Lembram-se da corrida do ano passado, que muito provavelmente foi uma das melhores da temporada? Então esqueçam que este foi apenas mais um dia igual àqueles a que o GP de França já nos tinha habituado. Mesmo assim, ficam aqui os melhores e os piores do menos interessante GP de F1 até ao momento.

Charles Leclerc (-). Acho que está na altura de deixarmos de sermos brandos com Charles Leclerc. Acho que a altura de termos pena também já passou. Neste momento, devemos só aceitar que este ano o campeonato lhe vai fugir, não por falta de “mãos”, mas por falta de tudo. Falta de um carro competitivo – não pela capacidade, mas pela fiabilidade –, falta de uma equipa que o saiba apoiar e, acima de tudo, falta de estofo. Desta vez, em França, nada estava no ponto de falhar e a única coisa que falhou foi Leclerc. Soube manter Max Verstappen nas suas costas durante 16 voltas e, num momento em que em nada estava pressionado, decidiu ir beijar as barreiras da curva 11. Não foram os engenheiros que falharam, não foi o carro que falhou. Foi ele e única e exclusivamente ele. Talvez os anos depressivos pelos quais a Ferrari passou estejam agora a fazer efeito, porque claramente Leclerc não sabe lidar com a pressão. Mas isso não é estofo de campeão, e esse já vai a mais de 70 pontos. Fica para o ano, ?

Max Verstappen (+). Muito provavelmente já deve estar cansado que as corridas lhe sejam dadas, principalmente aquelas que quase parecem não ser para ele. Mas se não é má estratégia da competição, ou um falhanço do carro da oposição, é um erro do piloto rival. Já deve começar a cansar, e para isso, mais vale correr com uma mão atrás das costas e que seja o que os deuses da F1 quiserem. Aparentemente resulta! França, à semelhança de uma ou outra corrida desta temporada, foi-lhe entregue de bandeja, não por não ter sido competente o suficiente para ganhar, mas porque quem também podia ganhar não quis ou não soube como. É o que é, e à quase saída da primeira metade do campeonato é Verstappen e a Red Bull a sorrir. Honestamente, no final, penso que o sorriso será daqueles que até vão engolir as orelhas. Apostamos já uma mini e um pires de tremoços?

Sergio Perez (-). Foi provavelmente a corrida mais deprimente que Perez fez até hoje. Para começar, foi comido de cebolada no arranque por Lewis Hamilton, enquanto ainda ouvia uma banda de mariachis a tocar no seu cérebro. Depois não foi capaz de ultrapassar a arrastadeira da Mercedes com aquele que é um dos melhores carros da grelha e, para colocar a cereja mais ingrata no topo do bolo mais infeliz, adormeceu e entregou a sua posição a George Russell como um autêntico presente de Natal. Claramente que o sol de França não lhe fez muito bem ao pensamento, mas se é isso que ele acha que a Red Bull precisa, está muito, muito enganado. E atenção! Não estou para aqui a dizer que o Perez não é o ideal para a Red Bull, porque é. Estou apenas a dizer que nos dias em que anda ali a papar sono, é provavelmente dos pilotos mais deprimentes de se ver a correr. Este GP foi um desses e, pelo bem da nossa sanidade, e considerando o resto da temporada, vamos ignorar. Resta-lhe a ele, e apenas a ele, provar que estou certo quando digo que é um dos melhores pilotos para uma das melhores equipas.

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George Russell (-). Este sinal menos vem de uma opinião muito, mas muito pessoal e nada tem a ver com a posição fantástica em que terminou a corrida. É que, numa conversa muito pessoal com a minha pessoa mais querida (isto ainda há uns bons meses atrás), disse que Russell seria um dos pilotos mais odiados da grelha a partir do momento em que fosse para a Mercedes. Não sei se partilham da mesma opinião, mas essa é a minha neste momento. Não por parcialidade em termos de equipa, nem piloto – em que obviamente tenho uma e um – mas porque se tornou num piloto que acha que merece o mundo, sem nunca sequer ter saído daquela pequena casca onde sempre esteve. Consideremos o Russell da Williams: alguém conseguia dizer alguma coisa de mal sobre ele? Eu não! Até digo que era fã, muito provavelmente porque era o “underdog” que conseguia pontuar as suas exibições com pozinhos de brilho fantásticos. Chegado à Mercedes, a única coisa que o vejo fazer é chorar quando ele próprio bate em alguém (o Perez que o diga, já por duas vezes), e culpar os outros por erros que são exclusivamente dele. Não mereceu o pódio em França, e acredito que ele sabe disso, mas no fim de contas, nós sabemos disso e para todos nós é o que vale.

