O conceito de inteligência emocional (IE) remonta ao séc. XIX, quando Charles Darwin frisou a importância das emoções para a sobrevivência e adaptação do ser humano. Desde então surgiram vários estudos, com destaque para os de Peter Salovey e John Mayer, demonstrando que, de facto, a inteligência no seu todo não é meramente cognitiva, mas inclui a capacidade de reconhecer os nossos próprios sentimentos e os dos outros (“self-awareness” e “social-awareness”), de nos motivarmos (“self-management”) e de saber gerir as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos (“self-regulation” e “relationship management”). Neste contexto, Daniel Goleman desempenhou um papel crucial na popularização do conceito de IE na década de 1990, com o lançamento do livro intitulado “Inteligência Emocional”.

As vantagens associadas à IE incluem: maior facilidade para construir e sustentar relacionamentos significativos; maior preparação para lidar com situações difíceis ou imprevistas e tomar decisões sob pressão; e maior capacidade para gerir a mudança e resolver conflitos. Com isto, demonstra-se que grande parte do sucesso (até 80%), pessoal e profissional, deve-se a competências de IE, pelo que estas não devem ser, de todo, descuradas, principalmente mediante funções de liderança e gestão de equipas. Tal, por sua vez, contribui para um ambiente de trabalho mais coeso, colaborativo e produtivo, tornando assim as organizações mais eficientes e competitivas.

Na Construção, a IE assume uma importância distintiva, particularmente devido à sua propensão para conflitos, relacionada com fatores como a complexidade e diversidade da cadeia de valor, composta por agentes com diferentes propósitos e níveis de formação e qualificação díspares; a volatilidade do mercado e a pressão de custos e prazos. Ao nível contratual, a insuficiência, ambiguidade ou incumprimento dos requisitos pré-estabelecidos; a ausência ou inadequação de procedimentos de controlo de qualidade e segurança; e as deficiências na comunicação e colaboração, baseada normalmente em métodos arcaicos, são também fatores a considerar.

Neste sentido, podem ser evitadas ou mitigadas consequências negativas, em termos económicos e reputacionais, no curto e longo prazo, ao nível das pessoas e empresas, principalmente perante processos judiciais morosos, custosos e desgastantes para as partes, onde, no final, de uma maneira ou de outra, todos saem a perder.

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A capacidade para interpretar e gerir os nossos sentimentos, assim como para compreender e responder às emoções dos outros, é, deste modo, preponderante. O objetivo maior é controlar conflitos e construir relações de confiança, saudáveis e sustentáveis, proporcionando assim soluções mais integrativas e inovadoras, com resultados win-win para as partes.

Ao nível individual, a IE pode ser desenvolvida, por exemplo, através de práticas de introspeção, para aumentar o autoconhecimento emocional; de meditação, para regular impulsos emocionais; e de atenção aos sentimentos dos outros, para cultivar a empatia. A definição de metas claras e tangíveis, para aumentar a motivação intrínseca, e o desenvolvimento de aptidões sociais, para melhorar a capacidade de escuta ativa e comunicação assertiva e fomentar relações significativas, são também hábitos indicados.

Ao nível organizacional, é recomendável investir em formação especializada, terapia ou aconselhamento, para aprofundar a compreensão e gestão emocional dos colaboradores, principalmente ao nível de cargos de topo. Sobretudo, deve ser reconhecida a importância da IE e que a sua implementação baseia-se num processo de melhoria contínua que requer prática e autodisciplina.

Com a globalização e o avanço em áreas como a industrialização, digitalização e sustentabilidade, as organizações são cada vez mais sofisticadas e difíceis de gerir, sabendo-se que, no final do dia, tudo se resume a pessoas e à complexidade do ser humano. Como tal, a relevância da IE é crescente, não tanto no sentido de se possuir as competências necessárias, mas no sentido de se poder ser penalizado por não as possuir.

Antes de pensar, sentimos, pelo que a esfera das emoções na gestão das empresas de construção, e não só, não deve ser, de todo, desvalorizada.