Onde andará o espírito reformista do PSD?O Partido Social Democrata sempre foi conhecido pelo seu espírito único e especial, o de reformar. O ato de reformar é um ato de mudança e que implica coragem por quem toma esta atitude perante a sua sociedade.
Na sua fundação, com Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota, em 1974, o Partido Popular Democrático (PPD) adquiriu esta designação porque naquele contexto tinha aparecido um outro partido, chamado Partido Social Democrata Português, fundado por Adelino da Palma Carlos, um velho aliado e amigo político de Francisco Sá Carneiro. Porém, este mesmo partido político acabaria por desaparecer em setembro de 1974. Em 1976, o Partido Popular Democrático (PPD) passava a designar-se Partido Social Democrata (PSD).
Ao longo da sua história, o Partido Social Democrata teve inúmeros líderes, uns mais marcantes do que outros, como Francisco Sá Carneiro, que foi eleito primeiro-ministro em 1980, tendo ficado em funções apenas onze meses devido ao atentado de Camarate. Porém, foi com Francisco Sá Carneiro que nasceu o espírito reformista do PPD/PSD com a privatização dos setores industriais nacionalizados durante o período revolucionário, tendo aumentado também a despesa social no seu mandato. Sá Carneiro era conhecido pela sua postura firme e frontal na política, tendo sido um dos políticos mais carismáticos na história da democracia em Portugal.
Outro dos líderes marcantes da história do Partido Social Democrata foi Aníbal Cavaco Silva, ministro das Finanças no governo de Francisco Sá Carneiro, em 1980. Após cinco anos, ganharia as eleições legislativas com 29,8% dos votos dos portugueses, tendo liderado um governo minoritário. Porém, apesar dessa condição,, o próprio Cavaco Silva implementou mais uma vez o espírito reformista do PSD, com reformas estruturais na administração pública e na economia do país, tendo sido um dos principais responsáveis pela entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986. Com todo este êxito, Cavaco Silva levaria ao Partido Social Democrata a duas maiorias absolutas, com cerca de 50,2% dos votos nas eleições legislativas de 1987 e, nas de 1991, com 50,6% dos votos dos portugueses. Aníbal Cavaco Silva sempre foi caracterizado pela sua firmeza e assertividade no espaço político conservando-se até hoje um político muito carismático.
Porém, a história do Partido Social Democrata não se fez só de rosas, também teve líderes que não foram tão bem sucedidos a nível nacional, como Pedro Santana Lopes, Fernando Nogueira, Carlos Mota Pinto e Rui Rio.
Após a saída de Pedro Passos Coelho da liderança do PSD, em 2018, e com a chegada do Rui Rio em 2019, perdeu-se o espírito reformista deste partido durante os quatro anos de “rioismo”. O Rioismo trouxe a estagnação do reformismo social-democrata. O ato de mudar e reformar perdeu a sua essência, que tinha nascido e se tinha desenvolvido nas lideranças de Sá Carneiro, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Passos Coelho. Perdendo as bases do seu ADN reformista, o Partido Social Democrata já não é o mesmo.
Tornou-se um espaço de guerrilha interna e precariedade de ideias de mudança e de esperança, tanto para os sociais democratas, como para os democratas cristãos, liberais e conservadores. Mas também para os portugueses, porque a ascensão do Chega e da Iniciativa Liberal são o resultado desta precariedade de ideias reformistas e de constante guerrilha interna no Partido Social Democrata, que fez com que os portugueses perdessem a confiança, e talvez a esperança, na social democracia enquanto alternativa ao socialismo.
Por fim assistiu-se à vitória de Luís Montenegro nestas eleições diretas entre ele e Jorge Moreira da Silva para a liderança do Partido Social Democrata, onde o orador ganhou ao pensador. A tarefa do líder do Partido Social Democrata não será fácil perante as adversidades que estão bem visíveis perante todos nós. A inflação em Portugal e no resto do mundo, a inexistência de reformas no país, a aproximação do salário mínimo ao salário médio, o empobrecimento dos portugueses, o aumento da dívida pública e a continuação de uma guerra na Europa irá trazer ainda mais prejuízo para Portugal, se não se tomarem as medidas certas para não se cair em mais uma crise como a de 2008.
Com isto, penso que se deve exigir e pedir uma reforma interna no partido, com novas bases, e reacender o nosso tão querido e especial espírito reformista do PSD. Caso não haja uma reforma interna no partido, com mudanças determinantes, não se prevê um caminho risonho para o Partido Social Democrata no futuro, nem prevejo que a chama reformista volte ao PSD.
Por isso, existe muito trabalho a fazer por parte do novo líder do Partido Social Democrata para que volte o espírito da social democracia, justiça social, princípio democrático, solidariedade, humanismo e reformismo ao PSD perante o eleitorado português. Sem um partido de mudança em Portugal, como é e deve ser o Partido Social Democrata, a democracia portuguesa fica mais pobre e mais rica em tirania, com os partidos de extrema direita e extrema esquerda. A tirania é o principal inimigo de uma democracia frágil e estagnada.