Em Portugal, 300 mil pessoas enfrentam diariamente essa realidade. No mundo, são 125  milhões. Mas o que significa, na prática, viver com psoríase? Não é apenas gerir os  sintomas visíveis, como as placas vermelhas e escamosas. É lidar com perguntas  indiscretas, com olhares desconfortáveis, com o silêncio ensurdecedor de quem não  sabe o que dizer.

A maior dor de quem vive com psoríase não vem da pele – vem do preconceito. Apesar de  ser uma doença não contagiosa e reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como  grave e sistémica, a psoríase continua a ser mal compreendida por muitos. E quando a  sociedade não está à altura e o desconhecimento se mistura com o medo ou o  desinteresse, o resultado é o estigma.

Pais que evitam deixar os filhos brincar com outras crianças por medo de “apanharem  alguma coisa”. Colegas de trabalho que sugerem, subtilmente, que “talvez fosse melhor  usar mangas compridas”, ou se afastam. Relacionamentos interrompidos porque as

marcas da pele se tornam mais visíveis do que as qualidades da pessoa. Para quem vive  esta realidade, o mundo pode parecer um lugar inóspito.

E depois há as famílias. Para elas, o peso do estigma é igualmente difícil de carregar.  Assistem, impotentes, ao sofrimento de quem amam. Tentam apoiar, mas, muitas vezes,  também sentem o olhar desconfiado da sociedade. E por fim, a culpa, que bate à porta  procurando alguém ou algo para responsabilizar. “Terá sido uma gravidez com demasiado  stress? Terão sido necessidades não satisfeitas na primeira infância?”

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A pele, enquanto maior órgão do corpo humano, espelha muito do nosso sistema nervoso,  por isso, uma doença como a psoríase às vezes comunica o que o cérebro tenta calar. Daí  o impacto da psoríase ir além da pele. Uma pessoa com psoríase enfrenta, com  frequência, taxas elevadas de depressão, ansiedade e até ideias suicidas, especialmente  quando as lesões estão em áreas visíveis como o rosto e as mãos e interferem  significativamente na qualidade de vida. As consequências podem ser devastadoras:  isolamento social, dificuldades profissionais, relacionamentos interrompidos, sonhos  comprometidos e uma baixa autoestima.

Mas há algo que merece ser dito em voz alta: não é a psoríase que exclui – é a forma como  reagimos a ela enquanto sociedade e o lugar que lhe atribuímos na nossa vida.

O que mais faz falta? Empatia, acima de tudo. Entender que a psoríase é uma condição  de saúde como tantas outras, e que ninguém deve ser definido pela sua aparência. E isto  passa também por aquilo que dizemos a nós próprios.

Cabe-nos a todos quebrar o ciclo do preconceito, com pequenos gestos: ouvir com mais  curiosidade e menos julgamento, informar-nos mais de fontes fidedignas e acharmos  menos, incluir a diferença com respeito em vez de afastar ou discriminar. Seja connosco  mesmos, seja com os outros, ganhamos todos em trocar o desconhecimento, a culpa e a  vergonha por informação consciência, empatia e compaixão.

As famílias têm um papel central neste caminho. São o refúgio seguro de quem enfrenta  o estigma diariamente. Mas para que esse apoio seja realmente eficaz, é fundamental que  as famílias também se informem, procurem ajuda especializada quando necessário e  cuidem da sua própria saúde mental, porque quem cuida precisa também ser cuidado.

As redes de apoio, associações e profissionais que existem têm de ser suporte mais  acessível aos cuidadores. A força nasce na união, e é na partilha que encontramos formas  de resistir e avançar.

A psoríase não define quem a tem. É apenas uma parte de uma vida rica e cheia de  potencial. O que define verdadeiramente uma pessoa são as suas ações, os seus valores  e a forma como escolhe enfrentar os desafios.

Ninguém é só a sua pele. Ao mesmo tempo, seja qual for a nossa pele, a nível de tom e  aspeto, merecemos respeito. E se conseguirmos lembrar-nos disso, não só

transformaremos a vida de quem vive com psoríase, mas também a nossa visão do  mundo. Afinal, somos todos mais do que aquilo que se vê à superfície.

A PSOPortugal é uma instituição onde os doentes psoriáticos e as suas famílias podem  procurar ajuda e esclarecimento, que recomendo que procurem caso sofram ou  conheçam alguém que sofra com esta doença. Este ano, associámo-nos à Couto, para  uma campanha de informação e sensibilização, onde 10% das vendas das Pastas  Dentífricas da marca, na loja física ou online, revertem para a PSOPortugal. O Coletivo  Transformar oferece também consultas individuais (online ou presenciais) de apoio  psicológico para associados, a um preço reduzido.

Que este seja o início de um novo ciclo – um ciclo onde a empatia substitui o estigma, e  onde, juntos, damos um passo em direção a uma sociedade mais empática.