Prometi que me despediria de ti em Wimbledon. Acreditei que subirias uma última vez ao palco do All England Club para a derradeira actuação. Uma última esquerda a uma mão, armada nas costelas da tua finesse e despejada com a autoridade de um rei.

Vou afirmar aquilo que soubeste desde que agarraste numa raquete: és, foste, serás sempre o melhor. O meu indicador é simples: produziste o espectáculo mais apaixonante. Cativaste-me da primeira pancada à última gota de suor, entretendo-me com a estética dos teus movimentos. És a beleza disfarçada de jogador de ténis.

Não consigo precisar o momento em que me converti à tua religião, mas tenho inveja do puto que te descobriu, que viu Deus na televisão deslizando pelo court com uma fita na cabeça, nariz abatatado, olhos castanhos e sorriso trocista mas estranhamente humilde.

Nessa minha vida sem Federer, tinha ainda 20 grand slams e 6 finais ATP ainda por saborear. Desejava recuperar o suspense dos match points que bordaste com mãos de ouro, sentar-me no sofá ou na plateia do Estoril Open e exigir-te que me entretenhas.

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Diverte-me, Roger. Regressa ao campo. Sobe ao trono e baila. Voa para apanhar o amorti, saca o tweener por entre as pernas, mete o passing shot e faz o ás a abrir o ângulo. Quando tudo parecer perdido, tira o coelho da cartola. Produz magia… só mais uma vez… por mim, teu crente perene.

Estarei atento à tua última dança – à exibição do adeus – desiludido por nunca ter comprado bilhete para a arena onde mais brilhavas. É estranho. Sinto que havia mais tempo e tanto ténis ainda por jogar, mas agora compreendo que nem os deuses são eternos. E assim, a fadiga dos músculos e tendões que vestes para te mascarares de humano condenam a minha admiração final à distância.

No domingo, dia 25, esquecerei o relógio e a vida para me maravilhar uma vez mais com as tuas proezas. E ao cair do pano perpetuarei a ovação porque os verdadeiros heróis não têm fim.