Os atores sociais agem no mundo social transformando-o e alterando as suas biografias. Os estudantes, não deixando de ser atores da realidade social, também atuam e sofrem influências desses processos. No caso do mundo educativo este revela-se marcante na formação das suas atitudes e comportamentos. Os contextos educacionais contribuem para a construção das suas trajetórias, perfis e projetos, possibilitando uma articulação de gostos e perspetivas pessoais com condições sociais, tais como a idade, o género, a etnia, questões de classe e de sexualidade, entre outras, que enquadram a criança e o jovem num tempo e num espaço e potenciam ou constrangem a sua ação. Estes constituintes que definem as condições de vida dos estudantes dão-nos abertura para interpretarmos estes sujeitos como “peritos sobre a sua própria vida e bem-estar” (Mason & Danby, 2011, p. 185). Por isso, quando os estudantes escolhem um curso de ensino superior estão a invocar as suas visões do mundo e os seus estilos de vida, trazendo-os para as complexidades e os enredos dos mundos social e educativo.

Sobre estes estudantes de ensino superior que selecionam os respetivos cursos, Tavares (2011) defende que estão implicados em processos de obtenção de informações sobre a realidade, de composição de motivações e expectativas e de socializações com outros significativos, nomeadamente a família e os grupos de pares.

A posse de informações parte do pressuposto que o estudante é um agente racional e tem algum conhecimento das alternativas existentes (sendo que ele é também quem decide sobre que alternativas são essas).

As expectativas são construídas no processo de opção pelo curso e têm que ver, não só, mas também, com aspirações e motivações.

Por sua vez, as motivações podem ser intrínsecas, se baseadas, por exemplo, no gosto pessoal do curso ou na aprendizagem de conteúdos pretendidos, como podem igualmente ser extrínsecas, se circunscritas pelas médias de acesso ao curso, suas saídas profissionais, possibilidades de mobilidade social com o curso ou influência dos pais, restante família e colegas e amigos na escolha do curso.

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Finalmente, o capital social e as interações que acontecem dentro e fora do seio familiar, dos grupos de colegas e amigos e de outras instituições sociais concorrem para a formação de experiências que não são neutras na capacidade de influir na seleção de um curso de ensino superior.

Todos estes aspetos estão implicados em maiores ou menores dificuldades dos estudantes em procederem às suas escolhas. Zluhan et al. (2017, p. 214) afirmam que a seleção de um curso por um estudante não é uma tarefa propriamente simples, sobretudo porque feita numa altura em que “o sujeito passa por vários conflitos emocionais, mudanças físicas, dúvidas e paradoxos, […] multiplicidades e pluralidades que integram o mosaico juvenil”. Esta ideia relaciona-se com a maturidade psicológica do estudante, a qual diz respeito ao “grau de desenvolvimento afetivo e cognitivo que um indivíduo alcançou para lidar com as tarefas de desenvolvimento vocacional” (Soares et al., 2018). Indivíduos com maior maturidade psicológica terão, à partida, maior perceção das suas capacidades e melhores aptidões para enfrentar o curso.

É, portanto, neste sentido aspiracional que podemos admitir que os estudantes, ao optarem pelos seus cursos, procuram um bem-estar, não somente durante a experiência do curso, mas também após a mesma. Um bem-estar educativo, político e socioeconómico – melhor relação e integração familiar, emprego mais qualificado, maior poder económico, vontade de maior participação cidadã e de intervenção social, etc.) – para uns, como para outros poderá fazer sentido também acrescentar, por exemplo, um bem-estar associado à proteção ambiental – ação e colaboração na proteção do meio ambiente. Um bem-estar que possa, enfim, ser agregador e preparar, de forma técnica e cidadã, os jovens para um futuro repleto de desafios heterogéneos.

Referências bibliográficas

Mason, Jan; Danby, Susan (2011)Children as expertsintheirlives: child inclusive research. ChildrenIndicatorsResearch, 4(2),pp. 185-189. S/doi.
Soares, Adriana Benevides, Souza, MarisangelaSiqueira de, Monteiro, Marcia Cristina, & Wolter, Rafael Moura Coelho Pecly (2018). Concepções de estudantes sobre a maturidade para a escolha da graduação em Psicologia. Estudos e Pesquisas Em Psicologia, 18(3), 755–772.
Tavares, Orlanda (2011). As escolhas dos estudantes no acesso ao ensino superior: processos e racionalidades (Volume I). Repositório aberto da Universidade do Porto [s/ link].
Zluhan, Mara Regina, Vanzuita, Alexandre, & Raitz, Tânia Regina (2017). Da Modernidade À Pós-Modernidade: Experiências E Significados Juvenis. Reflexão e Ação, 25(1), 198.