Qualquer cidadão que viaje pela Europa constata uma grande diferença entre a esmagadora maioria dos países europeus e Portugal: a ferrovia. Adorada por essa Europa fora, abandonada durante décadas em Portugal.

Enquanto em Portugal se discutia a construção ou não de uma linha de TGV, Espanha construiu uma das mais completas e invejadas redes de alta velocidade do mundo. Enquanto Portugal, até 2015, encostava material circulante para obtenção de peças, fechava-se linhas e investia-se na rodovia, por essa Europa fora construiu-se uma rede ferroviária que permite (por exemplo) que o governo Francês proiba viagens de avião de curta distância no seu território.

O ganho é claro para o ambiente, para a coesão e desenvolvimento territorial e para a qualidade de vida das pessoas. Estes ganhos são de especial importância num país tão assimétrico.

Nos últimos anos muito se fez em Portugal: decorre a maior obra ferroviária em 100 anos (Linha de Évora), recuperou-se mais de 80 unidades de material circulante que estavam encostadas e canibalizadas (enquanto até aí se pagavam milhões à Renfe em aluguer de material circulante), eletrificaram-se linhas (Minho, Beira Baixa, por exemplo) e lançou-se a maior compra de sempre de comboios da CP.  No entanto, um desinvestimento de décadas não se recupera em anos e é por isso que este tem de ser um desígnio nacional: dotar Portugal de uma rede ferroviária que ligue todos os distritos e que se ligue à extraordinária rede ferroviária de alta velocidade de Espanha.

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Existe história, existe conhecimento, existe paixão nos trabalhadores deste setor e existem fundos europeus para a ferrovia. Um dos “cheques” mais avultados está em causa se o concurso para a alta velocidade não for lançado em janeiro. São mais de 1000 milhões de euros que permitirão estreitar distâncias (como, por exemplo, Porto-Lisboa em 1h15 e Coimbra-Braga em 1h18). Face a atual situação política o governo pede a concordância do principal partido da oposição para o lançamento do concurso, evitando a perda deste enorme volume de cofinanciamento europeu. Infelizmente a resposta não foi um rápido e convicto sim, mas um vamos lá ver que temos de pensar.

A Ferrovia não merece apenas destaque nos programas eleitorais, deve lograr destaque nos programas eleitorais pelo facto de ser um investimento de médio e longo prazo, investimento avultado, mas principalmente pelo que representa em ganhos sociais, económicos e de qualidade de vida das pessoas.

Portugal precisa que a Ferrovia continue a ser uma aposta, com ambição renovada, com decisão em vez de hesitação, com ambição no lugar da inércia. A Ferrovia tem de ser um desígnio nacional.