E vai acabar mais um agosto. A edição de 2024 está nos últimos cartuchos.
Mais um verão bom, mas outro verão em que estamos completamente cansados. Calma. Não estamos cansados do sol, da temperatura boa do nosso mar, de comer a ver o por-do-sol, de estar em família a sorrir ou de receber turistas, sejam eles portugueses ou estrangeiros.
Estamos cansados, mais uma vez, de tanta conversa de treta, e sempre negativa, focada em desfazer todo o lado bom do que há em dentro desta região do Algarve.
Mais um ano e voltam a dizer repetidamente que o está tudo pior que em 2023, que já era bem pior que 2022 e que horrores de pior está quando comparado com um agosto de 2019, por exemplo.
Dizem que o Algarve está (mais) caro.
Dizem que o Algarve está (mais) vazio.
Dizem que as pessoas fogem (ainda há mais pessoas para fugir depois das que apregoavam que iam fugir em 2023?) do Algarve para ir para outros lados do país e do planeta.
Dizem que é mais barato viajar para fora do país uma semana do que vir para o Algarve uns dias (iam comer caviar Almas ao pequeno-almoço e dormir em Faro com vista para o Mónaco, só pode).
Dizem que no Algarve ninguém quer saber dos portugueses (nós, algarvios, devemos ser estrangeiros, é isso?) e, claro está, no pináculo do drama dizem ainda que para o ano ninguém regressará ao Algarve. É desta! Em 2025 o algarve vai estar comigo, com os meus vizinhos e todos os meus conterrâneos algarvios só. Seremos então apenas cerca de 450.000 algarvios para o ano, em agosto de 2025, no algarve. Vá, mais duas dezenas de pessoas porque sei que os meus primos vão continuar a voltar sempre. E a gostar.
Voltando às críticas fáceis, é desumano. É irritante até. Não sei se irrita mais do que cansa ouvir/ler tanto disparate sobre a região mais a sul do país.
Disso sim, os algarvios estão fartos. Todos estamos.
O país crítico quer fazer do Algarve um destino único que não é. Mas o Algarve nunca o quis ser. Nem os algarvios querem que o seja. Quem está a sul do nosso país todo o ano quer que o Algarve seja aquilo simples que foi, que é, e que simplesmente traz ano após ano milhões de pessoas de centenas de países diferentes. Somos uma região heterogénea. Uma região territorialmente rica com uma costa de litoral imensa de mais de 155 quilómetros, com um interior bem português como qualquer outro distrito, com serra e com barrocal, com oceano, com rios como o meu Arade ou o belo Guadiana que todo o mundo conhece, com rias como a de Alvor, com a ponta de Sagres que intimida pela força do mar ou as imagens tipo postal de Cacela Velha que apaixona pelo amor que se transmite em qualquer paisagem que lá consigamos viver ao vivo.
Uma região gastronomicamente distinta pelo amor que temos a trabalhar o peixe, que não é só a “Rainha” sardinha, mas igualmente com boa carne e com charcutaria que representa bem um país forte nessa (tão boa) parte. Uma região que exporta destilados como o medronho ou a melosa de excelência e já tem boas colheitas de vinho regional do barlavento ao sotavento (Villa Alvor, Quinta dos Vales, Paxá, Arvad, Barranco Longo, Quinta da Tôr, Cabrita, Al-Ria… querem mais bons exemplos? Bebam, com moderação, e aproveitem as dicas). Nos vinhos, tal como outras regiões, cada vez podemos ser mais orgulhosamente bairristas e, no nosso caso, “vender a nossa” (qb) casta de Negra Mole.
Somos a região da Laranja, mas de todos os citrinos de excelência e que todos reconhecem de norte às ilhas. Da alfarroba. Do figo. Da amêndoa. Do medronho. Da romã. Do dióspiro. Do marmelo. Ah! E hoje até do abacateiro do algarve.
