O edifício do cineteatro de Ovar remonta a 1944 e é um edifício imponente integrado na arquitetura do Estado Novo, localizado no centro da cidade. Em 2018, foi adquirido pela Camara Municipal que o tinha demolido parcialmente após tomar posse administrativa, mantendo-se a fachada e um espaço coberto significativo.

Neste edifício, foram realizados inúmeros eventos ao longo de várias décadas, para além do cinema que funcionou durante muitos anos, também se realizaram várias peças de teatro, bailes de Carnaval, saraus culturais, diversas festas e até eventos políticos.

É importante referir que a Camara Municipal gastou quase 500 mil euros na aquisição e intervenções que fez no edifício e que tinha a intenção de aproveitar as verbas do PEDU para fazer algo que fosse ao encontro da vontade da população e fosse útil para a cidade.

O problema é que nunca foi pensado ou executado qualquer projeto ao longo dos últimos anos e como é obvio não foram aproveitados quaisquer fundos. O executivo da Camara Municipal foi questionado diversas vezes, em momentos diferentes, e nunca foi claro relativamente ao destino a dar ao edifício. Relembro as declarações do Presidente da Camara na altura, Salvador Malheiro referiu à Lusa que o cineteatro era um “legado” municipal e um dos “edifícios mais carismáticos para a comunidade vareira” e, como tal, defendeu a recuperação do imóvel com novas valências. Também um membro do atual executivo referiu ao “Ovarnews” que o “futuro do cineteatro deverá honrar o seu passado”.

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Agora, a pouco mais de um ano do fim do mandato, o executivo parece ter intenção de demolir o que resta do edifício, sem ter consultado a população, nem tão pouco as outras forças políticas. Pior, este executivo é liderado por um Presidente que não foi candidato a tal lugar e esta ideia peregrina não constava no programa eleitoral do PSD, retirando-lhe desta forma qualquer legitimidade política para tomar qualquer decisão.

Nos últimos 13 anos, o município de Ovar foi (des)governado por um executivo fraco, sem ambição e sem ponta de brio. Agora que o ex-Presidente “saltou” para a Assembleia da República, o atual Presidente tenta de forma desesperada mostrar algum serviço para tentar limpar a imagem de um executivo de que foi sempre o número dois, só que insiste em dar tiros nos pés.

Em poucos meses de mandato como Presidente, as medidas mais conhecidas que tomou foram a criação de um lugar de Diretor Municipal na estrutura da Camara com um custo mensal de cerca de 5.000€, a aquisição de uma viatura de luxo por cerca de 70.000€ (em 5 anos foram gastos mais de 150.000€ em viaturas para o Presidente da Camara de Ovar), a remodelação total do seu gabinete e agora, pelos vistos, o anúncio do que resta do edifício do cineteatro.

Voltando ao tema que me levou a escrever este artigo, para além da falta de legitimidade política do executivo, esta opção denota um completo vazio de ideias. Durante os últimos anos, empurraram o problema com a barriga e agora optam pela solução mais fácil, a demolição do edificado e a criação de mais uma praça no centro da cidade com uma entrada alargada para o Parque Urbano.

A reabilitação do espaço, para além de preservar e manter viva a memória do povo de Ovar, permitiria torna-lo útil à cidade. Por exemplo, instalando um posto de turismo interativo, um espaço dedicado ao Pão de Ló de Ovar ou até um Museu do Carnaval. Não faltam valências para colocar neste espaço depois de reabilitado, valências essas que contribuiriam imenso para o necessário dinamismo na cidade de Ovar.

Pena que o bom exemplo dos municípios vizinhos como São João da Madeira, Estarreja, Albergaria ou Mealhada não tenha sido suficientemente elucidativo para quem às vezes parece padecer de falta de conhecimento e lucidez.

Toda a ação do executivo da Câmara Municipal nesta matéria parece uma peça de teatro, nunca tiveram um projeto para o espaço, embora fossem alimentando a ideia de que lhe iriam dar utilidade e fazer uma obra digna, e muito tardiamente apresentam um projeto para demolição do histórico edifício.

Entretanto, surge um parecer da CCDR Centro desfavorável à demolição do edificado, o que ainda embaraça mais o executivo camarário e expõe a sua falta de competência para liderar os destinos do Município de Ovar.

Que fará agora o executivo?

Espero que dê um sinal de humildade e reconheça publicamente o erro, retirando do programa do dia do município a apresentação pública do referido projeto.

Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos do teatro do cineteatro de Ovar.