Quem conhece o concelho do Porto sabe bem das suas especificidades eleitorais. Há muito que os eleitores do Porto se deixaram de “clubismos” partidários na hora de depositar o seu voto autárquico. Nesta cidade, o que conta são mesmo as pessoas. Só isso explica que o poder autárquico tenha passado do PS para o PSD e logo de seguida para um movimento independente apoiado “apenas” pelo CDS e pela IL.
Se olharmos para as últimas eleições nacionais verificamos que a AD ganhou as Legislativas por pouco e que uns meses depois o PS ganhou as Europeias no concelho também por muito pouco. Nisso somos um concelho barómetro, com uma pequena mas muito importante excepção: somos dos concelhos mais imunes ao efeito Chega – para verificar este facto basta vermos que nas Europeias o partido de André Ventura só teve 7,72% e que mesmo nas Legislativas não passou dos 9,99%, em claro contraste com o resto do país.
Se a esta conjuntura juntarmos a limitação de mandatos de Rui Moreira e o facto de não ter deixado um sucessor com o mesmo grau de mediatismo, verificamos que estão mais do que abertas as condições para o PSD voltar ao poder na autarquia. Mas para isso, sejamos francos, precisaremos sempre do CDS, da Iniciativa Liberal e também de Independentes – muitos dos quais apoiaram Rui Moreira nos últimos anos.
Por outro lado, a saída de Rui Moreira, a trapalhada das Europeias e a aparente inércia do PSD Porto nos últimos anos, podem ser também palco de uma tempestade perfeita: o regresso do PS ao poder autárquico, seja sozinho, seja em coligação com BE, Livre e CDU, que nas Europeias totalizaram em conjunto 17,41% dos votos no concelho. Algo que mesmo com a devida distância, não pode ser menosprezado.
Muito do sucesso da primeira eleição de Rui Moreira deveu-se ao facto de um movimento independente trazer frescura à cidade. O que proponho é outro momento de refrescamento do campo político do centro-direita portuense: a constituição de uma coligação autárquica encabeçada pelo PSD que junte CDS e Iniciativa Liberal, e que possa também acolher independentes.
Mas queremos ir ainda mais longe, fazendo algo que nunca foi feito em nenhuma cidade portuguesa: eleições primárias – às quais qualquer portuense se poderá candidatar – e onde poderão votar todos os militantes dos referidos partidos, mas também todos os não militantes que declarem apoio à coligação.
A cidade do Porto sempre foi orgulhosamente o grande motor de enormes mudanças nacionais. Não é à toa que somos o berço do Liberalismo. Agora queremos ser também o embrião de uma nova forma de fazer política: mais aberta ao cidadão comum, mais próxima dos eleitores e mais transparente nos processos de escolha dos candidatos.
Estou certo que quem sair vencedor deste modelo de primárias será um candidato autárquico mais legitimado, com maior rasto mediático e melhor preparado para ganhar eleições. É um processo em que toda gente que está na política para servir os outros, sairá a ganhar — mesmo que perca.