Com cerca de 80% da população a viver no litoral e com o turismo como uma das principais atividades económicas, a relação do nosso país com a costa é incontornável. Portugal é um país com um clima temperado – meio ano de verão (leia-se, tempo convidativo para a prática balnear); e meio ano de mau tempo – facto que em matéria de vigilância balnear apresenta um desafio difícil de resolver: gerir recursos humanos com uma necessidade de meio-tempo. Por força dessa sazonalidade, a atividade de nadador-salvador nas praias é um trabalho precário, que depende em grande medida de jovens estudantes com disponibilidade para trabalhar entre três e seis meses, a quem se pede uma formação altamente especializada, para depois se oferecer baixos salários e uma carreira inexistente que todos os anos recomeça do zero.

Nos países de clima tropical existe uma afluência às praias constante durante todo o ano e consequentemente, uma necessidade constante de vigilância, e é por essa razão que encontramos nesses países os dispositivos de vigilância balnear mais amadurecidos e profissionalizados. No nosso país um sistema de vigilância permanente como no Brasil, Austrália, ou Hawaii não faz sentido quer do ponto de vista da necessidade, quer do ponto de vista de racionalidade económica, mas o que temos claramente que também não serve.

E então?

Vários municípios (Matosinhos foi pioneiro) responderam a este desafio implementando um sistema misto que se tem provado altamente eficiente e adequado: fora da época balnear garantem uma equipa de forma permanente em sistema dinâmico; e durante a época balnear, somam-se os nadadores-salvadores colocados nos postos de praia cobrindo uma área mais alargada.

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Em 2023, o Sistema de Salvamento Balnear (SSB) do município de Matosinhos, salvou 64 pessoas fora da época balnear; também o relatório de 2023 do Observatório do Afogamento da FEPONS indica que em praias marítimas registaram-se 23 óbitos – 8 durante a época balnear e 15 fora da época balnear – números impossíveis de ignorar e que atestam a inequívoca necessidade de prestar atenção às nossas praias o ano todo. Estes números seriam muito piores se as nossas praias não fossem permanentemente frequentadas por surfistas, que são verdadeiros heróis anónimos, responsáveis por centenas (milhares?) de salvamentos de norte a sul do país.

A implementação de equipas permanentes por parte dos municípios para além de garantir a vigilância o ano inteiro, aumentaria a qualidade de resposta durante a própria época balnear já que teria um corpo de operacionais experiente, que exercem a sua atividade de forma verdadeiramente profissional e ininterrupta. Não tenho dúvidas de que esta seria a decisão operacional – e política – mais adequada para responder às situações que se tem assistido nos últimos dias. Não se compreende como ano após ano se continua a gastar milhares de euros em operações de busca e recuperação de vítimas desaparecidas no mar, e que não se invista no que realmente faz a diferença, que previne afogamentos e que garante a segurança das praias: o nadador-salvador.

O afogamento é uma questão de saúde pública e uma das principais causas evitáveis de morte acidental, e está na altura de fazermos algo em relação a isso.