Portugal precisa do turismo como do pão para a boca. O setor do turismo é a maior atividade económica exportadora do país, sendo responsável, em 2019, por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais. Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo o turismo em Portugal representa 16,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em termos de emprego, os números são avassaladores. Dependem do turismo quase 337.000 postos de trabalho diretos, tendo o turismo desempenhado um papel crucial na recuperação do país após a última crise financeira, nomeadamente na diminuição do desemprego. Existem no ativo cerca de 700 guias-intérpretes nacionais (AGIC e SNATTI). Cada guia acompanha anualmente 1200 turistas, maioritariamente estrangeiros. São cerca de 840.000 visitantes do nosso país a quem estes profissionais não só dão a conhecer o nosso país, mas, mais importante, dão a conhecer uma imagem positiva de Portugal.

Atualmente a situação não é animadora. Há 72 mil pequeníssimas empresas na área de restauração que empregam mais de 200 mil trabalhadores, que não recorreram nem vão recorrer a lay-off nem a nenhum apoio especial do Estado. Esses trabalhadores ficaram sem qualquer proteção social. Entretanto, 30% dos restaurantes ponderam declarar insolvência.

Neste cenário, apresentamos 13 razões para a abertura imediata do país ao turismo externo:

1 – Conseguimos evitar a rutura do sistema nacional de saúde – O desconfinamento que agora se iniciou, faz todo o sentido, pois, o objetivo de evitar a rutura do serviço de nacional de saúde foi alcançado (achatamento da curva).

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2 O contágio não vem (só) de fora – Não é quem vem de fora que nos vai contagiar. A Covid-19 está em Portugal, bem como em praticamente todos os países do mundo. Impedir a entrada de visitantes do exterior não impede o contágio.

3 – Vamos aprender a viver num mundo com a COVID19 – Não é certo quanto tempo demorará a criar e posteriormente vacinar toda a população portuguesa, bem como se ou quando vamos atingir a imunidade de grupo. Isso quer dizer que entretanto temos de aprender a viver com a COVID19. Nada impede, enquanto não há um segundo confinamento, que não se considere abrir o turismo também ao exterior. Com planos de contingência.

4 «Vá para fora cá dentro» não é suficiente – Os portugueses vão ajudar certamente, mas não vão encher as centenas de restaurantes e cafés dos centros das cidades, não vão comprar os produtos típicos e regionais, produzidos em Portugal, que viabilizam centenas de lojas que abriram nos últimos anos, não vão encher os hotéis e os apartamentos em AL. Não é suficiente. Serve de pouco ter as lojas e restaurantes abertos se não houver clientes. Veja-se como se encontram hoje a Rua das Flores no Porto e a Rua Augusta em Lisboa, ruas normalmente movimentadíssimas, com turistas, maioritariamente estrangeiros. Extrapole-se para todo o país estas duas imagens.

5 – A economia são as pessoas – Impedir a entrada de turistas estrangeiros impede a recuperação da economia, impossibilita a recuperação de postos de trabalho e o bem-estar de milhares de famílias portuguesas. A economia são as pessoas. A continuação da situação atual obriga à manutenção do confinamento económico, ao autoembargo que nos infligimos, também nas exportações (entrada de turistas são exportações de serviços).

6 – Há falta de oportunidades na emigração – Se durante a última crise financeira muitos portugueses desempregados procuraram refazer a sua vida através da emigração, agora será diferente. A crise é global, pelo que provavelmente essas oportunidades não vão surgir, não da mesma forma certamente.

7 – Há pessoas sem trabalho e sem apoio – Os profissionais mais mal pagos na Alemanha são os trabalhadores que fazem a limpeza dos quartos dos hotéis. Em Portugal não é muito diferente. A maioria de trabalhadores de hotéis, restaurantes, cafés e pequeno comércio, são mal pagos. Muitos são imigrantes. Existe também uma economia paralela, pessoas que direta ou indiretamente vivem do turismo. Sem trabalho e sem poupanças, muitas destas pessoas, desempregados, rapidamente são condenados à pobreza e à fome. Terá o estado português recursos e capacidade de resposta para apoiar dignamente estas pessoas?

