Se perguntarmos aos seus administradores para que serve uma universidade, a resposta será quase de certeza que serve para assegurar o bem-estar dos seus alunos. Para esse fim, explicam, é-lhes proporcionado alojamento, refeições nutritivas, acção cultural e consultas de psicologia. É verdade que durante três anos os alunos são bem tratados nas universidades. Não é pouca coisa tratar bem as pessoas, mesmo por períodos limitados; e as pessoas gostam. Mas quase nenhum administrador tentará na sua resposta especular sobre aquilo que os alunos podem vir a fazer nas universidades, nos intervalos do sono, das refeições, e das consultas, ou depois da Queima da Espuma ou da Recepção ao Malandro.
Admirará para começar que existam universidades com essas funções quando os alunos dos países ricos como o nosso já têm genericamente alojamento, alimentação e acesso a terapia psicológica, e cultural. Parece ocioso criar lugares especiais cujo propósito é já satisfatoriamente assegurado fora deles, mesmo no interior, por hotéis, restaurantes, discotecas e hospitais. Acredita-se porém que os períodos passados nesses lugares especiais têm outras consequências especiais. Terminado o seu confinamento, os alunos encontrarão empregos que de outro modo não encontrariam; e também, graças ao bem-estar de que gozam, adquirirão opiniões sobre como vão as coisas, e um feitio melhor. Não é pouco importante ter empregos bons. Mas quase nunca nos são dados pormenores sobre como é que três anos de residência num sítio especial produzem tais efeitos especiais.
Este tipo de discrição é característico. Os administradores das universidades são normalmente pessoas a quem aquilo que não tem a ver com o bem-estar dos estudantes não ocupa muito. Há três razões que explicam esse desprendimento: a primeira é que administrar universidades é uma tarefa absorvente; a segunda que os administradores são frequentemente pessoas que se tornaram administradores para fugir do que faziam antes na universidade; e a terceira porque acreditam que administrar uma universidade lhes dá todo o conhecimento da universidade que é preciso. Servir cafés ao público, sendo absorvente, e podendo ser uma forma de redenção, não é todavia o mesmo que saber como funciona a máquina do café.
As justificações dos administradores são muito comuns porque existe um número incomum de administradores. A probabilidade de fazer perguntas sobre universidades a administradores de universidades é assim muito alta; e as respostas que eles nos dão são predominantes. A mais predominante é a de que a universidade consiste na administração da universidade. Uma outra resposta é que o bem-estar dos alunos que a universidade assegura resulta de se estimular neles, mediante alojamento, alimentação, celebrações e consultas, traços de carácter e opiniões. E por aí adiante. Graças às respostas dos administradores percebemos de imediato que a universidade que administram e reconhecem participa das três actividades económicas principais à vida da nação: a indústria do turismo, o progresso moral, e o serviço nacional de saúde.