Mas sobre comida vamos ser justos e voltar às críticas fáceis. Naturalmente, continuamos a ser uma região com restaurantes com comida típica a meia dúzia de euros e restaurantes de excelência para quem gosta dessa qualidade superior e consegue pagar mais por cada refeição. E então? Somos maus por ser “normais”?
Queremos isto. Queremos continuar a ser só isto.
Escolhemos e queremos mesmo a região humilde que dá para todos os algarvios de nascença e ainda para os que cá escolhem residir. Queremos este Algarve, especial, que é a região do país que mais gente recebe durante o ano excluindo Lisboa (mas em agosto, damos 10-0 à capital).
Recebemos mal os turistas? Conversa de treta.
Recebemos sempre bem desde há décadas. Sejam portugueses do Algarve, do Alentejo ou das ilhas. Sejam ingleses, que nos adoram há várias décadas. Sejam alemães que cada vez há em maior número a cá vir. Sejam franceses, sejam as cada vez mais numerosas famílias dos países baixos que vivem no interior e no litoral do algarve e, claro, descendentes de países africanos de língua oficial portuguesa e gentes da América do Sul ou da Ásia. Nunca fechámos portas a ninguém e somos o distrito português com maior percentagem de expatriados do país.
Ninguém acolhe mais gente em percentagem que os algarvios. Se fôssemos horríveis, não ficavam cá milhares e jamais iam regressavam cá os milhões que regressam e passam a tradição de pais para filhos.
Se somos os melhores hospitaleiros? É discutível e nunca haverá uma conclusão.
Mas deixemos de normalizar os idiotas (sem ideias). Há gente incrível e de uma hospitalidade inigualável no nosso Algarve como há também má gente cá. Somos normais. Aceitemos.
Mas este critério de simpatia/antipatia existe neste distrito de Faro como é semelhante no distrito de Beja, Évora, Portalegre ou qualquer outro. Existe em Portugal, Espanha ou França. Na Europa ou na América. Há bons e menos bons em todo o planeta. O Algarve não é exceção. Nem quer ser.
Mas calma… O algarve é único no critério que interessa num planeta cada vez mais global: O Algarve é uma região especial porque dá para todas as carteiras, todas as famílias, todas as idades e, sobretudo, todas as nacionalidades.
Nem todos os pontos do mundo que são procurados para férias podem ter este mérito de ser para todos. Nós no Algarve, em Portugal, portanto, temos.
Mas voltemos às críticas.
Temos 16 concelhos neste distrito. É óbvio que devemos ter zonas completamente cheias e outras quase vazias. Da ponta do barlavento (Sagres) à ponta do sotavento (Vila Real de Santo António) temos de certeza restaurantes que praticam preços acima da média e temos outros que têm preços dos mais em conta de todo o nosso país. Há praias sem acessos fáceis e outras em que podem estacionar sem pagar a 10 metros da areia. Há concessões que têm animação de luxo, em que alugar um espaço não é barato, e há concessões de praia em que uma semana fica em conta para quem quer sombra na areia perto de um espaço onde possa beber um café ou uma água. Sim, há cafés a 3 euros e ainda hoje paguei só 75 cêntimos por um café na praia em Portimão. Também já bebi café a mais de 2 euros em Cascais e no mesmo concelho consigo beber igualmente café a menos de 1 euro. É assim em todo o país, o Algarve é igual. Somos, repito, normais.
Cá, neste Algarve de costas tão largas à crítica que se vai (mal) aceitando, quem tem muito dinheiro pode aproveitar o turismo de excelência que temos nas nossas Marinas com os seus barcos, clubes de praia, espaços de animação diurna e noturna. Têm o autódromo de Portimão, saltos de avião, mergulho, golfinhos ou até complexos desportivos que acolhem as melhores equipas do mundo e do país. E quem tem menos posses financeiras tem igualmente localidades com boa sardinha assada, boa comida, bons bares e vistas incríveis que custam zero euros, e ainda oferecem uma praia fantástica para usar gratuitamente. É a sorte que fala, não é?
