Tal como milhares de outros jovens, até ao momento, passei por algumas fases que pareciam ser decisivas para o meu futuro. Refiro-me à escolha da área de estudo no ensino secundário e posteriormente no ensino superior, à entrada no mercado de trabalho, entre outras. Porém, nunca procurei ativamente ajuda. Por destino, sorte ou aleatoriedade, ingressei num curso pelo qual estou apaixonada. Se dissessem à Margarida de 14 anos, cujo sonho era ser arquiteta, que hoje estaria a estudar Gestão de Informação, acho que ela não acreditaria… Não me faltou apoio dentro do meu seio familiar, mas será que procurar ajuda de alguém mais dentro da minha área de interesse, e com quem pudesse partilhar as minhas dúvidas e receios, não me teria poupado alguma ansiedade e nervosismo?

Acredito que estas atividades de mentoria deveriam ser promovidas desde cedo. É verdade que seriam, à partida, desvalorizadas por muitos adolescentes, mas se fizesse a diferença na vida de três ou quatro jovens, já não compensaria? Sei que as escolas têm profissionais focados em ajudar/orientar os alunos, mas uma psicóloga encarregue de centenas e centenas de alunos não me parece suficiente. Adicionalmente, ainda predomina um estigma social não só na iniciativa de recorrer a apoio psicológico, mas também em demonstrar interesse e participar em mentoria. Existe também uma concepção enviesada sobre o que significa “mentoria” – um processo produtivo de entreajuda entre o mentor e o mentee, aconselhamento personalizado e auxílio na gestão de expectativas laborais. Através de um programa deste âmbito, os jovens estudantes poderiam ter contacto com profissionais com quem partilhar as suas inseguranças e dúvidas.

Com o passar do tempo, torna-se cada vez mais essencial ter um mentor. A faculdade pode ser assustadora e desafiante no início: estamos num ambiente novo, rodeados de pessoas desconhecidas e, na maioria das vezes, cheios de incertezas relativamente à nossa escolha. Mais tarde, começam a surgir as preocupações sobre o que o mercado laboral procura, como melhorar a nossa proposta de valor, como abordar as empresas, a aposta no networking… Parece um “bicho de sete cabeças”, mas não é! E quem melhor para nos tirar as dúvidas do que um profissional inserido nesse mesmo mercado de trabalho?

Encontro-me a meio da licenciatura e arrependo-me de não ter procurado um programa de mentoria ou mentor mais cedo. No entanto, estou ciente do contributo positivo que a Portuguese Women in Tech e, em particular, a minha mentora, terá na minha contínua aprendizagem. É evidente a importância da mentoria para fins profissionais mas, na verdade, é muito mais do que isso. É um facto que, nestes últimos dois meses, aprendi muito relativamente a estes tópicos ou semelhantes. O que falhei em referir é que também me ajudou a pôr em prática os valores em que acredito, desafiou-me, inspirou e motivou-me ao ver mais mulheres a lutarem pelo seu lugar no mundo tecnológico e a partilharem as suas histórias com orgulho.

Margarida Pereira é estudante de Licenciatura de Gestão de Informação na Faculdade Nova de Lisboa – Information Management School. Não diz que não a um desafio e, entre a equipa de embaixadores da Spark Agency, onde é Team Leader, e a equipa de Relações Externas da HeForShe Lisboa, faz voluntariado na instituição CASA. O que resta do seu tempo, aproveita para o dedicar aos amigos e família.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.

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