Não vale a pena a negar ou procurar eufemismos. Os resultados das eleições de 30 de Janeiro de 2022 foram desastrosos para o PSD. Apesar de ter obtido mais votos, em número absoluto, que em 2019, reduziu o número de deputados e, principalmente, não conseguiu travar o PS na obtenção de uma maioria absoluta. A causa destes maus resultados reside na obsessão dos últimos anos em colocar o partido ao centro, um espaço do qual, segundo os seus dirigentes, não se podia de forma alguma sair. Sendo este espaço ideologicamente vago e indefinido, o partido deixou de saber o que queria para Portugal e, em consequência, perdeu a capacidade de comunicar com partes importantes do eleitorado. Agora, vai ter de aprender de novo a falar para o país.
Durante os últimos anos foi apregoada no PSD, tanto pelo seu líder como pelos seus muitos apoiantes, a ideia de que o partido se devia colocar ideologicamente ao centro, não podendo de lá sair. Para além disso, foi relembrado àqueles que criticavam esta estratégia que o partido, na sua génese, em 1974, era um partido de centro e, até centro-esquerda, e que por isso era necessário fazer o PSD regressar às suas origens. O resultado desta estratégia está à vista de todos. O Partido Socialista obteve uma maioria absoluta e o PSD tem pela frente quatro anos muito árduos.
A tese de que o partido se devia posicionar ao centro menosprezou um aspeto importante. É que o centro, se existe (não sou cientista político, mas tenho dúvidas de que seja um espaço ideológico que verdadeiramente exista), é uma área indefinida, vaga e oca, na qual quase tudo, com jeito, consegue caber. Ao ter sido colocado nesta zona de indefinição, o PSD deixou de saber o que queria para o país. Deixou de ter uma mensagem clara, entendível e alternativa ao Partido Socialista, sobre quais as soluções que apresenta para os graves problemas que o país atravessa. E em muitas áreas, deixou de apresentar soluções.
Assim, a próxima missão do partido, e dos seus militantes, será encontrar resposta para uma pergunta concreta, mas ainda assim complexa: afinal o que é que o PSD quer para Portugal?
E as soluções que encontrar devem ir para além de descidas momentâneas de impostos. O PSD tem que ganhar capacidade de responder a questões que olhem para um horizonte temporal mais alargado. O partido tem de saber responder a perguntas como (entre outras), quais são as reformas no mercado de trabalho necessárias para reduzir a taxa de desemprego jovem, que é persistentemente superior à média europeia? Como pode o país sair da armadilha de salários baixos em que se encontra? Como podemos deixar de ter taxas de crescimento anémicas? Quais as reformas na segurança social e no sistema nacional de saúde que precisamos de fazer para sustentar uma população envelhecida? Quais são as reformas no sistema de educação, nos diferentes níveis, necessárias para que os nossos alunos obtenham o espírito crítico necessário para vingar numa sociedade futura onde muitas das profissões que existirão ainda hoje não as conhecemos?
Ao procurar soluções para estes problemas, não só afirma de forma clara qual é a sua estratégia de oposição, como apresenta um futuro alternativo e ambicioso para aqueles que estão descontentes com o atual estado da nação. Se Francisco Sá Carneiro ocupa ainda um lugar algo mítico dentro do partido e na memória de alguns, é porque soube falar sobre qual era a sua visão para o país e para o futuro dos portugueses. Uma visão em que muitos se reviam e que em grande medida não foi concretizada. Não sendo um apelo de regresso ao passado, o PSD precisa de regressar a esta forma de pensar sobre Portugal e de fazer política.
Enquanto o partido não encontrar respostas para este tipo de questões não vale a pena marcar eleições internas de forma apressada ou começar a lançar nomes de possíveis candidatos. Qualquer que seja o líder o resultado será o mesmo. E as respostas a estas perguntas não podem ser encontradas em sede de comissões políticas ou conselhos nacionais e estratégicos, aonde apenas uma elite partidária tem acesso. Terão de ser encontradas, com um espírito de humildade, ao percorrer o país, através das suas diversas concelhias e distritais, e ao visitar as comunidades no estrangeiro, ouvindo as ideias, preocupações e anseios dos portugueses.
O PSD irá atravessar anos penosos, onde será difícil fazer oposição dada a maioria socialista. Mas se precisar motivação, o partido pode relembrar que conseguiu ser governo sempre que soube falar para o país. Agora, mais do que nunca, tem de voltar a ter esta capacidade. Só assim poderá recuperar as partes do seu eleitorado que sentiram necessidade de alterar as suas opções de voto, pois as suas inquietações não estavam a ser ouvidas. E o país, e o espaço de centro-direita, beneficiarão de um PSD revitalizado e com uma estratégia de oposição bem definida.