Começo por contar uma história: Nos anos 80 eu residia na cidade do Porto, existia perto de minha casa, uma loja que comprava tecidos e papel ao quilo.
Aprendi com o meu pai, a utilidade da loja. A partir desse dia, todo o papel descartado que existia em minha casa, tinha um destino, eu ia vender. Na altura eu teria 11 anos, vendia o papel e usava o dinheiro para adquirir o que uma jovem dessa idade queria.
Fiquei rica? Não, mas na realidade na altura não existia papel espalhado pela cidade do Porto, porque o papel era um material com valor.
Quando em 2005, me mudei para Lisboa, o meu modo de vida mudou, tive de estacionar o automóvel longe de casa, e vi nos meus trajectos, os passeios cheios de lixo. Os cidadãos residentes em Lisboa esvaziam as casas e deixam tudo na rua durante semanas.
Já fotografei milhares de situações que descrevi, que fiz chegar às autoridades da administração local.
Já assisti a várias tentativas de resolução do problema. Mas pouco eficazes. Quanto custa a recolha?
Qual o peso político da ineficiência na recolha dos resíduos?
Os resíduos para onde vão?
Qual o seu destino?
O papel, o vidro, o metal, os têxteis e o cartão são subprodutos que podem integrar novamente os ciclos produtivos, são matéria-prima das indústrias da produção de papel, produção de vidro e da indústria siderúrgica.
Assim, o cidadão não está a ditar lixo fora, está a desperdiçar matéria-prima essencial para a indústria. Com a reciclagem e recuperação de matérias primas existe uma poupança de energia e água.
Na cidade de Lisboa, o impacto da deposição de resíduos difere, se nos seus territórios existem áreas comerciais, hotéis, restaurantes e Alojamento Local.
ou se nas freguesias existem bairros habitacionais, com vida de bairro.
No centro da cidade existem exemplos que poderemos identificar, freguesias muito próximas uma da outra mas com uma geografia humana completamente diferente e com problemas diferentes, quer na gestão de resíduos , quer nas práticas adoptadas no descarte dos resíduos.
Nos últimos anos, com o comércio eletrónico, o número de resíduos de cartão e papel aumentou exponencialmente.
Não deve ser por falta de dinheiro que o problema não está a ser resolvido, porque não só existem verbas da taxa turística, mas também cerca de 50% da factura da água, são taxas cobradas pela Câmara Municipal de Lisboa.
Não sendo eu, especialista em resíduos nem especialista em Ambiente, só vejo uma forma de resolver o problema da higiene urbana em Lisboa a curto prazo, valorizar os resíduos, pagar pelo papel, pelo plástico, pelo metal, instalar centro de recolha e pagar a quem os for vender a esses centros.
A médio prazo investir em ações de sensibilização e informação aos novos residentes sobre as regras de recolhas de resíduos na cidade de Lisboa.
A longo prazo estabelecer coimas para quem não cumpre as regras de descarte dos resíduos domésticos e comerciais.
Já existem projectos na cidade de Lisboa, que surgiram na sociedade civil na âmbito da Educação Ambiental, mas não tem sido devidamente acolhidos pelas autarquias salvo raras excepções, a saber: “Trokaki”, “Circular wear”, “let’s swap “entre outros, evitando que milhares de objetos sejam descartados como lixo, um verdadeiro exemplo na economia circular.
A resolução do problema dos resíduos em Lisboa deve ser olhada como uma oportunidade de debate sobre a educação ambiental, mudanças na política de gestão e valorização de resíduos aliada a processos de fiscalização eficazes.
Adotar uma abordagem holística que engloba esses aspectos pode ser a chave para uma cidade mais limpa e sustentável do ponto de vista ambiental e energético.