O meio século de regime desta Terceira República parece destinado a cumprir-se no manifesto incumprimento do terceiro D de Abril: o desenvolvimento. Crise no Serviço Nacional de Saúde, crise no Ensino, crise na Habitação, emigração de quadros jovens, agravamento das desigualdades económico-sociais e uma legião de pobres e sem-abrigo que não ficará atrás dos índices de miséria dos anos 50.

O poder da Esquerda

A isto junta-se uma série de escândalos de grande, média e pequena corrupção, desde um primeiro-ministro que já ficou atrás das grades, até às notas e anedotas que circulam pelos gabinetes de S. Bento. E como se não bastasse, nas empresas, trocámos industriais e capitalistas portugueses por accionistas anónimos estrangeiros – chineses, espanhóis, americanos. Não temos um único banco nem uma única grande indústria nas mãos de portugueses e ninguém na classe política, nos media de referência, na oligarquia desta Terceira República parece muito preocupado com isso.

Quem são os responsáveis? Os governantes, que são quem manda, e os governados, que são quem vota.

Mas há uns mais responsáveis que outros. Quem governa Portugal, desde há quase 50 anos, é a Esquerda, com escassos intervalos de centro-direita, basicamente passados a tentar tapar os buracos da Esquerda.

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É preciso ter isto presente e saber o que se quer e o que não se quer, para daqui a dois meses não haver equívocos sobre tudo ou quase tudo.

É que, ao contrário do que disse Bill Clinton a George Bush-pai (“It’s the economy, stupid!”), desta vez não é a economia. Ou não é só a economia, já que a economia nacional – excluindo a tributação, os ruinosos rasgos nostálgicos de sobre-estatização, o desinvestimento nos serviços públicos e a falta de incentivo à iniciativa privada nacional, que não são de somenos – é mais depressa decidida em Bruxelas e em Frankfurt do que em Lisboa. Como já não há economias socialistas de direcção central, aqui, a margem de decisão será só se a nossa vai ser mais ou menos socialista, mais ou menos capitalista, mais ou menos liberal, mais ou menos caótica, mais ou menos condicionada pela conjuntura internacional e decidida pela Comissão Europeia – e pelo BCE.

Assim, na escolha eleitoral, devem sobretudo pesar questões políticas, como a independência e a identidade nacionais e a sua defesa, o entendimento da História, a liberdade de expressão, os valores de referência. Queremos viver numa comunidade política independente, num Estado nacional, com fronteiras, numa Europa de nações, ou queremos a abolição dessas fronteiras no federalismo europeu, etapa e via para o globalismo selvagem?

As questões “fracturantes”

E que valores queremos para a sociedade e para as famílias? Queremos descartar os velhos, oferecendo-lhes a morte? Evitar os nascituros, interrompendo-lhes voluntariamente a vida? Queremos o delirante encorajamento da ambiguidade e da transexualidade desde a infância por leis passadas à socapa por executivos em gestão?

Tudo isto tem sido obra da Esquerda, que deixou de se preocupar com aquilo que tradicionalmente a nobilitava – a justiça social e a causa dos trabalhadores, dos marginalizados, dos mais frágeis – para ir atrás de imaginativos “activismos” minoritários de entediadas elites urbano-depressivas. Numa sociedade onde, felizmente, ninguém é penalizado pela sua índole e pelos seus costumes, a maioria dos portugueses espera, pelo menos, não passar a ser perseguida pela sua, talvez pouco imaginativa, “normalidade” – esperança que poderá bem vir a ser vã.

E quanto à História? Vão continuar a chover subsídios aos historiadores e divulgadores da História nacional como uma crónica de esclavagismo e exploração, num masoquismo incontinente, pago pelos impostos de todos? E o Portugal do Estado Novo, vai ser contextualizado e olhado com verdade, no bem e no mal, ou vai continuar a ser divulgado como uma filial da Inquisição e do Terceiro Reich, responsável por todos os males, perante o angelical e impoluto regime que há 50 anos lhe sucedeu?

Este ano completam-se 500 anos sobre o nascimento de Camões e a morte de Vasco da Gama: que irão fazer para os celebrar os que designaram e financiaram uma comissão de festas para, de 2021 e até 2026, celebrar os 50 anos da revolução de Abril e do regime?

É em relação a estes pontos, éticos e ideológicos, que devemos medir e avaliar as agendas dos que se apresentam a voto nas eleições que se aproximam – julgando-os por isso e não pela simples enunciação, mais ou menos vocal, mais ou menos articulada, da sua maior ou menor vontade de combater o partido do governo. É tendo por eixo estes pontos que o eleitorado que se identifica com a Direita – ou mesmo com a não-Esquerda – deve orientar o seu voto, já que são eles que vão determinar a comunidade e a sociedade onde vamos viver – nós, os nossos filhos e os nossos netos.

O voto, o voto útil, já não deve servir só para recusar um mal maior, mas também combater males “subsidiários”, as tais questões fundamentais a que alguns responsáveis políticos escolhem chamar “questões de consciência”, deixando-as, numa cómoda ambiguidade, na mão dos representantes, para que decidam por nós segundo a sua inclinação pessoal.

Deveremos nós, os representados, que sabemos o que queremos e o que não queremos, passar uma procuração a deputados cuja opinião desconhecemos para que votem “em consciência” em questões fundamentais?

Se queremos viver numa comunidade mais segura e numa sociedade mais justa e melhor, não basta rejeitar o que está: temos o direito e o dever de exigir que nos apresentem propostas claras.