Começou no TikTok e hoje já é mais do que um tabu nas empresas. O “Quiet Quitting” (ou “Demissão Passiva” (como já se chama por cá) é a nova, discreta e impactante tendência do mundo do trabalho. Há quem interprete como “não fazer mais do que aquilo para que lhe pagam”, enquanto outros defendem como a salvaguarda da saúde mental.

Ao contrário do que possa parecer, o significado não está relacionado com uma “desistência silenciosa”. Trata-se sim, de adotar uma postura de cumprimento de tarefas inerentes à função. Não é realizado nem mais nem menos que o trabalho previamente definido e no horário de trabalho estabelecido.

No século 21, durante a Grande Recessão de 2008, o excesso de trabalho tornou-se popular entre as gerações mais jovens que sentiam que precisavam trabalhar longas horas e iniciar por exemplo um negócio paralelo para alcançar o sucesso no clima económico difícil. Representações positivas da cultura “workaholic” (especialmente nas redes sociais) rapidamente normalizaram – e romantizaram – o excesso de trabalho e o desgates provocado pelo mesmo.

Mais do que uma tendência, este é um tema que certamente irá confrontar gerações e hierarquias. Não se trata de quem está certo ou errado, mas sim na capacidade em transformar o problema de uns e a convicção de outros numa oportunidade para ambos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Refletir sobre o quiet quitting é uma oportunidade para as organizações reavaliarem as suas prioridades e construírem ambientes de trabalho onde os seus colaboradores se possam sentir seguros, envolvidos, inspirados e produtivos – seja em casa, no escritório ou na “linha da frente”. Eis algumas ideias:

  1. Redução da carga de trabalho: Durante a pandemia, muitos colaboradores adotaram novos hábitos de trabalho à medida que as empresas se adaptavam à nova realidade. Muitos desses hábitos não foram descartados. Esse trabalho extra às vezes não é reconhecido e deixa as equipas exaustas. A carga de trabalho deve ser reexaminada, para descobrir quais as tarefas que acrescentam valor e que aumentam de forma significativa os resultados.
  1. Refletir sobre o poder do online: Millennials e Gen Z serão, brevemente, a maioria da força de trabalho. Embora pesquisas recentes mostrem que os millennials trabalham por vezes em excesso, estes dois grupos combinados são mais suscetíveis a desafiar velhas formas de pensar e fazer. A cultura de trabalho está a mudar e isso poderá impactar negativamente empresas que pressionam os seus colaboradores a trabalhar demasiado, que acabarão por partilhar a sua insatisfação online.
  1. Dê aos colaboradores os recursos que necessitam: É difícil pensar de forma inovadora ou adotar um trabalho significativo quando se está constantemente imerso na carga de trabalho. Os empregadores devem fornecer aos seus colaboradores as ferramentas e o suporte que necessitam para a realização das suas tarefas de forma eficaz e eficiente dentro do horário de trabalho. 
  1. Tornar o trabalho emocionante: Nem todo os empregos são entusiasmantes. Facto. Mas oferecer oportunidades para praticar e desenvolver novas competências e desfrutar de novas experiências poderá ser uma boa estratégia para manter uma função fresca e envolvente para colaboradores, seja qual for o seu nível de senioridade.
  1. Repensar os benefícios:À medida que os desafios económicos fazem com que as pessoas e empresas em todos os lugares sintam o aperto, muitos trabalhadores não recebem aumento salarial, promoção ou recompensa há muitos anos. Não é de admirar que eles não queiram continuar a apresentar resultados quando sentem que continuam a não ser reconhecidos ou recompensados ​pelos seus esforços. Mesmo que as recompensas financeiras não sejam uma opção viável, outro facto é que o “salário emocional” continua a ganhar relevo, mesmo para quem sempre recebeu bem. A cultura de trabalho está a evoluir e os colaboradores têm hoje expectativas maiores sobre as suas chefias.

Por fim, uma certeza: O Quiet Quitting será tudo menos um movimento silencioso.