A Inteligência Artificial está na ordem do dia, principalmente desde o lançamento, em novembro de 2022, do ChatGPT. Mas de que forma esta tecnologia, que deu os primeiros passos na década de 50 do século XX, impacta a nossa interação com produtos e serviços? Qual a sua contribuição para que estas interações sejam mais inclusivas? Quão presente está realmente a IA na nossa vida quotidiana? Para aqueles que, tal como eu, trabalham na área de UX (User Experience ou, em português, Experiência do Utilizador), este é um momento emocionante para inovar e contribuir para um mundo digital mais inclusivo e equitativo.

A ligação entre a Inteligência Artificial (IA) e a UX tem-se tornado cada vez mais simbiótica. A UX diz respeito à interação entre o utilizador e um sistema, incluindo perceções, emoções e comportamentos, para garantir uma interação intuitiva, eficiente e agradável a todos os utilizadores. Da mesma forma, a acessibilidade digital procura garantir um acesso equitativo a produtos digitais para pessoas com diferentes capacidades, baseando-se no design inclusivo, que visa criar produtos acessíveis a todos, independentemente das suas capacidades individuais.

A capacidade oferecida pelos modelos de IA para analisar vastos conjuntos de dados oferece-nos a possibilidade de compreender, de uma forma aprofundada, os comportamentos dos utilizadores. Esta habilidade é essencial para adaptar dinamicamente as interações digitais, ajustando-as às necessidades e preferências individuais de cada um. Cada vez mais, a IA prevê e oferece recomendações precisas, potenciando a constante evolução da experiência do utilizador. No âmbito da acessibilidade, a IA desempenha um papel importante na eliminação de barreiras. Tecnologias baseadas em IA interpretam automaticamente informações visuais e auditivas, tornando os conteúdos mais acessíveis através de, por exemplo, descrição áudio de imagens ou legendagem automática de vídeos. Assistimos também à evolução dos assistentes de voz, que impulsionados pela IA, permitem um controlo cada vez maior de dispositivos e aplicações apenas com comandos de voz.

A evolução de tecnologias como a IA vieram facilitar a integração destas soluções nos processos de desenvolvimento de produto, representando uma verdadeira mudança de paradigma na acessibilidade, que é muitas vezes descurada e deixada em segundo plano na altura do desenvolvimento dos produtos ou serviços. Para além dos benefícios diretos para pessoas com deficiências, o desenvolvimento destes mecanismos, a velocidades sem precedentes e potenciado pela IA, reflete-se na interação da maioria dos utilizadores. Funcionalidades como as legendas automáticas em vídeos que facilitam a compreensão em ambientes ruidosos, quando o áudio não é desejado, ou ainda as traduções automáticas de conteúdos, alargam o acesso à informação global. Estes são apenas alguns exemplos do contributo e impacto que a IA tem na UX e acessibilidade, e de como se integraram perfeitamente nas atividades diárias, melhorando a interação com os conteúdos digitais.

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Sem dúvida que esta tecnologia está a redesenhar a nossa forma de consumir informação, adaptando-se dinamicamente às nossas necessidades e proporcionando uma experiência digital mais inclusiva, enriquecedora e acessível. Contudo, é importante reconhecer os desafios associados ao uso da IA. Entre esses desafios incluem-se preocupações éticas, como o enviesamento algorítmico, a privacidade dos dados e a dependência excessiva da tecnologia. Estas questões requerem uma abordagem cuidadosa para garantir que a IA é implementada de forma ética e responsável, respeitando os direitos individuais e a diversidade de utilizadores.

Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.