Vivemos tempos onde a política, é muitas vezes reduzida a slogans e sound bites, é vista como um palco de confrontos mais do que de ideias. Este fenómeno não é novo, sendo os próprios políticos os que mais cultivam este palco, com interesses próprios e de afastar quem queira discutir as ideias e limitar a entrada de muitos que gostariam de contribuir para uma melhor sociedade, mas que com isso não se identificam, nem se querem expor a si e às suas famílias no meio de teatros que não quiseram participar. Adicionalmente, é um palco que é ainda amplificado pelo ritmo vertiginoso das redes sociais e pela pressão de satisfazer uma opinião pública ansiosa por rápidas soluções e fáceis culpados. A pergunta que se impõe, contudo, é: estamos a construir uma sociedade onde o respeito mútuo e a credibilidade política prevalecem?

O “quanto pior, melhor” – a estratégia de tirar partido do caos para fragilizar adversários – tem raízes históricas, mas nunca se revelou um modelo de sucesso sustentável. Para quem conhece economia e finanças, também conhece a dinâmica das séries longas e de como atividades fugazes que parecem fenómenos espetaculares no momento, quando analisadas numa perspetiva temporal de décadas ou séculos, nada representam graficamente, nem de influência de tendências ou sustentabilidade, sendo quando muito um simples ponto fora do risco de uma linha de grande dimensão. Winston Churchill, ao assumir a liderança britânica em plena Segunda Guerra Mundial, não se limitou a criticar os erros dos seus antecessores. Apresentou soluções práticas e um discurso mobilizador, como é patente na sua famosa frase: “Não prometo nada senão sangue, suor e lágrimas”. Este apelo ao esforço coletivo, mesmo em tempos de grande dificuldade, é um exemplo de como liderar com integridade, focando-se no futuro em vez de explorar o descontentamento momentâneo.

Contrastemos isso com o hábito moderno de “atirar pedras” na arena política, alimentado pela lógica do escândalo. É fácil apontar falhas alheias sem assumir a responsabilidade de propor alternativas estruturadas. Contudo, a história ensina-nos que a política de confronto sem propósito raramente é eficaz a longo prazo. Abraham Lincoln, durante a Guerra Civil Americana, destacou-se pela sua capacidade de promover a união em vez da divisão, afirmando: “O melhor modo de destruir um inimigo é torná-lo seu amigo”. Essa visão exige maturidade política, algo que parece escassear na era do grito mais alto e da manipulação emocional.

Manipular é diferente de influenciar. Manipular é desenhar narrativas que alimentam preconceitos; influenciar é propor ideias que desafiem mentes! Fazer pensar! Questionar o porquê?! A política não é, nem deve ser, um reality show, mas sim um projeto de médio e longo prazo, que exige consistência. É fácil prometer limpezas de corrupção ou expurgos de incompetência – e, claro, há espaço para responsabilização. Porém, a mudança verdadeira raramente ocorre por meio de revoluções súbitas. Konrad Adenauer, chanceler da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, dizia: “Somos todos prisioneiros da geografia e da história, mas podemos ser arquitetos do nosso destino”. Este pensamento reflete a importância de trabalhar pacientemente no terreno, construindo estruturas resilientes. Noutro registo, mas intrinsecamente similar há o famoso sketch do Gato Fedorento “Falam, falam e não fazem nada”, que pode ser entendido que falar é fácil, de facto, mas “arregaçar as mangas”, propor ações concretas e fazer é que é o desafio. E é aí… que aqueles que manipulam narrativas, normalmente mostram que são verdadeiros balões cheios de ar. Por isso, há que lhes colocar a questão sempre que gritam: “expliquem lá devagarinho, como se propõem fazer e façam!”.

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Gritar não é discutir. Acreditar que quem fala mais alto tem razão é ignorar que as grandes soluções para as crises, como a que o mundo enfrentou em Bretton Woods após a Segunda Guerra, surgiram de intensos debates em que a razão e não a emoção prevaleceu. Discutir implica ouvir, ponderar e criar consensos, mesmo quando parece mais fácil ceder ao imediatismo.

Por fim, quem lança pedras, inevitavelmente terá o troco em pedregulhos. Um sistema político em constante estado de ataque interno gera desconfiança e desmobiliza os cidadãos. Respeitar os adversários, trabalhar com seriedade e apostar em projetos sólidos são os alicerces da credibilidade. Quem quer respeito deve, primeiro, dar-se ao respeito – uma lição que o tempo e a história continuam a ensinar. Afinal, a liderança não é apenas um reflexo do presente, mas um compromisso com o futuro.

Será que estamos prontos para esse compromisso? Suspeito que muitos não estarão e muitos não quererão!