Tudo correu mal no jogo diante da Alemanha. Quem viu a partida acabou com a impressão que o resultado final até nem foi mau de todo face ao que aconteceu. Tamanha era a frequência com que as ocasiões de golo surgiam junto da baliza de Rui Patrício, que em determinada altura lembramo-nos das meias-finais do campeonato do mundo de 2014 quando o Brasil foi derrotado em casa pela Alemanha por 7-1. Eis o top #10 das razões pelo qual Portugal foi um justo vencido por ordem crescente de relevância.
#10. Ausência de referências para a saída em contra-ataque. Se a Alemanha estava em superioridade numérica na frente, atrás estava seguramente em inferioridade numérica. Apesar do posicionamento de Cristiano Ronaldo, não era claro para a equipa como e onde servi-lo no momento da transição ofensiva. Repetiram-se por isso os ‘chutões para a frente’ sem sentido (sobretudo nos primeiros 20 minutos), rapidamente intercetados pela Alemanha, que não só não permitia a Portugal subir no terreno como não colocava o adversário com receio de sofrer um golo.
#9. Ausência de posse de bola. A qualidade dos jogadores de Portugal merece uma proposta de jogo com mais posse de bola, até porque eles são bons em tudo e não tanto a defender. Alguma maior qualidade de saída em ataque posicional poderia empurrar a Alemanha mais para trás e impedir um volume de jogo ofensivo tão sufocante.
#8. Falta de agressividade. A distância ao portador da bola alemão era grande, inclusive quando este estava no nosso meio campo e/ou último terço. Nunca o físico de Danilo ou William se fizeram sentir, nem nunca vimos Bruno Fernandes ou Bernardo Silva de ‘dentes serrados’ a disputar bolas divididas. Como é que um equipa que só tem 40% da posse de bola na 1ª parte comete duas faltas, quando o adversário com 60% fez sete?!
#7. Última linha demasiado baixa. Para retirar espaço aos 3 atacantes alemães entre-linhas só existiam duas formas: ou baixamos a linha média ou subimos a linha recuada. A segunda opção é mais exigente mas comporta menos risco, porque uma vez a bola entrando no ataque alemão, mantém o jogo longe da baliza de Portugal.
#6. Permitir a inferioridade numérica na linha defensiva. A Alemanha colocava os laterais em profundidade sobre a linha defensiva de Portugal, e os seus três atacantes encaixados entre os quatro defesas portugueses. Aconteceu que, Danilo ao não baixar no corredor central e/ou os extremos portugueses a não acompanharem os laterais adversários, a Alemanha estava em superioridade numérica no ataque (5v4). E sempre que a bola entrava na frente, as ocasiões de golo sucediam-se.
#5. Não pressionar o meio-campo da Alemanha. Jogadores da qualidade de Tony Kroos, Gundogan e Kimmich, com tempo para pensar e agir (sem pressão), não só conseguem fazer passes a 50 metros no pé do colega, como o fazem tensos retirando tempo aos desdobramentos defensivos de Portugal inibindo-o de reequilibrar a já difícil inferioridade numérica na defesa (geralmente do lado contrário em Gosens).
#4. Ausência de capacidade de adaptação dos jogadores. A qualidade das grandes equipas como Portugal mede-se (também) na capacidade dos seus jogadores adaptarem-se ao que o seu adversário está a fazer sem necessariamente existir umaintervenção do seu treinador ou uma pausa para o efeito. No sábado, isso nunca aconteceu.
#3. Não mudar o comportamento (coletivo) ao intervalo. A entrada de Renato Sanches para o lugar de Bernardo Silva, do ponto de vista do reajustamento do plano defensivo de jogo, não teve qualquer efeito. Gosens continuou a não ser acompanhado pelo nosso ala ofensivo, e a superioridade alemã na frente manteve-se. A assistência do lateral esquerdo alemão aos 51 minutos e o seu golo aos 60 minutos demonstram isso mesmo.
#2. Não aprendemos com o jogo da França. Quem viu a França ganhar à Alemanha viu Griezman a defender a lateral direito numa linha de cinco, o trio Pogba, Kanté e Rabiot a pressionarem Kroos e Gundogan, e Mbapé a sair de forma eficaz no contra-ataque. Parece claro que deixamos escapar uma lição muito útil.
#1. O jogo foi mal preparado. O que aqui identificamos era do conhecimento de Fernando Santos, tendo sido mais do que discutido nos mais diversos meios de comunicação social. Ou a solução não foi bem desenhada, ou a solução não foi bem implementada, ou ambas. O certo é que desta vez, e talvez pela primeira, ficamos com a impressão que a nossa equipa técnica não foi competente.
Portugal tem agora que recuperar o seu foco competitivo depois das consequências psicológicas que este jogo pode ter deixado. Nem ontem éramos os maiores, nem hoje somos os piores. Contudo, continuamos a ser os campeões da Europa e a acreditar na nossa seleção!