Todos estamos preocupados com a nossa saúde mental. E com a dos outros.

Mas, o que é que é exatamente isto da saúde mental?

Vamos simplificar, mas sem facilitar, sim?

Por um lado, saúde mental é bem-estar. Ou seja, engloba a nossa capacidade e recursos para viver bem connosco, com os outros, com o trabalho, com as dificuldades da vida e estarmos bem com isso. Sermos produtivos e sentirmo-nos úteis. Termos uma identidade e sentido de pertença. Bem-estar, felicidade e qualidade de vida.

Nesta saúde mental, dita positiva, o stress e algum grau de sofrimento mental fazem parte do dia-a-dia. Mas somos capazes de os superar. Sozinhos, porque vamos aprendendo e nos vamos adaptando: vamos ganhando competências e resiliência. Com ajuda da nossa rede, porque é assim que funcionamos, em colaboração.

Por outro lado, saúde mental também é equacionável com saúde mental negativa, quando percebemos que o nosso funcionamento está comprometido por um sofrimento mental contínuo, intenso, sustentado ao longo do tempo. Funcionamos mal connosco próprios, com os outros – amigos, familiares, colegas –, com a escola, com o trabalho, com o mundo, com o passado, com o presente.

O sofrimento advém de alterações desagradáveis, para nós, e às vezes também para os outros, nas nossas emoções, nos nossos pensamentos, no nosso corpo e nos nossos comportamentos. Pode ser explicável em função das nossas circunstâncias adversas de vida. Ou não. É mau. É doença mental. Em Portugal atinge um quinto da população adulta.

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Pensemos na nossa saúde mental como dois eixos paralelos que se correlacionam inversamente: por um lado, o da saúde mental positiva, por outro, o da saúde mental negativa. Quanta mais saúde mental positiva, menos a negativa, quanto maior a intensidade da doença, menor a saúde mental positiva. É ótimo quando estamos no topo da nossa saúde mental positiva e sem saúde mental negativa, e péssimo quando a nossa saúde mental positiva é escassa e abundam os sinais de doença mental.

Mas, na maioria das vezes, o que se verifica é uma mistura mais equilibrada: a maioria das pessoas com saúde mental não tem doença mental e apresenta níveis de sofrimento baixo e a maioria das pessoas com doença mental, menos grave, claro, mantém recursos positivos que lhe permite trabalhar, amar, cuidar, viver.

Então, o que seria bom que cada um de nós soubesse sobre saúde mental?

Bom, antes de mais que mantenhamos a cabeça aberta para receber a seguinte mensagem: somos todos muito diferentes e únicos, mas há mais do que nos une do que aquilo que nos separa. Ou seja, temos uma identidade única, mas somos bastante parecidos uns com os outros.

Outra mensagem importante: temos todos opiniões muito diversas, diferentes até, mas no fim do dia não há muitas verdades diferentes. Objetivamente, o mundo natural em que nos encontramos preserva leis lógicas e replicáveis apesar de toda a variedade que encerra.

Para ir direito ao assunto: precisamos saber como cuidar de nós e dos outros para mantermos uma saúde mental positiva; precisamos conhecer os principais problemas e doenças de saúde mental para os sabermos reconhecer; precisamos perceber o impulso de discriminação e de estigmatização daquilo que é diferente e como o combater; e, finalmente, para nos cuidarmos e cuidarmos daqueles de quem gostamos quando a surge a doença, precisamos conhecer quais as opções de ajuda e quais as que funcionam, e quais as que provavelmente não funcionarão.

Este é o bê-á-bá da saúde mental.

Ricardo Gusmão é psiquiatra, assistente graduado hospitalar e faz prática privada em Lisboa e no Porto. Professor convidado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, é investigador do Instituto de Saúde Pública da mesma instituição, onde coordena o Lab Literacia em Saúde Mental, Bem-Estar, Depressão e Prevenção do Suicídio. Membro fundador da Aliança Europeia contra a Depressão, é representante nacional na International Association for Suicide Prevention. 

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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