventude, somos a “Geração Trinta”. Em 2011, um jovem entre os 25 e os 34 anos com um curso superior recebia, em média,1.570€. Em 2022, esse valor diminuiu para 1.359€. Embora haja cada vez mais licenciados e mestres, a inflação resultou numa perda de 30% do poder de compra, afetando gravemente a qualidade de vida dos jovens. Esta redução no poder de compra impede a emancipação dos jovens portugueses, que, em média, deixam a casa dos pais aos 30 anos. Iniciar um projeto de vida próprio torna-se, portanto, cada vez mais difícil para nós, jovens, com a renda de um T1 no Porto a superar, facilmente, o salário de um jovem graduado. Somos, por esses mesmos motivos, muitas vezes obrigados a emigrar à procura de melhores oportunidades e, como tal, não é por acaso que 30% dos jovens nascidos em Portugal trabalham no estrangeiro.

Só recentemente é que temos observado ações positivas para contrariar este triste fado. Aplaudo a redução dos impostos sobre os jovens, os apoios à compra de casa e o reforço do Porta 65. Estas medidas refletem uma preocupação política com o futuro de Portugal e atenuam a asfixia que todos nós temos vivido. Mesmo assim, a verdade é que os jovens só deixarão de emigrar quando a qualidade de vida em Portugal melhorar, mas tudo isso implica receber melhores salários reais e garantir que a renda de uma casa não consuma 90% do rendimento mensal. E isso consegue-se como? A resposta é simples, mas, aparentemente de difícil execução: com crescimento económico assente em inovação e produtos de alto valor acrescentado, em vez de mão de obra barata, aproveitando, ainda, o talento nacional para fazer o país crescer, ao invés de o deixar sair ao desbarato para estimular outras economias.

Os primeiros sinais estão dados e são promissores, mas falta cumprir-se um Portugal para os jovens. Este é o estado da educação e juventude. Embora preocupante, há uma luz de esperança que me faz acreditar que ainda vamos a tempo de mudar.