De acordo com as perspetivas das mais prestigiadas casas de investimento do mundo, atrevo-me a afirmar: o ano que se aproxima será marcado por uma profunda incerteza. Por isso, caríssimos investidores, estejam muito atentos!
Esta conclusão deriva do recurso a inteligência artificial (IA), nomeadamente pelo uso de modelos avançados de processamento de linguagem natural.
Concretamente, utilizei o FinBERT, um modelo especializado baseado no BERT, tecnologia da Google que utiliza uma arquitetura “transformer” inspirada no funcionamento do cérebro humano. Imaginem que quero analisar a palavra “resultados” numa frase. O FinBERT faz uma análise bidirecional do contexto, examinando simultaneamente as palavras anteriores e seguintes. Para os interessados em gramática, o que está em causa é a semântica e a sintaxe.
Este modelo foi treinado com dados financeiros, como relatórios, notícias e análises de mercado, para captar as nuances e complexidades da linguagem deste setor. Num ecossistema onde a informação “brota” de todos os lados e a capacidade humana para extrair conhecimento num curto espaço de tempo é limitada, a sua aplicabilidade torna-se evidente.
No meu caso, por me terem “caído no colo” mais de 800 páginas de perspetivas para 2025, decidi aplicar o FinBERT para decifrar o tom e as expectativas contidas nos resumos executivos desses documentos. Basicamente, procurei identificar frases associadas a otimismo, pessimismo ou um tom neutro. Os resultados foram os seguintes:
38,95% apresentaram um tom negativo;
18,02% mostraram-se neutras;
43,02% refletiram otimismo.
Ou seja, está tudo muito equilibrado. Daí a minha afirmação de que será um ano marcado pela incerteza, pois nem mesmo as grandes casas de investimento, que influenciam o contexto financeiro global, se atrevem a expressar uma “verdade absoluta”. A uma abordagem positiva segue-se frequentemente uma mensagem que a contraria, e vice-versa. Esta dualidade é evidente nos próprios documentos, que incluem afirmações como:
“…some of the returns initially expected to materialize in 2025, may have already occurred…”
“…there are always opportunities… Risks are numerous, though…”
Parece-me claro que o sentimento subjacente é “uma no cravo e outra na ferradura”, algo que a IA também captou.
Após identificar os sentimentos, questionei-me quanto à força das convicções. Quantas vezes, no nosso quotidiano, não interpretamos o tom de voz de alguém e perguntamos: “Tens a certeza? Não pareces muito convencido!” De forma análoga, o FinBERT não se limita a categorizar sentimentos, atribui também um grau de “convicção estatística”. A confiança média obtida foi:
Sentimentos negativos: 81,88%
Sentimentos neutros: 77,40%
Sentimentos positivos: 78,60%
Embora estas médias pareçam equilibradas, a dispersão nos sentimentos positivos é maior. Enquanto nos negativos se observa maior consistência, algo evidente num histograma.
Por fim, decidi analisar as palavras mais citadas em tom negativo. As mais destacadas foram: “Growth”, “Policy” e “Inflation”, contextualizadas em frases como:
“…market direction will depend on the economic growth trajectory (and whether a recession is avoided) …”
“…looser financial conditions should help economic growth and corporate profits but… remains the risk that growth slows by more than markets expect.”
“…the monetary policy stance will quickly have to swing from restrictive to accommodative.”
“The re-election of Donald Trump and the Republican sweep of Congress could lead to significant policy changes…”
Poder-se-á argumentar que “nada disto é novo para quem acompanha os mercados diariamente”.
É verdade.
Contudo, procurei uma abordagem quantitativa aplicada a dados não estruturados, algo que não é comum no mundo da consultoria de investimento, muito menos na banca de retalho. Pretendi ter uma nova perspetiva que me possa ajudar a criar valor e, por isso, ainda não satisfeito, avaliei a força relativa das palavras, percebendo que “Growth” se destaca com uma proporção de 2:1 em relação ao segundo tema mais citado.
Em resumo, será 2025 um ano fácil? Definitivamente, não. Mas, honestamente, algum ano foi?
P.S.: Este artigo não se qualifica como uma recomendação de compra ou venda, servindo apenas para ilustrar o lado didático da inteligência artificial. Reflete exclusivamente a minha opinião pessoal.