Foi anunciado o plano de emergência do Governo para a saúde. Em menos de 60 dias. Uau, parabéns! No caso dos Cuidados Continuados, infelizmente, é mais do mesmo.  Não contam para o(s) Governo(s) pois nem uma pequena, miserável que seja, referência merecem neste plano. Mas sem eles os hospitais simplesmente implodiam e com eles todo o SNS. Consta, do plano, no Eixo Estratégico 3 a “Libertação de camas indevidamente ocupadas nos internamentos hospitalares”, isto é, 2164 casos apontados pelo Governo, sendo que, destes, 44% (na realidade são muitos mais) aguardam vaga na Rede Nacional de Cuidados Continuados. O Governo não explica (provavelmente nem sabe como resolver, aliás como nenhum Governo sabe nem os políticos em geral sabem nada de coisa nenhuma) quais as soluções para resolver este problema, limita-se apenas a fazer essa referência.

Mais uma vez, e na senda da continuidade dos Governos PS, os Cuidados Continuados foram esquecidos. Não importa. Aliás, o sector dos Cuidados Continuados e o sector Social não importam. Afinal o que importa? Resposta óbvia, importa o que a comunicação social der atenção.

Funcionários públicos voltaram às greves. Televisões, rádios, jornais, cobrem os eventos com directos a toda a hora, nomeadamente antes e depois das reuniões com os Ministros. Tudo reivindicam e nunca nada que lhes seja dado é suficiente. É o umbigo a funcionar, cada um trata da sua vidinha e o colectivo que se lixe. A malta esquece que fazemos parte de um todo e que para todos vivermos melhor não podemos exigir o “céu” apenas para uns, quando o País é um “purgatório”. Cada sector da administração pública reivindica para si maiores salários e mais regalias, esquecendo que o País não tem condições para tal. Nós nos cuidados continuados não temos os media a acompanhar as nossas reuniões nem reivindicações – logo somos descartáveis, o(s) Governo(s) não quer(em) saber.

Todos os partidos defendem salário igual para trabalho igual. Sim, no discurso. Sim, para a administração pública, sim, na igualdade de género. Sim, pois fica bem perante a opinião pública. Mas… não nos Cuidados Continuados nem no sector Social. Apesar do decisor dos salários ser o mesmo (o Governo), há uma enorme diferença, uma enorme discriminação entre público e sector Social/Cuidados Continuados. Não querendo maçar o leitor, informo que a diferença entre público e social ronda entre os 60% a 80% a mais no público para trabalho igual/salário supostamente igual. Exemplo: dou o da profissão da Ministra da Saúde; um Farmacêutico em início de carreira que no público ganha cerca de 1.800€ e no Social/Cuidados Continuados 1.080€. Ambos cidadãos que vivem debaixo da mesmíssima constituição. Viva a liberdade e a igualdade dos 50 anos de Abril… para os funcionários públicos, claro.

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Reuni a 15 de Maio no Ministério da Saúde. Era para ser com a Ministra, mas afinal não pôde, provavelmente sem tempo e/ou o seu estatuto não lhe permite receber a ralé, ou a casta inferior, como preferirem (sim pois com tantos imigrantes asiáticos a substituírem portugueses que fogem daqui, é bom que comecemos a adoptar a sociedade de castas, pois em breve seremos a minoria e temos de nos adaptar), que isto não é coisa para Ministra. A reunião foi com as Secretárias de Estado (há que dar a imagem de diálogo pois são diferentes do anterior Governo – que nem dialogava). Mais de 1 hora de reunião a passar informação, mas apenas metade da informação, pois há que correr para a próxima reunião. O tempo não dá para mais. Há que reunir com quem verdadeiramente importa (os tais a que os media dão atenção). A maioria das coisas que falei foi surpresa, desconheciam. Mas não há mais tempo para ouvir, perceber o que está mal e que se resolveria com novos procedimentos e diretrizes claras. Nós portugueses somos assim.

Este problema dos internamentos hospitalares indevidos resolvia-se rapidamente e até poupando dinheiro. Mas para isso tinham de nos ouvir. Mas isso implica reconhecer que sabemos mais que eles e temos melhores soluções que eles. Por isso não dá.

Lamento informar o leitor, mas vamos continuar com falta de profissionais de saúde no verão (voltar às 40h na função pública é polémico e não dá votos, apesar de fazer sentido pois roubaram milhares de profissionais ao sector da saúde). No inverno, nos picos da gripe (e agora a somar o covid), vamos continuar com o caos nas urgências e com pessoas a ficar dias/semanas em macas de corredor por falta de camas para internamento (só para recordar os mais desatentos, as tais que estão ocupadas com pessoas que não precisavam de lá estar se ouvissem as nossas propostas para solucionar o problema – as tais do sector que nem fazem referência no plano de emergência, nós mesmo, o dos Cuidados Continuados).

“Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente pela mesma razão”. Há quem atribua a frase a Eça de Queiróz (outros a Mark Twain). Neste caso mudaram-se os políticos, mas continua tudo a cheirar mal no que respeita à forma como os (des) Governos tratam o nosso Sector.

O Governo fala ainda de 22,9% de prevalência anual de perturbações psiquiátricas na população portuguesa e de 12,2% da população com depressão crónica em Portugal. Permitam-me a sugestão, tratem de resolver os GRAVES problemas de sustentabilidade dos Cuidados Continuados para que, quem lá trabalhe, não passe de trabalhador (e contribuinte) a doente (e dependente).