Nos últimos anos, o conceito de Job Crafting tem-se tornado central nas discussões sobre o futuro do trabalho. À medida que os profissionais procuram mais flexibilidade e propósito nas suas funções, a ideia de moldar o trabalho de acordo com os interesses e competências individuais, ganha cada vez mais força.

E quem o diz não sou eu. A Harvard Business Review lançou um estudo neste sentido há mais de 20 anos, portanto, o termo Job Crafting, não é de hoje.  A minha questão aqui é simples, será que neste mundo global em que vivemos, estará o nosso querido Portugal preparado para esta mudança?

O Job Crafting é a prática de ajustar as tarefas, relações e a perceção do trabalho, de modo a torná-lo mais significativo para o colaborador. Em vez de seguir rigidamente uma descrição de funções, os profissionais que adotam esta abordagem ajustam o seu dia a dia, alinhando os seus interesses aos interesses da empresa. Imaginemos um gestor de marketing que se interessa por design: ao colaborar com a equipa de criatividade, enriquece a sua experiência e traz novas perspetivas para a organização. Este é o poder do Job Crafting, um processo de adaptação que beneficia tanto os colaboradores como a empresa.

E numa altura em que o esgotamento profissional ou burnout é um problema constante, o Job Crafting surge como uma solução promissora. Ao permitir que os colaboradores assumam o controlo das suas funções, as organizações promovem um maior envolvimento e satisfação. Afinal, quem não gostaria de moldar o seu trabalho para que tenha um maior significado pessoal? Dar aos colaboradores a oportunidade de ajustar as suas tarefas, aumenta o sentimento de valorização e ajuda a criar uma ligação mais profunda entre o indivíduo e o que faz diariamente. Esta prática desafia a visão ultrapassada de que a satisfação no trabalho depende apenas de recompensas financeiras.

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Agora, claro que não há bela sem senão. Atrevo-me a dizer que implementar o Job Crafting na nossa cultura empresarial, será certamente um desafio. E porquê? Porque requer uma cultura aberta da organização e uma liderança disposta a partilhar o controlo. Para muitas empresas, especialmente aquelas com estruturas rígidas, esta abordagem pode parecer impraticável. Certos setores que dependem de previsibilidade e consistência, como a indústria, podem achar difícil adotar tal flexibilidade. No entanto, nesse mesmo estudo da Harvard Business Review, esta abordagem foi aplicada num hospital universitário na área de higiene e limpeza dos espaços.  Também em áreas como o marketing e a tecnologia, onde a inovação e a adaptação são essenciais, o Job Crafting pode ser uma ferramenta poderosa para aumentar a competitividade.

Outro desafio é que nem todos os colaboradores têm a iniciativa ou clareza do seu propósito para identificar oportunidades de ajuste nas suas funções. Isto pode criar uma divisão de águas e levar a desigualdades, onde apenas os mais proativos conseguem transformar as suas tarefas em algo mais interessante. Além disso, há o risco das alterações feitas pelos colaboradores, se desviarem dos objetivos estratégicos da empresa, o que pode gerar conflitos. Assim, a autonomia oferecida pelo Job Crafting deve ser acompanhada por uma comunicação clara, assertiva e frequente sobre as metas da organização.

Apesar dos desafios, os benefícios do Job Crafting são evidentes. Esta prática permite que os colaboradores descubram novas formas de contribuir para a empresa, enquanto encontram mais sentido no seu trabalho e, por outro lado, confere-lhes cada vez mais responsabilidade pela experiência e compromisso com a organização. O Job Crafting reflete uma mudança maior na forma como vemos o trabalho: a personalização, o crescimento contínuo e a adaptabilidade estão a tornar-se as novas normas.

Cabe às organizações decidir se preferem manter modelos tradicionais de gestão ou abraçar um futuro onde os profissionais têm uma participação ativa e mais comprometida na forma como o trabalho é definido. O Job Crafting pode ser a chave para criar ambientes de trabalho mais satisfatórios e produtivos, onde a performance e o bem-estar andam de mãos dadas.

Não se trata apenas de realizar tarefas, mas de dar significado ao que se faz. E para empresas que compreendem o valor dessa transformação, o futuro do trabalho pode ser muito mais promissor.