Para os portugueses, a questão do custo não é um problema regional do Algarve. É um problema contemporâneo e nacional de baixos salários que o país concede, seja no setor público ou privado. Não é de 2024. E já nem sei se é de direita ou de esquerda.
As férias estão “caras” no Algarve, no Alentejo ou em Lisboa. Estão “caras” porque estamos com pouco poder de compra e porque temos uma carga fiscal elevada. É difícil neste país ser-se empregado/colaborador/funcionário (para ser ideologicamente neutro que isto não é político) e também é difícil ser-se patrão (que haja cada vez mais portugueses com os seus negócios a crescer).
Logo, é caro passar-se uns dias de férias cá no Algarve, mas também será caro em todo o país para o português comum.
Em outubro quando a maioria dos turistas voltar a escolher Lisboa, sabemos que as críticas de agosto do Algarve vão de viagem para a capital. Aí será Lisboa que é cara. Será Lisboa que acolhe mal. Será Lisboa onde o café está caro. É o itinerário do Calimero da rede social.
Porém, para muitos estrangeiros que nos visitam, sabemos que o Algarve é baratíssimo. É baratíssimo para a carteira e os vencimentos praticados na maioria desses países, que todos sabemos que factualmente são – em média – superiores aos nossos. A culpa não é do Algarve, lamento dizer aos “chorões” de rede social que todos os anos chegam a Agosto e “rebentam” digitalmente a escala de críticas aos preços praticados no Algarve.
Voltemos às críticas fáceis de agosto. Dizem que estamos vazios este ano e que cada vez está pior…?
Então, saibam, com factos: Em 2019 (pré-pandemia), o Algarve registou durante todo o ano cerca de 21,2 milhões de dormidas, enquanto a nível nacional o total foi de aproximadamente 70,3 milhões. Em 2022, já pós-pandemia, o Algarve contabilizou 19,2 milhões de dormidas, comparado com 67,9 milhões a nível nacional. Em 2023, o Algarve registou um total de 19,7 milhões de dormidas, mostrando uma recuperação consistente, ainda que ligeiramente abaixo dos níveis de 2019. Estes números refletem a resiliência do Algarve como destino turístico de eleição, com cerca de 29% do total de dormidas no país a ocorrerem na região.
Vazios? São dos melhores números de dormidas que já se registou no país! Factos de um algarve cheio. Cheio de gente. Cheio de vida. Cheio de calor. Cheio de coisas boas.
Vazios estão só alguns críticos, no seu cérebro cheio de não sei bem o quê, que devem estar a ocupar o seu tempo de praia a construir castelos de criticas na areia.
Aos “haters” de agosto no algarve, tomem mais um facto, agora sobre 2024: o primeiro trimestre deste ano, de 2024, repito, no Algarve, teve mais hóspedes e mais dormidas, em comparação com o período homólogo, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). O setor do alojamento turístico no Algarve registou 697 mil hóspedes (+7,9%), 2,6 milhões de dormidas (+8,2%) e 146,5 milhões de euros de proveitos totais (+16,9%).
Estes indicadores da atividade turística regional algarvia refletem um crescimento superior à média nacional no mesmo período, recebendo mais 50 mil hóspedes, contabilizando mais 200 mil dormidas e obtendo mais 21 milhões de euros em receita calculada.
Vazios…
Vá, tomemos nota dos que nos enchem o país e a região do algarve em agosto: No primeiro trimestre de 2024, o Reino Unido liderou os mercados emissores de turistas para o Algarve, com 661 mil dormidas (+8%). Seguiram-se a Alemanha (+5,7%), Países Baixos (+3%), Irlanda (+36,3%), Espanha (+23,2%), Canadá (+15,9%) e EUA (+10,7%).
Mas não é só de turistas que vive o Algarve.
