Poderão as máquinas dominar o mundo? Numa era pós-humanos, onde as máquinas prevaleçam, estas não serão propriamente seres vivos e terão de ter uma fonte de alimentação, provavelmente renovável. Os seres dotados da sua inteligência, também a nível celular, podem evoluir, adaptando-se. Poderão as máquinas fazer o mesmo?

O mundo evolui com a tecnologia. O progresso da Inteligência Artificial (IA) assenta em várias tecnologias cujo desenvolvimento tem sido exponencial nas décadas mais recentes, e continuará a crescer. A velocidade com que podemos ter acesso a respostas a problemas de elevada complexidade é uma vantagem competitiva. Cientes das necessidades de adaptação ao trabalho, muitos temem pelo lugar que ocupam nas organizações.

Mas calma, sem seres humanos quer a avaliação do comportamento da IA quer a interpretação da resposta podem levar a conclusões precipitadas. Poderão as máquinas substituir o Homem? Serão realmente inteligentes? Tal como tem sido a evolução natural até à data, haverá coexistência e complementaridade entre seres humanos e máquinas, suficiente para nos dar alguma tranquilidade?

Apesar de o debate não ser recente, tem ganho maior ênfase pelas capacidades que a IA nos trouxe. A possibilidade de todos poderem colocar simples questões, “democratizou” a sua utilização. O fenómeno foi impulsionado em particular pelos algoritmos generativos (genAI), como o ChatGPT.

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Esta acessibilidade reforça o paradigma que envolve várias entidades na sua resolução responsáveis pela sua utilização, evolução e regulamentação. Regressam “novas” questões éticas.

Considerando a IA e tecnologias associadas, temos observado a sua utilização maliciosa:

Polarização de opiniões, propagada e sustentada pelas redes sociais.

Desconhecimento de como os algoritmos adaptativos evoluem.

Geração e propagação em massa de informação falsa.

Antes de considerar que a tecnologia é poderosa, há que recordar que a sua base é algo simples, é alimentada por dados com variáveis que incluem o resultado. Assim sendo, a qualidade dos dados dita a validade dos modelos construídos, havendo cuidados a ter na sua recolha e tratamento.

Em algoritmos de apoio à decisão a intervenção humana é fundamental. A (falta de) qualidade dos dados pode provocar o enviesamento da decisão. Por exemplo, se forem usados dados centenários da sociedade, em momentos em que não havia igualdade de direitos e oportunidades.

O consumo massivo de informação de dados que existam na internet pode ainda incluir informação falsa, inclusive se não for acautelada a distinção entre informação científica da que resulta da imaginação de um dado autor. Também as notícias falsas, têm hoje um maior impacto pelo alcance, velocidade e abrangência da sua disseminação.

O desenvolvimento humano, é mais complexo que a programação de uma IA, e está sujeito a um volume imensurável de estímulos e factores externos. Além desta diferença o ser humano é dotado de características complexas próprias: criatividade, mente aberta, emoções e anima. O estado de espírito em que se encontra influencia o resultado de uma criação. Até à data não foi comprovado que uma IA seja dotada de sentimentos.

IA é apenas tecnologia: criada por nós, mesmo que se possa adaptar. É meramente alimentada por dados que são recolhidos devido à nossa existência. Sem provar que há uma IA com consciência, emoções ou anima, não poderá ser considerada uma verdadeira inteligência, pois a máquina não terá acesso a tudo o que o ser humano tem para ser considerado inteligente. Uma IA poderá nunca vir a ter anima, que dá vida ao corpo e abandona-o quando este perece.

Levanto uma nova questão. Imaginando que um dia as máquinas consigam consumir a totalidade da informação registada digitalmente no mundo, por múltiplos seres humanos, com as diferenças que nos definem e nos tornam únicos: como será a consciência dessas máquinas? Sofrerão de esquizofrenia uma vez dotadas de sentimentos e emoções? Quão confuso será ter tantas consciências, quantos os humanos que deixaram uma pegada digital, do real ou do imaginário, numa só “inteligência”?

Impedir o que já está em curso será em vão. De momento, a coexistência entre IA e humanos é real. E como fazemos com todas as tecnologias temos de avançar, tirar o melhor proveito do que a IA nos oferece, regulamentar e fiscalizar. Adicionalmente temos de redefinir o papel humano no trabalho e assegurar o respeito dos direitos de autor. Venham então as máquinas com que sonhámos, que fazem o que não nos satisfaz, ajudam a suprir as necessidades básicas da humanidade, particularmente importante onde tal ainda não é possível. Dêem-nos espaço para sermos criativos, imaginativos, inovadores e fazer o mundo avançar.

Isabel Margarido tem mais de 20 anos de experiência a liderar equipas de desenvolvimento tecnológico na indústria, incluindo 6 de investigação. Obteve o grau de Doutoramento em Engenharia Informática em 2016. Curiosa sobre o mundo e tecnologia, vê-o de uma nova forma desde que foi mãe.

Observadorassocia-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.