No mês de Janeiro realizou-se em Davos o 54º Fórum Económico Mundial, onde mais de 3000 pessoas de 120 países se juntaram para discutir os assuntos mais proeminentes da agenda mundial. Mas o que é o Fórum Económico Mundial (WEF, correspondente sigla em inglês)? O WEF é uma organização internacional sem fins lucrativos que promove o diálogo e a cooperação entre líderes empresariais, políticos, académicos e outros membros da sociedade global. O principal objetivo consiste na abordagem de questões globais, promovendo a colaboração entre setores e propondo soluções para desafios económicos, sociais e ambientais, contando assim com participantes que incluem líderes empresariais, chefes de estado, académicos, representantes de organizações não governamentais e outros influenciadores. Durante a reunião anual, os participantes discutem uma ampla panóplia de temas, como economia global, comércio internacional, mudanças climáticas, desigualdade social, inovação tecnológica e questões geopolíticas. O Fórum está também encarregue por publicar diversos relatórios, como o Relatório de Competitividade Global e o Índice de Desenvolvimento Humano Sustentável, de modo a fornecer uma análise sobre o estado atual e futuro da economia global. Embora o Fórum seja conhecido pelas suas reuniões anuais em Davos, a organização está envolvida em diversas iniciativas ao longo do ano, visando abordar desafios globais e promover a cooperação entre os setores público e privado.

Depois de um ano em que as proezas tecnológicas do ChatGPT não passaram despercebidas, não foi de admirar que a Inteligência Artificial (IA) ocupasse um lugar central nas mesas de debate, com um foco proeminente na função desta tecnologia como força motriz para o desenvolvimento da economia e sociedade, particularmente no uso desta tecnologia como uma ferramenta humanista, mantendo uma postura proativa no que toca à gestão do risco associado à mesma. O relatório do Fundo Monetário Internacional, no qual é divulgado que 40% dos empregos a nível global estão expostos à IA – uma estatística que sobe para 60% quando olhamos para as economias dos países desenvolvidos (categorização segundo os parâmetros de desenvolvimento da OCDE) – abriu portas ao diálogo sobre as devidas considerações acerca do modo como as empresas podem delinear uma estratégia de negócio responsável, tomando partido dos avanços feitos em tecnologias como machine learning e natural language processing. Na 4º transição industrial, movida fortemente pela IA, é de esperar um aumento de produtividade e inovação, tendo sido os setores da saúde e fintech apontados como os promissores candidatos para uma maior integração com a inteligência artificial. Ficou, contudo, claro, em exposições de líderes como Satya Nadella, CEO da Microsoft, e Sam Altman, CEO da OpenAI, que a preparação adequada das organizações, nomeadamente a requalificação dos seus trabalhadores é uma prioridade, no que toca à integração da IA no mundo laboral. É esperado que, durante os próximos 5 anos, um quarto dos empregos passe por alterações significativas, pelo que o planeamento da força de trabalho e o ensino de precisão foram áreas frequentemente mencionadas durante o Fórum, tendo sido partilhados variados estudos acerca de como as empresas e governos se poderão preparar para as mudanças que se avizinham, de forma a atenuar o impacto da integração da IA nos cidadãos, assim como, de forma a aumentar os benefícios para a sociedade.

Apesar do entusiasmo geral perante esta disrupção tecnológica, o Fórum mantém uma atitude proativa e defensiva perante a mesma, e o esforço para criar sistemas de segurança que promovam sistemas de IA transparentes e inclusivos tem sido uma preocupação crescente. Em particular, o WEF lançou a AI Governance Alliance, uma aliança entre governos, instituições académicas e sociedade civil que serve como uma referência para a transformação digital através da adoção de IA.

Neste ano, o Fórum Económico Mundial reforça o vasto potencial da inteligência artificial para transformar economias e sociedades, assim como o interesse que empresas e governos deverão ter relativamente ao assegurar de um desenvolvimento e integração planeados da AI e outras tecnologias emergentes. Num paradigma crescentemente digital, em que a velocidade de desenvolvimento e massificação de novas tecnologias é exponencial, ter uma compreensão holística é crucial para que nos possamos adaptar tão rapidamente quanto possível a esta realidade, que felizmente conta com Davos.

Observador associa-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.

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