8 – Podemos evitar o adiamento da retoma para a Páscoa de 2021 – O verão está à porta. Isto quer dizer que os turistas que não vierem nos meses de verão, à procura de sol e praia, são turistas perdidos. A época em que temos mais turistas em Portugal vai da Páscoa até ao final de Outubro. Ao não permitir a entrada de turistas estrangeiros em Portugal agora, estaremos a adiar o início da retoma do turismo externo para a Páscoa de 2021, na melhor das hipóteses.

9 – Temos uma oportunidade da confiança que se deposita em Portugal – Portugal tem uma boa imagem no exterior não só enquanto destino turístico, mas também no sucesso no combate à pandemia. É uma oportunidade única que tem de ser aproveitada. Não aproveitar esta oportunidade, será a oportunidade de outros países. Mostramos também confiança, confiança de que estamos preparados para receber turistas em segurança num mundo com COVID19. Outros virão a seguir aos turistas, como os estudantes universitários, que rapidamente voltarão a escolher Portugal para estudar.

10 As pessoas querem e vão viajar – Se por um lado as companhias aéreas retomam lentamente os voos também a vontade de portugueses e estrangeiros de fazerem férias é grande. Depois de quarentenas, isolamentos e confinamentos as pessoas querem sair e isso inclui viajar. Mais, precisam de reequilibrar o seu estado físico e mental, voltar à “normalidade” possível. Permita-se a vinda dos emigrantes. Convidemos os estrangeiros a voltarem ao nosso país, de forma segura e com as devidas precauções.

11  Os outros países antecipam-se a Portugal – A Itália tem avançado com campanhas agressivas em que assume o pagamento de uma parte do bilhete de avião e do alojamento dos turistas que optem por visitar o país. Em Espanha já existem normas específicas para visitas a museus, procedimentos específicos para guias-intérpretes bem como a forma como estes devem utilizar os áudio-guias com os seus grupos de turistas. Em Portugal também estão já previstos procedimentos para visitas a museus. A Grécia prepara reabertura a turistas estrangeiros já em Julho. A Islândia vai retomar a atividade turística a partir de 15 de Junho.

12 – Podemos fazer um bom trabalho de equipa – Agências de viagem, operadores turísticos, profissionais de turismo, monumentos, museus, hotéis, outras empresas e entidades, devem, em conjunto, criar grupos de trabalho e com o apoio da Secretaria de Estado do Turismo, Turismo de Portugal e da DGS desenvolver planos de ação concretos e mostrar como será a experiência turística segura, tendo em vista a rápida reabertura do turismo ao mercado exterior. Já temos o selo “Clean & Safe”, um bom ponto de partida e/ou a base de uma experiência turística segura.

13 – São possíveis viagens de grupo organizadas – Nada nos impede de receber viagens de grupo organizadas. É possível e seguro, definindo em detalhe o programa em sintonia com as diretrizes da DGS. Podemos definir número máximo de pessoas por grupo, proceder ao controlo de temperatura à chegada ao aeroporto, oferecer máscaras. Ter transportes conformes com o espaço físico de segurança e higiene, conforme as medidas em vigor em viagens de autocarro para o estrangeiro. Hotéis “Clean & Safe” previamente preparados para receber grupos asseguram a higiene e a segurança. Refeições em restaurantes previamente reservados com distanciamento físico. Visita a museus em conformidade com novos procedimentos de higiene e segurança. Visita a monumentos com hora marcada, como funciona, e bem, há vários anos a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Crie-se o selo “Clean & Safe” para um circuito turístico.

A Comissão Europeia apresentou dia 13 de Maio um conjunto de recomendações para reanimar o setor do turismo e a auxiliar os Estados-membros a levantar as restrições à circulação de forma faseada. Respeitando o princípio da subsidiariedade, temos de implementar o nosso plano a nível nacional.

O turismo externo não vai resolver tudo, mas pode, como se viu na última crise, dar um enorme contributo, imprescindível, na reconstrução de um país que se quer melhor. Vamos fazer aquilo que nos distingue de outros. Vamos fazer aquilo que melhor sabemos fazer. A capacidade de bem receber. Com ambição e arrojo, com um sorriso. Agora.