A questão da água, por exemplo, é um desafio constante para a nossa região. Recentemente, o governo aprovou um investimento de 5,2 milhões de euros para enfrentar a seca que tem afetado o Algarve, com medidas que incluem a construção de novas captações de água, reabilitação de infraestruturas e a redução das perdas de água. Estas ações visam garantir que, mesmo nos momentos mais difíceis, o Algarve continue a ter água suficiente para sustentar a população e os turistas que nos visitam. Que consigamos ter água para locais e turistas sempre. Saibamos respeitar isto, e ter medidas de qualquer governo (direita ou esquerda), para proteger os Reis de Agosto.
E por falar em novidades “fresquinhas”, aqui vai uma que é saída diretamente do frio da Islândia. O Algarve, já conhecido por atrair turistas de todas as partes do mundo, está prestes a adicionar mais um país à sua lista de destinos com voos diretos. Em 2025, vamos poder ouvir mais um sotaque a juntar às dezenas de tantos outros que já temos cá para ouvir. O Algarve vai ter voos diretos para a Islândia! Graças à companhia aérea Play, Faro e Reiquejavique estarão ligadas de forma direta. Mais uma boa notícia para não deixar o algarve vazio.
Quem diria que, além dos ingleses a queimarem-se ao sol, agora vamos ter islandeses a tentar perceber como é que o nosso sol consegue ser tão quente até em janeiro.
É o Algarve, meus amigos. É o que é. E é muito bom, até para a Islândia vai ser melhor a partir de 2025. Brincadeiras à parte, esta nova ligação aérea é mais uma prova de que o Algarve continua a expandir as suas fronteiras, a ter procura, e que atrai visitantes de locais cada vez mais distantes. Sejam bem-vindos, amigos islandeses! As nossas sardinhas e o nosso vinho estão prontos para vos aquecer o coração.
Porém, o Algarve não vive só do turismo. Dizia eu antes desta novidade nórdica. Volto a dizer porque é importante este ponto.
A nossa região algarvia tem problemas estruturais idênticos aos de todo o país, com características regionais, claro. Nas infraestruturas, nos acessos aos serviços públicos, ao nível dos salários, o grave problema da habitação que no Algarve se vive com o acréscimo da acérrima disputa de preços devido à grande quantidade de casas para 2ª habitação. Sem referir as já debatidas (anualmente e de forma apartidária já) lacunas conhecidas na educação ou na saúde por falha de decisão política ao longo de décadas.
Mas também aí, o Algarve não é pior que ninguém. É igual a Portugal. E sendo assim, repito o mesmo que disse sobre hospitalidade, temos gente capaz e gente menos boa para exercer os seus cargos públicos e políticos em funções.
Para mim, algarvio de nascença e coração, é uma região que é mágica. Seja agosto, fevereiro ou dezembro.
Todo o país é bonito, mas o meu Algarve é muito bonito mesmo. Em todo o lado, não só a minha Cidade de Portimão onde vivo muito, e sinto cada vez mais, o meu e nosso verão.
Não disputamos ser melhores que nenhuma região do país, cada uma tem os seus atributos e qualidades ímpares, mas o Algarve é sempre muito bom.
Que saibamos confessar que para falar bem de uma região, como o Algarve, não temos de falar mal de outras regiões e entrar em comparações estéreis. Somos todos portugueses.
E que nesta região a sul, que brilha mais que as outras durante os 12 meses do ano, merecemos que falem bem de nós porque sempre fomos uma porta de entrada para milhões de pessoas. Muita gente conheceu Portugal pelas janelas do Algarve. Que nos respeitem para continuarmos a ser bem falados e ainda mais vistos pelo mundo devido ao nosso acolhimento e hospitalidade dos portugueses (sejam algarvios, alentejanos ou lisboetas).
Obrigado a todos os que cá vieram no Verão, que “voltem sempre” como digo ano após ano. Os algarvios gostam de vos cá ter. Porque achamos que a nossa beleza merece ser partilhada com todos os portugueses e com o Mundo inteiro.
Obrigado, Agosto.