Mais um ano, mais um ranking das escolas, mais uma lista infindável de instituições organizada pelas médias nos exames. Em romaria, lá vamos nós consultar o lugar da escola onde estudamos para “ver como anda aquilo”.

Onde está a minha escola? 
Eu não fui diferente. Lá procurei o site, todo contente, para ver a posição onde estava a minha escola. Certamente que me iria encher o peito de orgulho.

Abri a página do Observador e desci, desci, desci… e continuei a descer à procura do raio da escola. Desci tanto, que dei por mim a pensar que, por aquele andar, iria encontrar petróleo de tanto que escavava à procura do nome. E desta forma lá continuei, até que finalmente lá a encontrei perdida em 400 e muitos, com uma média de 11 valores. E o orgulho passou a tristeza.

No fim, apenas uma pergunta ecoava na minha cabeça: “O que se passa com a minha escola?”

Ranking das Escolas Privadas vs. Escolas Públicas
No top 50, apenas 5 são públicas, sendo que a primeira aparece em 24º lugar, e com isto se percebe a disparidade das notas das escolas públicas versus privadas. Se visitarmos a página do Público, as diferenças são pequenas.

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É verdade que existe uma triagem em algumas escolas privadas, que escolhem os alunos com melhores notas, por culpa da pressão destes rankings das escolas. Não obstante, só isso não é desculpa, pois o fosso é demasiado grande.

No fim, fica claro que um ensino com melhores técnicas, mais recursos e profissionais mais motivados faz a diferença na qualidade. De facto, o problema não é da falta de qualidade dos profissionais, mas sim da capacidade de gestão das escolas.

Contexto Socioeconómico
Olhando para o fundo da tabela, vemos claramente que são escolas ligadas a zonas com contextos socioeconómicos difíceis. São das zonas carenciadas das grandes cidades (especialmente Lisboa), ilhas e interior profundo que saem as piores notas do ranking das escolas.

Claro que, felizmente, há ótimos exemplos. Há escolas de sítios menos privilegiados que estão em posições bastante boas. Infelizmente, são casos pouco comuns.

Elevador Social
Pondo um pouco de parte o ranking das escolas e pensando no ensino em si, há algo que me incomoda profundamente.

Hoje, fruto de gerações pouco informadas, vemos muitos casos de pais que acham que é pondo uma criança a jogar futebol que ela terá maiores probabilidades de sucesso. Esses mesmos pais acham que só ganhando a lotaria conseguirão subir na vida. Que infeliz pensamento este!

O elevador social, por excelência, dos países de referência, é a escola. Não é ser jogador de futebol, nem tampouco ser vedeta do Instagram ou euromilionário, é ser estudante!

É na escola que se devem ganhar as competências técnicas e comportamentais para se ter sucesso.

Conclusões
Pensando sobre este tema, fui tirando conclusões:

1.Começando pelo modelo de ensino em vigor, que primeiro deixa os vulneráveis à sorte de uma escola qualquer e depois dá aos que têm mais recursos o poder de escolha num privado tornando o sistema em algo perverso e que aumenta as desigualdades. Não deve ser um entrave ao sucesso de um filho o local de residência ou o contexto económico dos pais!
– Sendo público ou privado, os pais devem ter o direito a escolher o melhor estabelecimento para o seu filho.
O ensino público não tem de ser o parente pobre! Tem de concorrer com as mesmas armas e condições que o privado.
2.É necessário dar autonomia real às escolas.
– Uma escola autónoma que não dependa do poder central e que concorra realmente com o privado.
3.Se criarmos concorrência real entre escolas, em sítios onde há várias escolas, teremos as escolas a quererem contratar os melhores professores, pagando melhores salários e oferecendo melhores condições. Só com uma real meritocracia e concorrência entre escolas se valorizará a carreira do professor. A escola pública ter a capacidade de atrair profissionais da escola privada e vice-versa, permitirá melhores condições de ensino, melhores salários e, consequentemente, formará melhores alunos.
– O sistema socialista do salário igual para todos é injusto e não motiva.
4.Num outro ângulo, porque não estamos a aprender com as escolas que tiveram sucesso em contextos mais desfavoráveis? Faz sentido que percebamos o que está bem feito e implementar noutras escolas em situação similar.
5.Dentro de 10 anos, não teremos ⅔ dos professores. É uma classe envelhecida, em que os jovens não querem seguir a profissão.
– O paradigma tem de mudar para atrair novamente os mais jovens.
Isto tem de ser feito já; quanto mais tarde a mudança for feita, mais cara ficará!
6.Temos de dar provas às pessoas de que o ensino é a melhor forma de subir na sociedade. Para isto, não basta formar, é preciso recompensar, em Portugal, quem se forma…

Em suma, ou fazemos reformas profundas no ensino, ou vamos acabar por colocar uma placa no elevador social a dizer “Elevador avariado, por favor use o do país vizinho”.

A escolha é nossa…