Segundo o mais recente Digital Economy and Society Index (DESI) de 2022, Portugal continua atrás da média europeia, ocupando o 15º lugar entre os 27 Estados-membros, tendo subido uma posição face a 2021. O pódio é ocupado pela Finlândia, Dinamarca e Holanda.
Pela positiva, destaca-se a utilização de tecnologias para sustentabilidade ambiental em 1º lugar, a partilha eletrónica de informação e a utilização de IA, ambas em 2º lugar, e a adesão a banda larga e a cobertura de fibra ótica, ambos em 3º lugar.
Pela negativa, Portugal é o penúltimo país onde o preço da banda larga é mais elevado, na cauda da Europa em percentagem de licenciados em TIC (25º lugar), com um dos menores usos de dados abertos (23º lugar). As competências básicas de software colocam-nos no 21º lugar, a utilização de redes sociais nas empresas em 22º e os utilizadores de e-Government em 21º.
Depois de mais de dois anos de pandemia, sabemos já de cor a enorme exigência que recai sobre nós em termos de resiliência digital – enquanto cidadãos ou dentro das organizações. Este indicador da resiliência digital transformou-se já num impulsionador efetivo da transformação. A situação já desafiante que vivíamos foi agravada, em 2022, com a inesperada guerra na Ucrânia, cujas consequências económicas, políticas e sociais assumiram proporções muito além do previsto, colocando também, no mundo digital, a guerra cibernética no topo das preocupações das organizações.
Portugal, juntamente com os restantes 26 Estados-Membros da UE, foi posto à prova em novos domínios, com novos modelos de trabalho, novos canais digitais, novos métodos de capacitação e requalificação e novas exigências ao nível da segurança. Tudo áreas onde a tecnologia e a maturidade digital da nossa sociedade assumiram um papel central na resposta às crises que atravessamos.
O DESI é um indicador quantitativo, publicado anualmente, desde 2015, pela União Europeia, que pretende avaliar e comparar a competitividade digital dos 27 Estados-Membros, identificando políticas nacionais e áreas de intervenção prioritárias para a inovação digital sustentada. Esta análise é estruturada em quatro dimensões fundamentais – Capital Humano, Conectividade, Integração de Tecnologia Digital e Serviços Públicos Digitais –, que são detalhadas em 33 indicadores, permitindo o acompanhamento da sua evolução ao longo do tempo.
No ranking geral, Portugal ocupa o 15.º lugar entre os 27 Estados-Membros da UE na edição de 2021, subindo um lugar face a 2021, o que confirma a trajetória de convergência com a média europeia.
Relatório live:
Capital Humano
Na dimensão Capital Humano mede-se o nível de competências digitais da população, o número de profissionais em área TIC e a formação superior. Nesta dimensão, Portugal registou uma das evoluções mais positivas, recuperando do 18.º lugar para o 14º, entre os 27 países da EU e pontuou pela primeira vez acima da média europeia.
Destacam-se, em particular, as competências básicas de software, em 14º lugar, a recuperação nas competências digitais avançadas, para 12º lugar, bem como a percentagem de especialistas em TIC (12º), de mulheres especialistas TIC (13º), e também a percentagem de empresas de formação em TIC (13º), situando-se todos estes indicadores acima da média europeia.
Apesar dos progressos observados nesta dimensão, de uma forma geral Portugal mantém o antepenúltimo lugar na percentagem de licenciados em TIC, o que reflete a urgência da implementação de medidas de mitigação por parte das universidades e institutos politécnicos, designadamente através do investimento em bacharelatos, licenciaturas e cursos de especialização que apostem nas competências digitais.
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Conectividade
Em 2021, Portugal desconectou-se. Nesta dimensão, retrocedemos do 15.ºpara o 18º lugar entre os 27 Estados-Membros. Fomos bons a aderir à banda larga fixa e na cobertura de fibra ótica (3º) e integramos o top 10 na cobertura da rede fixa de capacidade muito elevada (VHCN). Nos restantes indicadores, Portugal afunda: ocupa o penúltimo lugar na cobertura 5G e o 23º tanto no que diz respeito à adesão à banda larga móvel como no preço da banda larga.
