Não raras são as vezes em que, a meio de um copo casual com um ou outro amigo, falando dos caprichos da nossa vida, acabamos por chegar à mesma conclusão: já reparaste que fazemos vida de adulto sem ter possibilidades para tal? De facto, este desfecho tem o seu quê de verdadeiro.
Analisando o dia-a-dia de um jovem entre os 18 e os 22 anos, a frequentar um curso superior, sentimos à primeira vista um adulto na plenitude da palavra: já guia, vai jantar fora com os amigos, as sextas e sábados estão guardados para copos com a malta, de vez em quando tem a sorte de ir passar um ou outro fim de semana fora, já tem opiniões vincadas sobre tudo, discussões acesas com os amigos acerca dos grandes temas que pautam a sociedade civil.
Até aqui tudo normal. Que adulto não faz exatamente o mesmo, com uma ou outra variável: um carro melhor, um restaurante mais caro, uma opinião mais maturada? No entanto, tal como a moeda de 1 euro que usa para pagar o álcool que bebe no Cais do Sodré, também o jovem adulto tem duas faces. Somos adultos, mas não o somos. Ou melhor, fazemos coisas de adultos sem o sermos. Só temos a fama porque escolhemos o proveito. É nisto que está a nossa mestria, apenas fazemos o que gostamos, o que nos dá jeito. Não há prefixo mais mentiroso como o de (in)dependência.
Somos crescidos para manusear um carro, mas ai de alguma mãe que nos peça para ficar em casa à espera do eletricista, nem sabemos interagir com ele. Olá, Senhor David. Senhor ou Doutor? Senhor ou só David? Sou eu que lhe pago ou já está pago de antemão? Será que ele me vai pedir ajuda?
Adoramos ir ao supermercado comprar cerveja, mas se algum pai pede ao filho para ir ao Pingo Doce comprar coisas para a casa é certinho que recebe uma chamada nos primeiros dois minutos a dizer: Pai, o amaciador do cabelo e o da roupa são o mesmo não são? Pai, a senhora da caixa perguntou-me se tenho cartão poupa mais, o meu do BPI serve, não serve?
Há uma dicotomia nítida plasmada em nós, jovens. De segunda à quinta temos uma idade mental de 15 anos: não sabemos passar a ferro, achamos que aspirar faz o mesmo que varrer, etc. De sexta a domingo somos uns bonus pater familiae, que andamos de carro à boleia uns dos outros e em que já somos esquisitos o suficiente para achar que jantar no McDonald´s é coisa de crianças acompanhadas pelos avós ao fim do dia.
A pergunta que persiste é: quando é que isto acaba? A partir de que momento é que vamos ser capazes de ser adultos de uma forma transversal. De pegar no carro sem medo que o pneu fure e de ficarmos na dúvida onde estão os documentos ou se ligamos ao reboque ou ao seguro. De irmos beber um copo e não recear o dia a seguir, em que temos de ir às finanças ativar um código qualquer.
Há quem diga que é o decurso do tempo que faz de nós adultos e que no dia em que começar a trabalhar, aí é que vai ser. Aí é que começa a verdadeira vida de adulto. Pois bem, lamento dizer, eu já trabalho e ainda não sei como é que hei de falar com o carteiro (cartas registadas até tremo), não faço ideia de como é que se celebra um contrato com uma operadora televisiva, passar alguma coisa a ferro que não calças está para mim ao nível de ciência aeroespacial.
Alguns dirão que expor isto é expor que sou um atado. Não o nego, mas esta característica, como disse, é comum à maior parte dos jovens. Se a culpa é nossa? Sem dúvida. Mas há aqui algo de estrutural que não pode advir só da nossa falta de interesse.
Toca a cada um tirar as suas conclusões, eu aconselho a contactar-se o Ministério da Educação para a criação de um curso em assuntos de crescidos. Mas isso sou eu…
Já agora, alguém sabe como é que se contacta o Ministério da Educação?