Não raramente, quando caminho pelas ruas, vejo adolescentes e jovens adultos com sacos de pano ao ombro, decorados de forma mais ou menos personalizada, que transportam os seus pertences e compras do dia. As chamadas “tote bags” são uma tendência que parece ter vindo para ficar. E o mesmo se poderá dizer, por exemplo, das garrafas de água reutilizáveis, disponíveis numa variedade crescente de formas e feitios. Ambos os objetos são, sem dúvida, opções esteticamente agradáveis. Um saco estampado com o logótipo da nossa banda preferida e uma garrafa da nossa cor predileta são mais trendy do que os respetivos homólogos em plástico. E não só. São, também, mais sustentáveis – uma palavra que é, por si só, uma tendência, mas cujo peso não pode ser mitigado quando uma produção média anual de 430 milhões de toneladas de plástico continua a ser possível.
Este mês, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente divulgou o relatório Fechar a Torneira: Como o mundo pode acabar com a poluição por plástico e criar uma economia circular, que inclui orientações para promover a redução da poluição por plástico em 80%, até 2040. O ano 2040 parece uma realidade remota. Na verdade, está a 17 anos de distância. A mesma distância a que nos encontramos do ano 2006, que, aparentemente, não foi assim há tanto tempo.
O tempo voa e a emergência climática não espera. Reduzir a poluição por plástico em 80%, em menos de duas décadas, implica ação imediata e integrada por parte de agentes globais e locais. E no contexto local, cada um de nós terá, igualmente, a responsabilidade de agir.
De acordo com o relatório, “reutilizar, reciclar, reorientar e diversificar” são as mudanças necessárias para criar uma economia verdadeiramente circular. E o que é uma economia circular (outro termo tendência que não pode cair na insignificância)? É um modelo de produção e de consumo no qual o ciclo de vida dos produtos é alargado, através do reaproveitamento dos próprios produtos ou dos materiais que os compõem. Ou seja, voltando às nossas “tote bags” e garrafas de metal, numa economia circular, estes objetos são utilizados durante um longo período, em substituição dos tradicionais sacos e garrafas de plástico, dispensados após uma utilização.
O mesmo relatório refere que 30% da poluição por plástico pode ser reduzida através da reutilização dos produtos, dando preferência a garrafas que podem ser cheias múltiplas vezes e a sacos reutilizáveis, ou desenvolvendo sistemas de devolução de recipientes após a utilização. Isto significa que, apesar do sentimento de impotência que frequentemente sentimos quando ouvimos falar da emergência climática, os cidadãos podem e devem ter uma participação ativa no modelo de economia circular, enquanto consumidores. Não é razoável, contudo, a expectativa de que todos saibam como o fazer. Os agentes locais, como os municípios, desempenham um papel fundamental na consciencialização da população, relativamente às suas escolhas de consumo.
Não quero, com isto, desvalorizar a contribuição das grandes corporações e conglomerados empresariais para a conjuntura atual. Dados do relatório Plastic Waste Makers Index, divulgado em 2021 e atualizado em 2023 pela fundação Minderoo, indicam que mais de metade da produção de resíduos plásticos é responsabilidade de apenas 20 empresas a nível mundial, pertencentes, predominantemente, às indústrias química e petrolífera. Quero, sim, alertar para o facto – que, no bulício do dia a dia e na profusão da agenda noticiosa, tende, compreensivelmente, a passar ao lado – de que podemos contribuir para a mudança, de forma mais significativa do que aquilo que, à primeira vista, possa parecer.
Quando caminho pelas ruas, e vejo adolescentes e jovens adultos envergando, com orgulho, “tote bags”, não consigo deixar de sentir uma ponta de esperança nas novas gerações, que – ainda que se queixem da falta de praticidade das palhinhas de papel – estão mais conscientes para o impacto dos resíduos de plástico nos ecossistemas. Ainda assim, o caminho a percorrer até vivermos uma economia verdadeiramente circular é longo, e a caminhada não pode ser solitária. Com o apoio da comunidade e dos agentes locais, é possível que cada cidadão, de qualquer idade, compreenda a necessidade de apostar em escolhas mais sustentáveis – ressalvando, novamente, o dever das grandes corporações de viabilizar o acesso a estas escolhas.
E talvez, em 2040, quando os jovens das “tote bags” ocuparem, finalmente, cargos de liderança, seja viável, para a ONU, divulgar um relatório com um tom menos urgente, que reflita as mudanças implementadas hoje. Entretanto, celebremos o dia Mundial do Ambiente com “tote bags” ao ombro, estabelecendo assim, o nosso compromisso individual para a transição necessária. E já agora, que esses “tote bags” sejam produzidos através da reutilização de tecidos pós-consumo. Desta forma evitaremos, em 2040, a discussão acerca do excesso de “tote bags” no Planeta.