Os resultados pesados nestes indicadores prejudicam o desempenho do país na dimensão da Conectividade, sendo fundamental aumentar a percentagens de cobertura das redes de capacidade muito elevada e a adesão à banda larga móvel, incluindo nas zonas rurais.
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Integração de Tecnologias Digitais
A dimensão Integração de Tecnologias Digitais mede a adoção de tecnologias digitais por parte das empresas na execução da sua atividade, com indicadores que vão desde a utilização de redes sociais, passando pelo comércio eletrónico, até formas de adoção digital mais avançadas como computação cloud, big data ou inteligência artificial.
Portugal ocupa, pela primeira vez, um lugar acima da média europeia, passando do 17º lugar em 2021, para o 12º lugar em 2022. Destaca-se pela positiva a utilização de TIC para a sustentabilidade ambiental – onde lideramos –, a utilização de inteligência artificial e partilha eletrónica de informação – em ambos no segundo lugar –, seguindo-se a percentagem de comércio eletrónico, na 12ª posição.
Pela negativa, a percentagem de PMEs com nível básico digital é muito inferior à média europeia (18º), a adoção de computação cloud é menor que a média na UE (17º), a faturação eletrónica (18º) e nas PMEs que vendem online (19º).
Apesar da promoção ativa da tecnologia no nosso tecido empresarial, constituído maioritariamente por microempresas que operam em setores tradicionais com baixa literacia digital, é fundamental continuar a apostar em estratégias de integração de tecnologia digital nos processos de negócio, de promoção do empreendedorismo, de criação de conhecimento e propriedade intelectual e, paralelamente, complementar com a capacitação digital e requalificação dos profissionais. Uma nota para a estratégia de computação cloud para a administração pública, a cargo do C-TIC, que poderá representar para Portugal um importante acelerador da trajetória europeia nesta área.
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Serviços Públicos Digitais
Esta dimensão avalia a adoção de tecnologias digitais por parte da administração pública no seu relacionamento com os cidadãos e empresas, seja pela prestação de serviços online, ou pela disponibilidade de acesso a plataformas de dados abertos. Portugal mantém o 14.º lugar, dois lugares acima da média da UE.
Destaca-se pela positiva a disponibilização de serviços digitais ao cidadão e a empresas (12º lugar). Pela negativa, nota-se a baixa utilização e rentabilização de dados abertos, ocupando a 23ª posição, e o número de utilizadores de serviços públicos permanece muito abaixo da média da UE, no 21º lugar.
A estratégia nacional para a computação cloud, de janeiro de 2021, aborda questões pendentes em matéria jurídica, contratual e financeira, preocupações com a segurança e a localização de dados, bem como questões estruturais tendo em vista a normalização e simplificação de conceitos, o que poderá reforçar a adoção de medidas para digitalizar serviços públicos. Em paralelo e de forma transversal, o esforço para melhorar as competências digitais básicas permitirão que uma maior percentagem da população beneficie destes serviços.
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Conclusão
Portugal parece começar a recuperar no Capital Humano e na Integração de Tecnologias Digitais, duas dimensões nas quais conseguimos, pela primeira vez, ficar acima da média dos 27 Estados-Membros. O resultado reflete a importância e o impacto da execução integrada e transversal do plano de transição digital do Governo, em cada um dos três pilares – Pessoas, Empresas e Estado –, com o objetivo de termos empresas mais competitivas, mais pessoas com competências digitais, melhores serviços digitais e uma administração pública mais ágil e mais capacitada.
Contudo, é fundamental perceber que, apesar de todas as iniciativas nacionais nesta matéria, os restantes 26 Estados-Membros continuam a desenvolver novas ações que lhes permitem manter a liderança no digital, como se constata na evolução temporal de cada indicador. O DESI e as iniciativas de transição digital não se ganham no sprint do ranking anual, mas sim como se de uma maratona se tratasse, a passo largo, corrida contínua e em ritmo acelerado, onde a inovação, a adoção de novas tecnologias, a requalificação e a aprendizagem, são os grandes impulsionadores de curto e longo prazo.