A bem do interesse nacional. Muito se tem arrogado, instigado, coagido, a bem do interesse nacional.

Sejamos claros. Não há bondade para com o país, quando não há bondade para com a democracia. Não há interesse nacional, quando não há interesse democrático. E é disso que falamos. Democracia. Porque é disso que se trata, o ato de exercer a democracia, plasmado num voto, num partido, num líder.

E por isso mesmo a situação interna do Partido Social Democrata, assume contornos tão fundamentais na personificação da democracia. Na manifestação do interesse nacional. Porque a escolha do seu líder através de eleição direta, porque a realização do seu congresso, porque a escolha de pessoas, equipas, programas, estratégias, são fatores determinantes nas escolhas que se querem conscientes e informadas, e que se fazem a bem do interesse nacional.

Porque o escrutínio em final de mandato, daqueles que geriram os seus destinos, é saudável, natural e desejável. E é demonstração de vigor e robustez democrática. A bem do interesse nacional.

É com base neste enquadramento que se gera a dificuldade em entender as resistências acrescidas que artificialmente, ou não, se têm procurado introduzir no processo eleitoral social democrata, bem como a resistência que o Dr. Rui Rio manifesta relativamente à necessidade de clarificação da situação em que se encontra o Partido que lidera, bem como o papel que os seus militantes lhe pretendem, ou não, continuar a conferir.

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Perante o calendário previsto nos Estatutos do PSD e pela circunstância de se ter apresentado no prazo adequado para o efeito, um desafio democrático e legítimo, à liderança que agora cessa o seu mandato, impõe-se que os militantes se pronunciem. Resistir a que a tal ocorra, trazendo para a praça pública aquilo que só aos militantes do PSD compete decidir, é contribuir para o descrédito do principal partido da oposição junto dos portugueses, comprometendo por sua vez, o tão almejado interesse nacional.

O país político encontra-se num impasse. Por um lado, a solução de governabilidade à esquerda foi e estará comprometida; por outro, porque à direita os novos partidos podem ser o abrigo de uma parte do descontentamento eleitoral e porque os “velhos” partidos encontram-se em desgastantes processos internos que não os credibilizam.

O espaço do centro e da direita moderada têm a oportunidade, e a obrigação, de devolver ao país uma alternativa à governação de esquerda destes últimos 6 anos. Os portugueses escolherão, mas a alternativa a apresentar tem de ser robusta do ponto de vista das propostas e credível pelos protagonistas.

Ao PSD exige-se que se constitua como alternativa séria, quer pelos que a protagonizam, pelas suas ideias e, não menos importante, pela forma como se apresenta às eleições. A capacidade de colar os cacos de um processo eleitoral que deixará marcas deve merecer preocupação. E deve merecer um líder que saiba agregar, sem espaço para subjugações ou nevoeiros. Que seja correto, mas rigoroso na crítica.

Desse ponto de vista, Paulo Rangel reúne o pragmatismo ao bom senso para alcançar aquele objetivo. A candidatura de 2010, em disputa com Pedro Passos Coelho e Aguiar Branco, da qual fui participante ativo, é um bom exemplo pela moderação do discurso e pela capacidade de juntar sensibilidades do partido tão distintas.

Pela parte de Rui Rio, a sua liderança fica marcada por resultados eleitorais modestos, por combatividades inconstantes, mal direcionadas e até mesmo incompreendidas. Já no plano interno, destacaram-se vezes demais o sectarismo, o despotismo e a arbitrariedade.

Encrustado a uma visão maniqueísta, de um lado os bons e do outro os maus, foi incapaz de conceder espaço àqueles que com ele disputaram a liderança, primeiro com Pedro Santana Lopes, mais tarde com Luís Montenegro e com Miguel Pinto Luz. O Partido apenas perdeu com isso.

O PSD nunca foi, e nunca será, de uma só sensibilidade. Querer limitá-lo a isso é comprometer o seu desígnio de servir Portugal.

Venham as eleições. Primeiro as internas, depois as do país. Em democracia, as opções decidem-se assim. A bem do interesse nacional!

Marco Almeida

Militante do PSD, Sintra.