Tradicionalmente, os trabalhadores caem numa de duas categorias: empregados (do quadro) e, portanto, de carreira, com alguma estabilidade, ou autónomos, englobando aqui uma multiplicidade de formas de emprego desde os precários contratos a prazo, a trabalho temporário, os freelancers, trabalhadores independentes (recibos verdes) e agora os mediados por plataformas digitais. Não confundir com o teletrabalho ou trabalho remoto pois este pode englobar ambas as categorias.

Os funcionários nestas duas categorias de trabalho apresentam perspetivas diferentes no que diz respeito a horários, benefícios, planos de reforma, saúde e seguros. Naturalmente a visão de carreira, estabilidade ou progressão é diferente em ambos.

Para o empregador também é diferente, pois as compensações e pagamentos, e, no caso do estado, a própria contratação não são os mesmos. A componente organizacional é também distinta, pois apresenta formas de liderança e motivação diferentes além da própria estrutura hierárquica.

Coloca-se cada vez mais a necessidade de regularizar, a todos os níveis, o trabalho gig, por exemplo influencers, gestores de plataformas (Airbnb, páginas pessoais, etc), produtores de software e apps, etc. No passado o trabalho informal estava associado a profissões menos especializadas e menos remuneradas, hoje tem atividades com profissionais muito qualificados e talentosos que apresentam produtos ou serviços de grande valor de mercado.

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Esta informalidade estava ligada à precariedade, hoje está mais ligada à autogestão e autoequilíbrio. Os profissionais gig sabem o seu valor, têm outras métricas de sucesso e de produtividade, contrastando claramente com o trabalho dependente.

Em termos do estado e conceptualização da economia (e finanças públicas) também tem diferenças, desde logo pela contabilização da força de trabalho. Muitos gig não se consideram a fornecer trabalho (ou não valorizam esta componente) estão a vender serviços, logo a tributação é diferente. O país onde o prestador está pode não ser o mesmo do beneficiário, logo a própria coleta fica comprometida. Dados do desemprego e suas consequências económicas são também diferentes.

Estas alterações não são necessariamente negativas, decorrem de mudanças de estilo de vida dos jovens, dos seus interesses e do que mais valorizam, como os horários flexíveis, viajar, equilíbrio com atividades de lazer e família, de valorização pessoal, além de não quererem trabalhar em condições menos agradáveis, como open spaces ou espaços sem identidade, rotinas ou lideranças menos motivacionais. O próprio estado evoluiu nas condições de trabalho e no chamado estado social, permitindo sistemas privados de segurança social e saúde além de garantir uma base comum e universal. Noutro sentido não acompanhou com a mesma velocidade a dinâmica laboral contratando novas profissões, com novas condições e flexibilidades, progressões mais rápidas ou outras compensações, privilegiando o mérito.

O tema “trabalho” e a sua inflexibilidade é correntemente usado como desculpa para a criação de EPEs, empresas municipais, empresas de emprego temporário que mostram algumas debilidades do sistema. Esta é mais uma achega à necessária discussão, ampla e realista, sobre o emprego, código e condições de trabalho para que dentro de pouco tempo não se esteja numa babel perdendo-se constantemente talentos, competitividade, força de trabalho e finalmente (o argumento mais caro dos governantes) IRS.