Pronto, eleições de novo à porta! É já a segunda vez que Marcelo decide dissolver o parlamento. Fê-lo uma vez mais em total desrespeito constitucional pelo Conselho de Estado, pois que declara a sua decisão antes de ouvir este conselho como a Constituição lhe impõe. Foi assim da primeira vez em que anunciou prévia e publicamente a sua decisão de dissolver o parlamento caso um certo orçamento não fosse aprovado, foi assim desta feita quando já antes havia anunciado publicamente igual decisão caso ocorresse demissão da pessoa do actual primeiro-ministro, como agora veio a suceder. Enfim, é o que dá falar demais como é seu timbre. Claro que antes de passar tais decisões ao formal papelinho ouve o Conselho de Estado, mas por mero formalismo já que o parecer deste conselho não é vinculativo.

Mas, tricas à parte, a corrida eleitoral já rola de novo. Para a Iniciativa Liberal, partido que agora completa os seus primeiros 6 anos de vida, serão já as terceiras eleições legislativas nacionais a que concorrerá. Logo nas primeiras (2019) logrou eleger um deputado (por Lisboa) e, nas segundas (2022), oito (4 por Lisboa, 2 pelo Porto, 1 por Setúbal e 1 por Braga). Apesar de ser ainda grande a distância para o 10 de Março, as primeiras sondagens já publicadas vão indicando que continua a crescer. O que igualmente se infere dos crescentes ataques com que está a ser mimada por diversos outros partidos e muita opinião publicada, bem como da persistência no arrasto para que abdique da sua própria campanha em benefício da do PSD, tudo gerado naturalmente pelo medo daquele crescimento e seu impacto no quadro partidário.

E donde vem este crescente receio? Simplesmente do facto de já terem percebido que a Iniciativa Liberal é na realidade um partido político novo, que veio para ficar e se afirmar como alternativa aos partidos tradicionais na democracia portuguesa (PCP, PS, PSD e CDS) todos eles em processo de crescente definhamento de votos. Isto porque estes partidos tradicionais se têm mostrado incapazes de entender as diversas mudanças que estão a influenciar as nossas vidas e, consequentemente, de lhes dar adequadas e necessárias respostas, tal como aliás vai também sucedendo um pouco por todo o mundo dito ocidental, mormente na nossa Europa.

Das grandes mudanças que recentemente muito têm influenciado as nossas vidas atrevo-me a eleger as decorrentes da globalização, do ambiente e da tecnologia. Não pretendo discutir agora estas mudanças, nem aqui tal caberia, mas tão só salientar algum do seu impacto social, em particular nos jovens.

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A globalização, goste-se ou não, facultou também aos jovens um maior intercâmbio internacional, com tudo o que este convívio com outras culturas pode sempre representar de incremento pessoal e seu impacto na sociedade. No caso português, este convívio foi ainda reforçado para todos aqueles, em particular quadros técnicos e licenciados, que se viram obrigados a procurar trabalho noutras paragens face à sistemática pequenez da economia nacional, ou tão só na busca do elevador social que o país lhes continua a recusar. Muitos destes jovens há muito que perceberam que já não se reviam no discurso e políticas dos partidos tradicionais.

No caso do ambiente, muito também por incremento deste convívio, mas sobretudo por acesso a mais informação, tanto de produção nacional como internacional, temos vindo a assistir a uma progressiva consciencialização dos nossos jovens desde a adolescência. Poderá o ruído e a acção destes jovens ser ainda algo inconsequente, mas é bem demonstrativa de que a consciência ambiental já lá está. O que nos dá a confiança que o futuro será governado por cidadãos mais preocupados e orientados para as políticas ambientais. Também aqui muitos destes jovens cedo começaram a perceber que não se reviam nas políticas ambientais dos partidos tradicionais, pois que estas pouco mais têm sido que um pretexto para lançar novos impostos, taxas e coimas sobre o contribuinte e a economia em geral.

Mas talvez a maior mudança que vivemos seja a da evolução (quiçá mesmo revolução) tecnológica, cujo impacto social está a ser enorme e veloz. No modo de estar, de comunicar, de conviver, de trabalhar, de educar, de aprender, de deslocar, de cuidar da saúde ou de entreter. Todos nós sentimos o impacto destas mudanças no nosso dia-a-dia. Mas tanto adolescentes como jovens já crescem e vivem num mundo muito diferente do que ainda lhes é apresentado pelos partidos tradicionais, razão por que, também aqui, o seu discurso político já nada lhes diz.

Por assim ser, muitos jovens, desiludidos com os partidos tradicionais, vão-se refugiando na abstenção ou no voto em branco. Outros, para os castigarem, passam a entregar o seu voto a pequenos partidos de protesto, assim conferindo a estes uma visibilidade superior ao seu real peso social. É o caso do BE e, mais recentemente, do Chega. Com a geringonça, o BE já tentou dar um pequeno ar de partido político responsável, mas o Chega nem com tal se preocupa, pois, que, embora formalmente se afirme como partido político, limita-se a actuar como uma agremiação de protesto sob batuta unipessoal.

Mas tanto adolescentes como jovens têm necessidade de referências, o que só lhes poderá advir de políticas alternativas que, dando sentido a tais mudanças, lhes dêem também sentido à vida e lhes transmitam mais confiança no futuro. É que as mudanças que estamos a viver, em particular as tecnológicas, vêm sobretudo das empresas, suas movimentações e inovações. São pois coisas de empreendedores, de engenharias e de cientistas. Cabe agora à política dar-lhes sentido, não só no plano prático e legislativo, como ainda no da ética, fazendo com que tais mudanças se traduzam num saudável incremento social, em benefício do indivíduo, e não em convulsões sociais.

Como em tempos disse o historiador e cientista político americano Clinton Rossiter: “No America without democracy, no democracy without politics, no politics without parties, no parties without compromise and moderation.”

São estas suas afirmações, que não haverá democracia sem políticas nem políticas sem partidos, que justificam a existência, e o crescimento, da Iniciativa Liberal, pois que, quando os partidos tradicionais se mostram incapazes de desenvolver as novas políticas que a vida hoje pede, por estarem demasiado presos ao passado e a uma visão carreirista da vida partidária, só um novo partido, focado não em cargos mas em ideias e princípios, o poderá fazer, ou pelo menos ir contribuindo para tanto. Persistindo aqueles no seu progressivo definhamento, como actualmente acontece, outros partidos alternativos surgirão ainda.

É que são os partidos tradicionais quem está em crise. Não a democracia!