Carlos Sainz (+). Wow!!!! Simplesmente Wow!!! Mas que esforço fantástico! Porra, pessoas, quase que me faltam as palavras para o brilharete que o Sainz nos deu. Ainda agora o meu computador me corrigiu isto para “Sainz nos Deus” e não consigo discordar. Mas que corrida fantástica que Sainz fez, e mesmo quando a Ferrari tentou fazer asneira, foi ele mesmo que tomou as rédeas da coisa e levou a sua avante. Já imaginaram se, num universo paralelo, Sainz deixasse que a Ferrari tomasse as decisões por ele? Eu consigo mais ou menos imaginar isso, e o cenário é apenas deprimente. Mas o homem é feito de um estofo especial. É feito de uma fibra que só aqueles que têm isso nos genes sabem, e Sainz leva isso muito a sério. Tão a sério que, mesmo a sofrer com pneus duros, levou a corrida toda na boa e só não chegou ao pódio porque os períodos de Safety Car não deixaram. Claro que há sempre aqueles que vão dizer que isto é tudo do carro, mas há vozes que não chegam ao céu.

Lewis Hamilton (+). Sentiram saudades, foi? Pensavam que ele tinha morrido, ou qualquer coisa do género? Pois comecem a tirar o cavalinho da chuva porque cada vez mais o piloto de maior sucesso de sempre está a marcar o seu território e mesmo com uma lixeira de carro, que melhorou bastante desde o início da temporada, tem chegado quase constantemente ao pódio. Eu falo aqui muitas vezes na fibra dos pilotos e não sei que mais, mas se há exemplo perfeito de um piloto que é feito de uma matéria especial é Lewis Hamilton. E antes que comecem para aí a atirar petardos, eu nunca fui grande fã dele, mas como pessoa provida de dois olhos e de uma relativamente boa capacidade de análise, sei reconhecer que Hamilton está entre os melhores dos melhores. Se precisarem de mais provas, aposto que será ele a dá-las, mas, por agora, o que ele tem feito com um carro absolutamente miserável é prova suficiente para mim.

Alpha Tauri (-). Se já leram as minhas coisas que estão para trás, provavelmente reconhecem que é aqui que começo a falar das coisas mais deprimentes. Pois em França, acredito que não tenha existido algo mais deprimente que a Alpha Tauri. Depois das duas primeiras sessões de treinos havia tudo para esperar algo especial da equipa italiana com cheiro a austríaco transpirado. É que, parecendo que não, levaram para Le Castellet uma catrefada de upgrades que nos faziam pensar que iam ter uma corrida excecional. O resultado? Tsunoda nem sequer acabou e Gasly andou aos papeis a ver o melhor que conseguia fazer com um carro que lhe foi progressivamente fugindo ao longo do fim-de-semana. Se isso não vos deprime, a mim sim, e não é pouco! É que eu sempre achei que Gasly poderia eventualmente reganhar o seu lugar na Red Bull, mas isso está cada vez mais longe e, parte disso, acaba por ser culpa sua. Afinal não é o piloto que indica a direção da afinação final do carro?

Kevin Magnussen (+/-). Não sei se algum de vocês anda metido nas cenas da Fantasy da F1. Eu, como absoluto fanático pelo desporto, obviamente que criei uma espécie de competição palerma com os meus amigos relacionada com F1. Imaginem lá que toda esta competição entre nós é a valer uma tenda da Decathlon, portanto percebe-se que é coisa séria. Mas mais sério ainda foi o arranque de Kevin Magnussen para o GP de França. Tão sério que acho que ainda não vimos outro de tal calibre este ano. É que ganhar uma mão cheia de posições na primeira curva não é para todos e, particularmente, não é para um Haas! Mas, de resto, acho que ficamos por aí. Aquilo que poderia ter sido uma corrida perto do genial, acabou manchada por um DNF não merecido. É pena, mas isto só indica que o caminho pelas ruas da amargura da Haas está muito perto de acabar e, já que estou em espírito de apostas, também sou capaz de meter o meu dedo mindinho da mão esquerda em jogo e dizer que a Haas, na próxima temporada, estará a lutar por lugares bem mais cimeiros.

Lance Stroll (-). Tinha tudo para ter sido uma corrida boa para Stroll. Tinha tudo para ter sido um dia marcado apenas por coisas boas. Boas ultrapassagens, boas defesas, uma corrida consistente e tudo o mais. Mas não foi. Não foi pelo simples facto de que Lance Stroll tem mau perder. Tão mau que o pai teve de comprar uma equipa para ele não perder o lugar na F1 e isso, para mim, não é mais do que coisa de bebé chorão. Se não viram o que ele fez na última curva da corrida, vejam. Depois podem vir falar comigo que eu tenho todo o gosto de explicar o porquê da minha frase seguinte, que é apenas e só direcionada a Stroll: moço, és um porco.

Zhou Guanyu (-). Não tenho muito mais a dizer. Ouçam apenas a “Fix You” dos Coldplay e entendam o que se passou com a corrida do Zhou. Há poucas alturas em que as palavras me faltam, mas vá, existe sempre uma música para ajudar.

Nota: Nuno Freitas Faria escreve em conformidade com o acordo ortográfico que estiver mais à mão e as suas opiniões mudam e vão mudar de corrida para corrida.