Não vos apresento nada de novo: o tema das portagens é bastante controverso, sendo uma luta já muito antiga que parece impossível de ser ganha. Destarte, o que poderia o Governo fazer e que benefícios traria aos utilizadores?

O Partido Social Democrata apresentou uma proposta, pela cabeça de lista de Castelo Branco Cláudia André, que consistia em reduzir o preço das portagens em 50% para todos os utilizadores, e em 75% para os veículos elétricos e não poluentes, proposta esta chumbada no parlamento pelo Partido Socialista, enquanto o PSD, o Chega e o BE votaram a favor. O PCP, PAN e IL abstiveram-se.

O restringimento dos pórticos só traria vantagens para os seus utilizadores, porém não parece que o Governo veja isto com bons olhos. Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, afirmou que “só ficaremos satisfeitos quando abolirmos as portagens no interior”. Uma afirmação cómica, uma vez que o Orçamento de Estado (OE) para 2022 não prevê qualquer tipo de redução do valor das portagens, o que mais uma vez contraria as promessas dos ministros e o próprio programa do Governo, que agora conseguiu uma maioria absoluta.

Recordo-me perfeitamente das promessas deixadas pelo PS, quando estava em campanha no distrito de Castelo Branco (distrito este que tem vindo a perder bastante população – 18 mil habitantes em 10 anos). Uma dessas promessas era a abolição das portagens. Face ao que se verificou no Parlamento, mais uma vez o Partido Socialista faz o que tanto gosta de fazer: prometer e iludir os portugueses.

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A abolição das portagens na A23 e na A25 poderia ser um grande avanço. Essa medida é extremamente necessária para todos os que vivem num interior desertificado. Segundo os Censos de 2021, Castelo Branco perdeu 9,4% da população em 10 anos e o distrito da Guarda 11,1% no mesmo espaço de tempo. Face a esta drástica diminuição não poderíamos facilitar na mobilidade?

Ir para a capital custa, à data de hoje, a cada contribuinte, cerca de 30,00 euros (ida e volta); já ir para o Porto tem um custo de cerca de 25,00 euros (ida e volta) – isto só em portagens. Não é sustentável que, para se visitar ou mesmo para morar no interior, tenhamos de estar a mais de 80,00 euros de distância das duas áreas metropolitanas.

No interior urgem medidas para atrair população e engane-se quem acha que estas não passam também pelos transportes e pela mobilidade. Se já há tantos apoios por parte do Estado para veículos elétricos, a redução das portagens em 75% não seria um benefício mais do que óbvio? Beneficia quem tem carros que não poluem e quem vem ao interior, seja para que finalidade for. Para os veículos ditos ainda “comuns”, como carros a gasolina ou gasóleo, reduzir 50% a pensar na abolição não faria sentido? Não só em carros particulares, como também em transportes de mercadorias e transportes de passageiros, a fim de facilitar ainda mais a deslocação para o interior.

Mas não só Ana Abrunhosa deve arcar com as consequências das suas decisões. Vítor Pereira, presidente da Câmara Municipal da Covilhã, e também presidente da federação distrital do PS em Castelo Branco, vota contra o futuro da “sua” população. Para Vítor Pereira, primeiro está o Partido Socialista e só muito depois vem o seu distrito e o seu concelho.

Este interior necessita de novas ideias, caso contrário arrisca-se a perder mais 36 mil habitantes (Castelo Branco e Guarda) nos próximos 10 anos.

É essencial e imprescindível reduzir custos de contexto que penalizam as empresas e as famílias do interior, como é o caso das portagens nas ex-scut. E esta deveria ser uma verdade aceite por todos. Não vejo o atual Governo preocupado com quantas pessoas o interior perdeu, mas sim com quantas pessoas o litoral ganhou. Desta forma, não surpreende que as medidas que toma sejam ridiculamente desproporcionais. Mais uma vez ganha muito, muito mais o litoral que o interior.

As portagens são só a ponta do iceberg de medidas que o atual executivo pode impulsionar. Há ainda a questão do 5G, e outras medidas para que o interior não fique abandonado. O importante é reconstruir a proximidade dos serviços públicos no relacionamento com os cidadãos, nos diferentes territórios do país, pondo termo ao abandono do interior. A título de exemplo, podemos “expulsar” serviços e institutos da administração central do Estado de Lisboa e garantir a igualdade de acesso às infraestruturas modernas de comunicação para todos os contribuintes.

Acordemos antes que seja tarde.