Após cada revolução tecnológica segue-se um período de ajustamento da força de trabalho, mudam-se hábitos e adaptam-se métodos de trabalho para atingir um ponto de equilíbrio novamente. Com a inteligência artificial (IA) o mesmo processo disruptivo é repetido. À medida que as ferramentas de IA se tornam disponíveis para empresas, vamos observando como é que estes negócios ganham uma vantagem competitiva, melhoram a experiência dos seus clientes e otimizam as suas operações. Num país onde a produtividade fica aquém do esperado para o seu paradigma (1), usar ferramentas inovadoras que aumentem a eficiência das empresas é um fator decisivo para o sucesso.

Embora a ideia de IA possa ser evocadora de cenários cinematográficos de ficção científica, na realidade, a integração destas ferramentas deverá ser menos espetacular que isso, mas não menos impressionante. À medida que a IA se desenvolve, é integrada em ferramentas que já são utilizadas, contribuindo, desta forma, para que a sua acessibilidade e adaptação aos processos específicos das empresas aumentem exponencialmente. Ou seja, as ferramentas que nos são familiares tornam-se mais poderosas com a integração destas inovações. Por exemplo, ao enviar um email não necessitaremos de escrevê-lo detalhadamente, podendo apenas descrever genericamente o que pretendemos que seja escrito. Outro exemplo prático poderá ser a criação de sumários dos pontos mais importantes,  ao sermos adicionados a uma longa lista de emails.

Para além do aumento de eficiência em tarefas mundanas, também é interessante pensar como podemos aumentar a produtividade dos indivíduos através do uso destas ferramentas. Com a inteligência artificial podemos, por exemplo, permitir que cada colaborador tenha o seu próprio coach, que o ajuda a melhorar continuamente a forma como comunica com os seus clientes e colegas.

Durante o ano passado, vários estudos avaliaram o impacto da IA no trabalho e existem fortes evidências de que os trabalhadores não só se tornam capazes de trabalhar mais rápido, como também melhoram a qualidade daquilo que produzem. Os estudos mostram também que com a ajuda destas ferramentas o intervalo de competências entre a força de trabalho mais e menos qualificada é diminuído, existindo assim um aumento e harmonização de habilitações (2).

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À medida que a tecnologia se desenvolve surgem inovações que vão tornar ainda mais proeminente o uso de IA. Um bom exemplo disso são os Small Language Models, modelos de dimensões menores mas mais acessíveis e eficientes em termos de custo, ou a inteligência multimodal – que, por contraponto à maior parte dos LLM’s, conseguem entender informação de vários tipos como texto, imagem, áudio ou vídeo.

Ora, sendo Portugal um país que, nos últimos anos, se tem destacado no espaço europeu pela falta de produtividade, pensar em soluções tecnológicas é urgente. No nosso tecido empresarial, composto maioritariamente por pequenas e médias empresas, a capacidade de pensar em estratégias de negócio que passem pela implementação e adoção tecnológica é uma clara vantagem competitiva. Isto pressupõe claro, a adoção de uma visão pragmática de como a tecnologia, incluindo a inteligência artificial pode ajudar as operações diárias. É indispensável incluir a inovação e tecnologia na estratégia empresarial, mas também é algo que deve ser feito da base para o topo. Isto é, começar por procurar aumentar a eficiência através da conectividade e infraestrutura, planeamento digital e ferramentas de gestão, conectividade dos trabalhadores e automação e depois sim, olhar para os estudos de caso mais disruptivos  de implementação de modelos de inteligência artificial e como os aplicar à realidade dos negócios em específico.

Embora em algumas indústrias a aplicação destas tecnologias possa ser mais direta que noutras, é consensual que os ganhos de produtividade destas ferramentas de negócio são transversais a qualquer área e que o potencial económico em escala não é de desprezar – e Portugal precisa disso mesmo.

O Observador associa-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.