A execução do Novo Terminal de Contentores (NTC) do Porto de Leixões não está a decorrer dentro da janela prevista, resumidamente devido a três fatores: incapacidade de financiamento direto da APDL, agravada pela perda de receitas fruto do encerramento da refinaria da GALP e do período pandémico; incerteza quanto ao seu modelo de concessão; e uma crise de governance exacerbada pelas quezílias partidárias sobre a nomeação do próximo presidente da administração.
O Novo Terminal de Contentores é a terceira e última (e indispensável) fase do projeto de expansão do Porto de Leixões que irá permitir que o porto receba navios maiores.
Em 2019 numa reunião com a APDL juntamente com a DGRM, Comunidade Portuária de Leixões e APA, em representação do movimento Diz Não Ao Paredão contestei que tivessem dividido o projeto em três fases e com uma agravante: avançar primeiro com o prolongamento do quebra-mar e o aprofundamento da bacia de rotação sem que estivesse garantido o Novo Terminal de Contentores – relembro que à data desta reunião o projeto do NTC estava longe de ser aprovado, aliás, estava ainda em cima da mesa a idiótica proposta de se acabar com o porto de pesca para dar lugar aos contentores.
Durante a fase de contestação do projeto, foram algumas (poucas) as vozes de técnicos ligados ao setor que se levantaram sobre a extemporaneidade do projeto e o facto de ir em contraciclo à tendência do transporte marítimo. Mesmo sendo poucos, essa preocupação ficou registada durante o período de consulta pública apenas para ser ignorada. A obra tinha de avançar.
Recordo-me de na altura Jaime Vieira dos Santos, então presidente da comunidade portuária e um acérrimo defensor desta expansão, afirmar que seria imprescindível que navios maiores pudessem aportar em Leixões, no entanto, hoje afirma que “outra grande modificação do Mercado ocorre no Transporte Marítimo pela utilização de navios panamax, ou mesmo sub-panamax, em viagens oceânicas, ligando dois quaisquer portos localizados em Continentes distintos.” E acrescenta: “Neste Novo Ciclo, o Tempo de Trânsito da movimentação das cargas está a sobrepor-se à Escala.”
Teria afinal essa minoria contestatária razão em relação à alteração do paradigma do shipping? O tempo responderá.
Uma coisa é certa, caso o projeto do Novo Terminal de Contentores não avance, os 184 milhões de euros gastos no projeto das acessibilidades marítimas – fruto de uma derrapagem de 54 milhões face à adjudicação inicial – terão servido para absolutamente nada exceto para provocar alterações irreversíveis a Matosinhos e ao Porto; e para sobrecarregar o Porto de Leixões com a despesa decorrente da mitigação dos seus efeitos.