Nos dias de hoje, o mundo do trabalho é caracterizado por duas “eras”: a pré-pandemia e a pós-pandemia. Na nova “era” os modelos de trabalho híbridos são, de facto, a norma, tendo sido adotados por 72% das empresas a nível global (JLL Future of Work Survey). Os dados não só apontam para grandes níveis de adesão, como também para elevados graus de satisfação. Por setor, as indústrias da tecnologia e serviços financeiros lideram a adoção do trabalho híbrido, com taxas acima de 75%.

Contudo, a Amazon fez o anúncio que poucos esperam de uma tecnológica, desafiando o “novo normal” com uma decisão que deixou o mercado de trabalho em alerta. A gigante do e-commerce decretou o fim dos modelos híbridos. E já com 3 dias de presença obrigatória no escritório, exigiu o regresso ao escritório 5 dias por semana a partir de janeiro de 2025.

A questão que surge imediatamente é: até que ponto os modelos flexíveis, celebrados pela promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional estão, na verdade, a prejudicar a operação, a inovação e a agilidade das empresas? A Amazon parece acreditar que sim.

O CEO Andy Jassy comunicou que o regresso ao escritório proporcionará mais colaboração e conexão entre as equipas. Fala da perda de cultura de empresa. Mas até que ponto ponderou uma saída de talentos em massa? Este movimento da Amazon pode ser o prenúncio de uma tendência mais ampla? E o que farão outras empresas que concorrem pelos mesmos talentos? Seguirão o exemplo ou aproveitarão para atrair as pessoas insatisfeitas?

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É difícil de acreditar que uma organização tão informada tome uma decisão deste tipo, com implicações profundas nas pessoas e na sua reputação, sem ter garantias que, no final da mudança, a sua produtividade aumentará significativamente. Se isto se demonstrar, não podemos desvalorizar um efeito dominó no setor da tecnologia. Por outro lado, se houver uma fuga massiva de talentos, outras empresas podem hesitar em seguir o mesmo caminho. Estamos num contexto onde a taxa de desemprego é historicamente baixa nos E.U.A., em torno dos 4,2%, estando a vantagem do lado dos colaboradores.

A grande questão que permanece é se o bem-estar individual, proporcionado pelo trabalho flexível e pela mobilidade, compromete o sucesso coletivo e o futuro das organizações de topo. Ou estamos a testemunhar um retrocesso desnecessário, motivado por uma visão antiquada de cultura de empresa e de produtividade?

À medida que esta história se desenrola, uma coisa é certa: a decisão da Amazon marca um ponto de inflexão no debate sobre o futuro do trabalho, lançando um novo debate em torno do futuro dos espaços de trabalho, num momento em que a ocupação dos escritórios está a 50%-60% dos níveis anteriores à pandemia na maioria dos mercados. Os modelos da “era pós-pandemia” são desafiados pelos seus criadores originais, as tecnológicas, e as consequências desta mudança moldarão o panorama corporativo nos próximos anos.

Estamos a assistir ao fim do sonho híbrido, ou apenas a um contratempo temporário?

Este artigo foi publicado no âmbito do projeto Rota Imobiliária, em parceria com a JLL: https://observador.pt/seccao/rota-imobiliaria/