Na segunda quinzena de novembro, vivemos duas datas com fundamento religioso, completamente antagónicas: a Red Week (Semana Vermelha) e a Black Friday (Sexta-feira Negra).

A primeira efeméride, Red Week, tem como objetivo «ajudar a combater a indiferença face aos cristãos perseguidos» e é promovida pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), iluminando de vermelho vários monumentos nacionais e estrangeiros. Este vermelho lembra o sangue derramado por tantos cristãos em todo o mundo e que são pura e simplesmente ignorados pelos media. Ano após ano, a AIS publica o Relatório sobre a Perseguição e intolerância religiosa, não merecendo a atenção que o facto merece. Milhares são assassinados e quase ninguém sabe. Mas, todos sabem, se um cetáceo der à costa, morto de causas naturais ou não.

São milhares os cristãos que são perseguidos, assassinados e silenciados, todos os anos, e em todos os continentes. Os casos mais flagrantes verificam-se na Nicarágua, Nigéria, Moçambique, Coreia do Norte, nos países islâmicos, entre outros… Ninguém fala deles, mas a sua morte ou sofrimento não é em vão. Já dizia Tertuliano, nos séculos II e III d.C, que «O sangue dos mártires é a semente de novos cristãos». Sim, cada vez que um cristão morre por causa da sua fé, o seu testemunho ilumina muitos outros a seguirem e a assumiram a sua coragem.

Por seu lado, a Black Friday, sexta-feira negra, que nasceu para escoar os stocks das lojas, depois do feriado do Dia de Ação de Graças, e abrir a época natalícia, está reduzida ao consumismo e ao oportunismo daqueles que se aproveitam da ingenuidade dos que, sem sentido crítico, correm atrás dos descontos e das pechinchas, muitas vezes enganadoras.

Contudo, este feriado, o Dia de Ação de Graças, comemorado sobretudo nos países anglo-saxónicos, na última quinta-feira do mês de novembro, e quem tem na sua génese no ato de agradecer a Deus as colheitas que permitirão enfrentar a dureza do inverno, fica para segundo plano, pois o que parece interessar é o dia sexta-feira negra e não a quinta-feira da gratidão.

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Entre as cores rubro-negra, fica o sentido crítico da razão humana, ofuscado pela indiferença face ao sangue derramado e face àqueles que padecem da fome e da falta de recursos essenciais à vida.

Que a nossa razão se incomode com a vida dos seres humanos que não têm liberdade religiosa e que são violentados e mortos, em vez de nos preocuparmos com o não consumo de carne às segundas-feiras. Por sinal, os cristãos já são convidados pela sua fé e tradição a não comer carne em todas as sextas-feiras do ano.

Que o vermelho que ilumina e iluminará todos os anos os nossos monumentos, nos alerte para tantos e tantos que morrem porque acreditam num Deus diferente da maioria ou porque defendem os direitos, liberdades e garantias de todas as pessoas.

Vivamos em verdadeiro espírito de ação de graças (eucarístico, em grego), agradecendo aquilo que nos é dado e que deve ser partilhado por todos. Tenhamos um coração grato e generoso. Este coração eucarístico nasce em cada Eucaristia dominical, que recorda a Quinta-feira Santa, onde Cristo partilhou o pão com os seus discípulos e derramou o seu sangue, na sexta-feira seguinte.

Se outros calam, falemos nós…