Na era de extrema aceleração tecnológica em que vivemos, em que estado de espírito se encontra o cidadão comum em relação à inteligência artificial (IA)?

● Hipótese A: aterrorizado com os robots que, cada vez mais inteligentes, nos vão roubar o emprego e/ou virar-se contra nós;

● Hipótese B: entusiasmado com as inúmeras oportunidades e confiante de que a IA vai resolver todos os nossos problemas;

● Hipótese C: completamente desligado do assunto, porque não é importante para si; ● Hipótese D: assoberbado com informação e ansioso por “FOMO” (Fear of Missing Out), ou em bom português, medo de perder o comboio.

Assinale a(s) sua(s) hipótese(s), com a segurança de que não há opções erradas, e a garantia de que, para todas elas, há uma resposta certa: mais literacia. Felizmente, em Portugal, muito se tem falado de literacia. Discute-se sobretudo literacia financeira, por ser um tópico transversal a qualquer cidadão. A mesma universalidade se aplica, embora de forma menos óbvia, à Inteligência Artificial. Vejamos, desde já, alguns dos sintomas comuns:

medo irracional: tal como a falta de conhecimento e à vontade na área das finanças pessoais nos pode inibir de aproveitar boas oportunidades na gestão do nosso dinheiro, a falta de entendimento sobre IA pode inibir-nos de utilizar nova tecnologia a nosso favor. Um exemplo é o receio acentuado das organizações na adoção da IA, por vezes sem grande racionalidade e sem compreender os riscos verdadeiramente;

resistência à mudança: procurar melhores condições de crédito pode poupar-nos muito dinheiro, mas implica esforço de pesquisa e muita papelada. Incorporar IA no nosso trabalho pode poupar-nos muito tempo, mas implica sair da zona de conforto e eventualmente redesenhar o nosso papel. Em ambos os casos, a mudança provoca desconforto e, consequentemente, resistência;

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simplificação perigosa: em ambos os domínios encontramos discursos simplistas que prometem soluções fáceis e rápidas: seja a defesa da tese de que qualquer pessoa pode atingir a reforma antecipada, basta investir; seja o “hype” exagerado à volta da IA, muitas vezes vendida como uma solução mágica para todos os problemas das organizações.

Por outro lado, conhecimento em finanças ou IA partilham grandes oportunidades:

democratização: se quero investir, já não preciso de um banco porque tenho plataformas de negociação à disposição. Na IA assistimos a uma democratização das ferramentas: já não preciso de um curso de informática para tirar partido de tecnologia e a customizar a meu favor, veja-se o caso do ChatGPT;

potencial transformador: plataformas peer-to-peer (P2P) ou de crowdfunding democratizam o acesso a capital e permitem, por exemplo, financiar a nossa ideia de negócio sem recurso a um banco. A IA permite-nos assumir novos papéis na nossa vida e, quem sabe, concretizar objetivos antes inimagináveis, como criar música, escrever um livro ou aprender a programar;

liberdade: a literacia financeira pode conduzir-nos a uma posição de maior liberdade financeira, isto é, viver menos dependente financeiramente de outrem. A literacia em IA pode ajudar-nos a automatizar tarefas aborrecidas, garantindo-nos mais tempo livre.

Uma vez convencidos das vantagens, eis que até os primeiros passos das finanças pessoais se podem aplicar:

invista em conhecimento: escolha um livro, newsletter ou podcast sobre inteligência artificial para aprender e se inspirar;

● tal como num orçamento listamos todas as nossas despesas, liste as tarefas mais aborrecidas e que lhe consomem mais tempo. Esse será o primeiro passo para as automatizar

● para além do hábito de poupar, crie o hábito de perguntar: experimente cooperar com o ChatGPT nas tarefas diárias

● tal como num portfólio de investimentos, diversifique, experimentando várias ferramentas

Para esta jornada nem sequer temos de começar por pagar as dívidas ou criar um fundo de emergência, muito menos remar contra a inflação. Um voto para a literacia em Inteligência Artificial!

O Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.